Amizade

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Dois meses.

60 eram os dias que haviam se passado desde o noivado. 60 era o número de dias fingindo sorrisos para todas as felicitações pelo noivado vindo de pessoas diferentes da faculdade. 60 eram os "bom dia", "boa tarde" e "boa noite" que antecediam o "meu lindo noivo" em mensagens de celular, vindos de Dahyun.

Mas não chegava a 30 o número de dias que viu Taehyung. Não que estivesse contando – apesar de estar – mas queria entender porque sua vida era tão trágica. Mal trocavam mensagens de celular, já que Jungkook se sentia travado e sem assunto. Era como se tivessem voltado à estaca zero.

Zero mesmo.

As visitas noturnas eram esporádicas e grande parte das vezes, tristes. Acabam chorando durante alguns beijos que trocavam, fora que não conseguiam conversar direito. Dos menos de 30 dias, tentaram transar duas vezes, mas não conseguiriam porque Taehyung brochou.

Jungkook se preocupava com isso, não pelo sexo em si. O cunhado parecia mais fechado, no entanto, ele próprio não estava em diferente situação. Eram dois estranhos machucados por uma burrada que só se estendia e piorava.

Até quis terminar com o noivado uma semana depois, mas não conseguiu falar nada quando o pai lhe deu um relógio que havia sido do seu avô. O pai contava que o relógio era de família e era passado para o primeiro herdeiro que se casasse.

O próprio pai não ganhou o relógio, pois não se casou. Mas ganhou-o de herança, com o falecimento de seu velho e por ser filho único. O relógio de bolso era antigo, bonito e não funcionava mais. Era um objeto inútil que marcava 10:45 para todo o sempre, como se o tempo tivesse parado. No fim, Jungkook aceitou o presente, pois lhe fez sentido. Sua vida estava parada também.

Tentou terminar uma segunda vez e falhou miseravelmente novamente. Desta vez porque Dahyun surgiu feliz dizendo que havia marcado de ir experimentar alguns "bem-casados" com duas amigas. Ela estava tão empolgada que a pouca coragem que tinha se esvaiu como fumaça.

A culpa da terceira tentativa frustrada foi sua mesma. Ou melhor, da sua ansiedade que desceu para o intestino, soltando-o no mesmo instante que proferiu as palavras "Precisamos conversar". Até aquele momento a conversa ainda não havia acontecido.

Era bombardeado por seus familiares por assuntos relacionados ao casamento. Junghyun lhe perguntava sempre que estavam sozinhos se ele daria seguimento ao casamento, já que havia lhe segredado que não amava Dahyun. Sentia que o irmão o pressionava para terminar e foi assim que Jungkook descobriu que não conseguia funcionar sobre pressão, ficando cada vez mais enrolado nos próprios pensamentos.

A mãe era outra que parecia bastante desgostosa com a ideia do casório. Tentava fugir da mãe mais do que fugia de Dahyun. A genitora sempre vinha com uns papos estranhos sobre como a comunidade gay crescia na Coréia, ou sobre a taxa crescente de divórcios.

Jimin parecia fazer piada da situação, dizendo para que ele evitasse se reproduzir, para não disseminar o gene da família. A tia, Sunhye, continuava com aquela feição indecifrável, mas pelo menos ela não enchia o saco, nem para um lado e nem para o outro.

A verdade é que nessa história sentia-se sozinho. Não tinha ninguém para conversar de maneira tranquila, expor o que sente e o que pensa. Falar de seus medos, suas raivas e seus desejos de vingança.

Jimin não se importava.

Sunhye parecia já ter morrido.

Junghyun o pressionava a terminar.

Dahyun lhe cobrava amor.

Soonyoung lhe presenteava com artigos familiares.

Jiwoo lhe soltava indiretas.

HimOnde histórias criam vida. Descubra agora