CAPITULO 13

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** Capítulo sem correção ortográfica **

Cora

— As roupas serviram bem. — meu pai diz animado, dois dias depois que Jane nos deu a ideia de pegarmos algumas roupas de Tobias para o rapaz.
— Ah é? Que bom. — digo fingindo não me importar.
— Na verdade ficaram ótimas, acho que ele tem o mesmo tamanho que Tobias.
— Uhum. — penso em dizer que ele é maior, mais forte e que suas pernas são mais longas, mas me limito a responder só isso.
— Ele ficou tão feliz, no começo pareceu um pouco assustado, mas feliz, agradeceu e eu poderia jurar que ele até ficou emocionado.
Sinto um burburinho em meu estomago ao me lembrar do dia em que levei comida para ele pela primeira vez, a expressão em seus olhos diferentes é algo que jamais vou esquecer.
— Ele parece alguém que não lida bem com presentes, deve ter tido uma vida difícil, pobrezinho.
Olho para meu pai sem acreditar no que ele está dizendo, não é surpresa que ele se afeiçoou ao rapaz desde a primeira vez que o viu, mas me preocupo com a ligação que eles tem, todas as noites eles passam horas em silêncio, juntos apenas desfrutando da presença um do outro enquanto meu pai ouve suas músicas. Isso é ruim porque um dia ele irá embora e não vou suportar ver meu pai sofrer mais uma vez.
Eu estou fazendo exatamente o contrário, estou evitando olhar para o armazém desde aquela noite, não gostei dos sentimentos que o interesse de Jane por aquele garoto despertou em mim e decidi que o melhor a fazer seria me afastar ainda mais.
E é o que venho fazendo.
— Você tinha que ter visto o olhar dele. — ele continua.
É difícil fingir que ele existe quando meu pai me lembra o quanto ele é perfeito a cada segundo do dia.
— Que seja, o importante é que ele está cada dia melhor e logo poderá ir embora.
Começo a recolher os pratos enquanto ignoro o olhar do meu pai, tenho medo desse olhar porque sei que ele está prestes a dizer algo que eu não vou gostar.
— Cora. — ele me chama e paro no meio do caminho entre a mesa e a pia para olhar para ele. — Estive pensando.
Ai meu Deus...
— Pai... — o repreendo antes mesmo dele abrir a boca, mesmo sabendo que será em vão.
— Estamos precisando de ajuda, a fazenda é grande demais para um velho como eu e você não passou quatro anos da sua vida estudando para viver sua vida plantando e colhendo debaixo do sol e da chuva.
— Eu fiz isso a minha vida inteira pai, posso muito bem continuar, só preciso organizar meus horários.
— Ele é um bom rapaz, forte, jovem e trabalhador, eu tenho certeza que seria de grande ajuda.
— O senhor não o conhece.
— Conhecer? Não conhecemos ninguém verdadeiramente.
— Papai...
— Eu ainda não falei com ele, mas hoje eu estive pensando nisso e a cada hora que passa eu acho que seria uma boa ideia.
— Eu não sei... não podemos pagar por seus serviços e duvido que ele queira trabalhar de graça.
— Podemos fazer uma experiencia.
— Uma experiencia? Uma semana?
— Um mês.
— Pai..
— O que? Ele já está aqui a tanto tempo, que mal poderia haver ficar mais um pouco?
Ele sorri e olho para o armazém sentindo um súbito mal-estar me atingir quando constato que não adianta argumentar, ele já tomou a decisão, apenas está me comunicando.
— Tudo bem, faça o que o senhor achar melhor. — e que Deus tenha misericórdia da minha vida porque ela vai se tornar um inferno agora que ele passará mais tempo fora daquele armazém.
Termino de colocar a louça na pia e finjo uma dor de cabeça que no fundo acho que está realmente começando. Só não sei quando ela vai terminar.
***
Estou me preparando para dormir quando ouço um barulho horrível vindo de lá de fora, a princípio acredito ser um trovão, uma tempestade de verão começou logo que terminamos de jantar e o céu parece prestes a rachar ao meio com tantos raios, mas logo em seguida me lembro do rapaz sozinho naquele lugar sem segurança em uma noite como essa e abro a porta no instante em que meu pai passa por mim correndo escada a baixo em direção ao armazém, meu coração bate apressado e estou tão assustada que nem me dou conta que não calcei um sapato até que as pedrinhas do chão pinicam a sola do meu pé.
— Pai o que houve? — pergunto quando me aproximo ao seu lado e olhamos para o armazém.
— Eu ainda não sei. Ouvi um barulho vindo de lá. — ele aponta para o lugar onde nosso hóspede dorme.
Entramos apressados a procura do rapaz, como sempre ele não está na cama e nem mesmo no canto no fundo do armazém, subo as escadas correndo e o encontro em cima de uma escada tentando fechar um buraco no teto. Há inúmeras tábuas de madeira no chão em volta dele e imagino que o barulho tenha sido exatamente o momento em que elas se soltaram do teto e caíram.
— Pai ele está aqui em cima. — grito chamando a sua atenção, ele se desequilibra e dou um passo a frente quando ele se apoia em uma viga. Meu pai chega segundos depois com a mão no peito e respirando com dificuldade.
— Graças a Deus você está bem.
O rapaz olha para nós sem compreender o que estamos fazendo aqui a essa hora. Ele está todo molhado e os curativos que eu ainda insisto em fazer em suas mãos, estão em um estado tão ruim que tenho certeza que seria melhor se ele estivesse sem eles.
— Você quer fazer o favor de descer dai? — peço irritada por ele estar tão alto sem proteção nenhuma nesse armazém sozinho, com as mãos machucadas. E se ele caísse dessa escada?
Ele faz o que mando e só quando ele termina de descer as escadas, seguro e saudável é que eu finalmente consigo respirar.
— Obrigada. — digo me sentindo melhor ao vê-lo no chão.
— Ouvimos um barulho e achei que você poderia ter se machucado. — meu pai explica a nossa súbita aparição para ele.
O rapaz olha para meu pai e para mim antes de abaixar a cabeça como sempre faz e me assusto com o quanto me preocupei com a sua segurança. Mesmo evitando vê-lo todos esses dias, bastou a ideia de que algo ruim pudesse acontecer a ele que eu perdi a cabeça. Não pensei em nada, apenas pulei da cama e corri até ele sem sequer pensar no que estava fazendo.
— Eu preciso ir pai. — digo enquanto desço as escadas tentando manter distância dele e de tudo o que ele faz comigo. Não posso aceitar que ele tenha tanto poder sobre mim, mesmo porque nunca trocamos mais do que meia dúzia de palavras desde que ele chegou.
É insano demais.
Saio do galpão sentindo a chuva encharcar meu corpo e as pedrinhas machucarem meus pés, estou nervosa e aliviada ao mesmo tempo, uma mistura estranha que me faz pensar sobre o que isso tudo significa para mim, primeiro o ciúmes por causa da minha amiga e agora esse medo desesperador de que ele estivesse machucado. Estou tão imersa em meus pensamentos que não vejo uma poça de lama e escorrego caindo de um jeito estranho no chão, meu quadril bate com força e minha perna esquerda dobra em um ângulo esquisito que me faz gritar de dor.
— Cora! — meu pai grita ao me ver caída e não consigo responder, nem ao menos respirar, o ar entra com dificuldade em meus pulmões, a chuva batendo em meu rosto enquanto sinto uma dor absurda em minhas costas.
— Filha, meu Deus o que houve? — meu pai se abaixa na minha frente e seu corpo me protege da chuva, ele coloca as mãos em meu rosto, sua expressão é de pânico e começo a me apavorar.
— Eu... eu não consigo me mexer. — sussurro porque não tenho forças para falar e ele se inclina para me ouvir.
— Onde dói filha, diz para mim.
— Tudo, as costas e minha perna.
As lágrimas caem por meu rosto, misturando-se a chuva que parece se enfurecer ainda mais, a dor é tanta que sinto que estou perdendo os sentidos, apenas o toque da mão do meu pai em meu rosto me mantém acordada.
— Preciso saber se você consegue mexer o pescoço? — ele pergunta e movo a cabeça de um lado para o outro para que ele veja que sim. — Ótimo, então vamos te tirar daqui.
Ele ergue o rosto e só então noto a presença silenciosa do rapaz ao seu lado, ele está encharcado, o rosto encoberto pelas mechas de cabelo coladas pela chuva, as mãos fechadas ao lado do corpo enquanto ele me olha caída desse jeito ridículo,  não consigo descrever a sua expressão mas sinto seu olhar em mim e tenho a sensação de que ele está preocupado, assustado.
Meu pai olha para ele e por um segundo eu imagino que estão tendo algum tipo de diálogo em silencio ou talvez eu tenha apagado por alguns instantes, porque ele move a cabeça como se estivesse concordando com algo, meu pai se afasta e ele se coloca ao meu lado, seu enorme corpo agora me protegendo da chuva.
— Eu vou te tirar daqui. — ele diz e meu coração dispara no peito, mesmo que eu esteja prestes a desmaiar de tanta dor.
Olho para meu pai esperando que ele se aproxime para ajuda-lo, mas ele se mantém afastado observando-o se inclinar sobre mim.
— Com licença. Eu preciso... tocá-la. — ele pede antes de colocar um braço em volta do meu pescoço aproximando meu rosto do seu. — Eu vou te mover. Se doer me diga.
Confirmo com a cabeça incapaz de falar quando a dor aumenta. Ele mantém seus olhos fixos nos meus como se não existisse mais nada além de nós dois. Um raio ilumina o céu e por alguns segundos consigo vê-los, um verde e um azul, ambos carregados de preocupação e tanta intensidade que estremeço em seus braços.
— Você está falando. — digo tentando me manter consciente.
— É, eu estou.
— Isso é bom. — sorrio e gemo de dor em seguida.

Tento conter um grito quando ele me ergue, mordo o lábio e seguro em seu braço forte, quando ele consegue me colocar sentada, ainda com seus braços em volta de mim e apoiando todo o meu peso em seu torax. Olho para minha perna esquerda e me desespero quando vejo que ela está em uma posição pior do que eu imaginava.
— Ah meu Deus, minha perna. — tento respirar mas não consigo.
— Filha se acalme, estamos aqui com você. — meu pai se aproxima segurando a minha mão.
— Não olhe para ela, olhe para mim. — o rapaz pede e desvio meu rosto em sua direção fazendo o que ele pede e apoio meu rosto no peito dele, sinto seu corpo enrijecer e imagino que a cena não seja muito agradável.
Meu pai mexe na minha perna, a dor é tanta que grito com os lábios colados na camisa molhada do rapaz. Ele não se move, apenas permite que eu o agarre com toda a minha força e aguarda até que eu me acalme.
— Agora vou te levantar, tudo bem? — ele pergunta quando paro de gritar, seus lábios tão próximos ao meu ouvido que posso sentir o calor da sua respiração em contraste com a chuva. — Olhe para mim.
Ele se posiciona ao meu lado novamente, uma mão em minha cintura e outra embaixo dos meus joelhos, posso sentir as faixas em suas mãos machucadas tocando a minha pele e  por um instante acho que ele não vai conseguir me carregar, ele ainda está magro e fraco, mas então logo estou sendo erguida no ar.
Envolvo meus braços em seu pescoço e deito minha cabeça em seu peito, fecho os olhos tentando suportar a dor, a chuva cai sobre nós e me concentro na sua respiração pesada enquanto ele segue meu pai me carregando consigo até minha casa.
— Por aqui venha. — meu pai o guia indicando o caminho até o meu quarto, seus dedos firmes apertam minha carne garantindo que eu esteja segura em seus braços. Sua respiração pesada e rítmica me acalma e seu cheiro é algo que nunca vou esquecer, é como o cheiro da terra molhada, cheiro de casa.
Quando chegamos ao meu quarto ele hesita por um instante até que meu pai entre e aponte para minha cama, a dor aumenta a cada segundo e estou quase chorando, ele parece sentir e se inclina para sussurrar em meu ouvido.
— Respire Cora, você não está respirando.
Ele diz meu nome e faço exatamente o contrário do que ele pede, eu paro de respirar, por um instante, enquanto ele me deposita na cama lentamente como se eu não pesasse absolutamente nada, eu simplesmente não consigo respirar.
— Vou tentar ligar para a emergência. — meu pai diz enquanto sai do quarto deixando-nos sozinhos.
O rapaz se inclina sobre mim, alheio ao que meu pai diz, retira algumas mechas de cabelo do meu rosto, e nesse instante enquanto ele cuida de mim como se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo me perco na profundidade do seu olhar e pela primeira vez desde que acordou ele não desvia o olhar do meu.
— Você está segura agora. — ele diz, sua mão machucada agora segurando a minha. A dor aumenta, sinto como se minha perna estivesse triplicando de tamanho, um latejar constante me faz perder o ar e aperto a sua mão para não gritar.
— Vai ficar tudo bem. — ele diz para me acalmar, mas não sinto como se fosse ficar bem. Ele se aproxima um pouco mais, seu corpo se colando ao meu enquanto ele encobre a visão da minha perna destruída. — Apenas olhe para mim, só para mim. — faço o que ele pede e observo os detalhes do seu rosto, as suaves sardas que se espalham por sua pele bronzeada, seus olhos tão estranhos e belos os cílios longos e negros, as sobrancelhas grossas, a barba suave e clara, os cabelos pingando em suas bochechas.
A coisa mais linda que já vi na minha vida.
— Eu não sei o seu nome. — sussurro sentindo o meu coração disparar no peito enquanto tento não me concentrar na dor em minha perna e na sua mão segurando a minha.
Ele baixa os olhos por um instante e acredito que ele não vá falar, então ele volta a me olhar, um leve sorriso surgindo em seus lábios, tão discreto que só posso constatar quando seus olhos se enrugam brevemente.
— Eu me chamo Ezra.
Ele diz, com sua voz grave e juvenil, e sorrio de volta enquanto repito.
— Ezra... —  repito sentindo pela primeira vez em minha vida o sabor do seu nome em minha boca.
Então esse é o nome da minha perdição. Ezra.

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Como prometido, tá aí o cap extra de 5 mil leituras e caramba! Como estamos indo bem hein? Ver o número de leituras subindo só me enche de alegria por saber que Ezra e Cora estão conquistando tantos novos leitores diariamente.

Acho que  chegamos ao capítulo que todos estávamos esperando, Cora e Ezra finalmente estão tendo a sonhada conversa... pena que as circunstâncias não foram tão boas assim.

Acho que chegou a hora do mozão retribuir tudo o que a Cora está fazendo por ele. 

Não deixem de curtir e comentar,  aos novos leitores eu os convido a me seguir no Facebook e no Instagram.

Cinthia Freire autora ❤

Beijos e até amanhã!!!!

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