CAPÍTULO 6

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** Capítulo sem correção ortográfica **

Cora

O rapaz se levanta bruscamente, como se tivesse levado um choque e finalmente retornado a vida. Uma onda de felicidade me inunda fazendo com que meus olhos se umedeçam e meu coração vibre no  peito, ele está vivo e aparentemente bem e foram as minhas mãos que fizeram isso por ele.
Observo seus olhos, assustados, olhando para todos os lados como se estivesse tentando entender onde está, até que eles se prendem a mim e me sinto encantada com a beleza deles, preciso conter a ânsia de me aproximar, de tocá-lo e ter certeza de que são reais, mas sou incapaz de deixar de encara-lo como se ele fosse algo inexistente.
Nunca vi nada tão belo e selvagem em toda a minha vida.
— Heterocromia... — sussurro mais para mim mesma, ele inclina a cabeça como um animal  acuado ao ouvir o som da minha voz. — Seus olhos. — digo tentando explicar, mas por alguma razão sinto como se não fosse capaz de falar. — Eles são...
O rapaz se encolhe afastando-se de mim e desvia o olhar, como se sua linda, exótica e rara condição genética fosse algo do qual ele deveria se envergonhar.
Heterocromia é algo que sempre me encantou, rara entre humanos, principalmente na versão em que se apresenta nos olhos dele, mas extremamente comuns em animais, é algo tão belo e desconcertante que não consigo olhar por muito tempo sem ser inconveniente.
— D-desculpe eu não devia... é que nunca vi alguém com heterocromia antes e... — tento falar, mas não consigo, estou hipnotizada por seus olhos, tão claros que parecem diamantes, um verde e um azul, o que se destaca ainda mais com a tonalidade escura da sua pele maltratada pelo sol. Ele então olha para mim, como se pudesse enxergar a minha alma, seus intensos olhos vagueiam por meu rosto, tentando encontrar algum reconhecimento eu imagino, seu peito sobe com força como se respirar fosse algo difícil demais e noto que ele está apavorado.
— Está tudo bem. — digo tentando acalma-lo. — Na verdade eu... — um sorriso emocionado escapa dos meus lábios. — Eu nem acredito que você está acordado, eu... — passo as mãos nos cabelos imaginando o caos em que me encontro nesse momento, não é de se imaginar que ele esteja assustado, não devo ser das mais belas visões.
Já ele...
— Meu pai o encontrou na estrada desacordado e machucado. Ele te trouxe para cá e estamos cuidando dos seus ferimentos.
Ele continua olhando para mim como se não compreendesse o que digo, seus olhos caem para nossas mãos que ainda se mantém unidas e me afasto soltando-a.
— E-eu estou cuidando dos seus ferimentos. — ergo o tubo de pomada para que veja o que estou fazendo, mas ele continua me olhando. — Você está seguro aqui, não precisa ter medo. — começo a me justificar enquanto ele olha para seus machucados, girando a mão de um lado para o outro, como se não soubesse o que houve com ela.
— Você está me ouvindo? — pergunto quando ele volta a me olhar como se eu fosse uma assassina em série munida de uma faca. — Você consegue me ouvir?
Ele não diz nada, apenas mantém seus belos olhos sobre mim,  me levanto achando melhor dar a ele um pouco mais de espaço. O rapaz olha para seu corpo, e ao notar que está sem camisa, puxa o lençol para cobrir-se.
— Eu sou a Cora. — me apresento mesmo que ele ainda não tenha sequer aberto a boca. — Meu pai é o Neto, ele está lá dentro. — aponto para a fazenda, mas ele continua olhando para seus machucados, mexendo seus pés enfaixados enquanto falo. — As queimaduras estavam horríveis e você estava desidratado, quase o perdemos, mas agora você está melhorando graças aos medicamentos que a...
O rapaz finalmente nota o acesso em seu braço e antes que eu possa impedi-lo, ele o puxa arrancando-o de seu braço.
— Não faça isso! — grito, mas não a tempo de evitar o estrago, ele geme de dor quando o sangue começa a escorrer de seu braço e joga o acesso longe, como se estivesse se livrando de uma cobra venenosa. — Era apenas soro. — explico enquanto puxo um pacote de gaze e coloco em seu braço. — Droga! Olha o que você fez.
Volto a me aproximar dele, abaixando-me para pressionar o corte enquanto pego um band aid. Ele parece horrorizado e se afasta de mim, como um animal selvagem e acuado.
É exatamente isso que ele parece, um animal, um lindo e exótico animal machucado, perdido e assustado.
— Você fala minha língua? — pergunto enquanto volto a tocar seu braço lentamente limpando o sangue que escorre. Cubro a bagunça que ele fez acrescentando mais um curativo em seu corpo. Deus, ele tem tantos que já não sou capaz de contar. 
— O que diabos está acontecendo aqui? Cora?
Meu pai entra apressado na garagem os olhos inchados de quem acabou de pular da cama, a confusão em seu rosto enquanto ele tenta fechar os botões da camisa, até que ele olha para a cama e vê o rapaz acordado.
— Esse é Neto,  meu pai, aquele que te trouxe. — digo ao rapaz quando ele se assusta com a presença do meu pai.
— Ah meu Deus!  — Os olhos do meu pai caem para a mancha de sangue no braço do rapaz e no lençol. — O que houve aqui? — ele pergunta ainda parado no lugar olhando para nós.
— Ele acordou, se assustou e arrancou o acesso, acabou se machucando. — explico porque o rapaz ainda não abriu a boca.
— Você está bem filha? — meu pai me pergunta se aproximando e me analisando, confirmo com a cabeça. — E você filho, está bem?
O rapaz arregala os olhos e olha para meu pai, em seguida para mim. Ele ainda está febril e fraco e isso deve estar ajudando a deixá-lo nesse estado de choque e confusão.
Só Deus sabe o que esse rapaz passou, se foi assaltado ou se despencou de uma montanha. O fato é que seja lá o que for, ele não está bem e não me refiro apenas ao seu corpo ele está nitidamente abalado psicologicamente.
Meu pai se abaixa para ficar na altura dele, o rapaz segura o lençol firmemente em volta do pescoço e me recordo que ele ainda está completamente nu já que estávamos tão preocupados em controlar a sua febre que sequer nos lembramos de lhe arrumar roupas.
— Não se preocupe filho, nós somos amigos. —  meu pai diz com uma voz doce, estendendo o braço e tocando a mão do rapaz que dessa vez, não recua. — Estamos aqui para ajudá-lo.
— Você precisa de algo? — meu pai pergunta, mas ele ainda não responde e começo a acreditar que ele não nos compreende, talvez seja surdo?
O rapaz volta a olhar para mim, e começo a me sentir um pouco desconfortável com a forma com que ele parece me analisar, como se eu estivesse incomodando-o de alguma forma. Meu pai também percebe e balança a cabeça levemente me pedindo para sair.
— E-eu eu vou. — aponto para a casa enquanto começo a caminhar. — Eu...se precisar de mim para alguma coisa, só me chamar.
— Pode deixar filha. — meu pai me lança um sorriso carinhoso.
Uma onda de decepção me atinge e pisco algumas vezes espantando as lágrimas que querem cair, estar ao lado dele todos esses dias com certeza mexeu comigo, mas ver a forma como ele me olhou depois de tudo que fiz por ele, me machucou de uma forma que estranha e só então noto o quanto me dediquei a esse estranho, o quanto estive ansiosa e tensa, rezando e cuidando dele.
As vezes mesmo sem querer, criamos expectativas e não nos damos contas do quanto ansiamos para que sejam alcançadas até que elas não são. E isso é uma grande merda.
Olho mais uma vez para o rapaz, seus olhos dispares me acompanham enquanto saio e sinto seu olhar me analisando, mesmo quando já estou de costas, caminho até nossa casa sentindo meu coração acelerado no peito. Entro e fecho a porta, me apoiando nela, finalmente sinto meu corpo inteiro tremer em seguida as lágrimas que segurei até então, despencam de meus olhos e choro compulsivamente, mesmo que eu não faça ideia do motivo.
Talvez seja apenas o alívio de finalmente vê-lo acordado e bem.
Eu consegui, eu salvei uma vida.

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Não é incrível como a conexão entre as pessoas não depende de absolutamente nenhum estímulo específico?
Sem saber, Cora se apegou à seu paciente, canalizando toda a sua energia para a recuperação de uma pessoa que ela sequer sabe quem é.
Isso é algo que sempre me emociona, ver uma pessoa as vezes arriscar a sua própria vida para salvar alguém que nunca viu, é o que nos torna especiais...
Cora é muito especial, meio desconfiada e muito durona, mas acho que esse garoto vai arrumar um jeitinho de furar esse muro que ela construiu,  vocês não acham?
Ou será que vai ser o contrário?
Quem será esse rapaz? E porque será que ele a deixou tão agitada?
Só eu estou ansiosa para ver essas perguntas respondidas?

Pessoal não deixem de curtir e comentar, estou amando a nossa interação e Ezra já está quase com 2k de leituras e isso é UAU!
Obrigada! Obrigada e muito obrigada  a todas vocês.

Para quem ainda é novo por aqui, não deixem de me seguir no Instagram,  estou sempre postando muitas novidades e quotes sobre meus livros

@cinthiafreireautora

Sejam todos bem vindos e até sexta!

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