A conclusão que pude chegar, agora que ela evitava meus olhos e cruzava os braços, o rosto ficando um pouco corado, é que eu provavelmente assumira tudo de forma errada. Por ela ter sido gentil comigo, me ajudado, se revelado como minha fã, acredito que eu considerara que as coisas iriam bem. No entanto, o caso aparentava ser justamente o contrário; era bem provável que ela na verdade me odiasse e não me quisesse ali. Afinal de contas, os sinais eram claros, não?

A forma que ela saíra no último dia que nos encontramos. Ela não me notificar nada, nem me responder por semanas. Ela não ter expressado nada além de fúria e irritação pela minha visita inesperada. O peso do seu corpo sendo trocado de pé em pé enquanto estava na minha frente, obviamente se mostrando desconfortável por minha presença.

Talvez eu tivesse me deixado levar pela Lora que criei em minha cabeça no tempo que não nos vimos. Como se, usando uma pessoa real, eu tivesse desenvolvido uma personagem e adaptado os pontos que eu não podia preencher com fatos da realidade com uma ficção que vinha da minha cabeça, e de lá apenas. A Lora que eu me lembrava era muito diferente da Lora na minha frente, assertiva, séria, com o rosto bronzeado e as novas sardas despontando em seu rosto.

O choque desse momento de realização foi quebrado por Fausto, vindo de um dos lados da casa, passando apressado por nós.

— Esqueci que ia acompanhar a mãe ao médico, volto mais tarde Lora! — e deu um aceno, correndo em direção ao portão.

Lora apenas acenou em retorno, e eu não soube o que fazer. O clima entre nós estava pesado e eu gostaria de tempo para pensar sobre as realizações que tivera, mas ao mesmo tempo me parecia errado simplesmente me despedir dela naquele ponto e fingir que nada daquilo acontecera.

Provavelmente o que eu estava buscando esse tempo todo era redenção.

— Bem... se Fausto não está aqui, tenho que ir ajudar meu pai — Lora disse, finalmente olhando para mim. Uma luz se acendeu em minha cabeça.

— Vocês gostariam de ajuda? Eu não tenho muito o que fazer por aqui — falei, mais uma vez colocando as mãos no bolso. Ela abriu um pequeno sorriso, que não era doce nem gentil; ela me olhava de forma bastante irônica, e até eu conseguia sentir o desdém que emanava de sua expressão.

— Tem certeza que dá conta do ritmo, Woodham? As coisas não são fáceis como na cidade — ela retrucou, cruzando as mãos atrás das costas. — E achei que tinha vindo aqui escrever ou algo assim.

— Bloqueio criativo — resmunguei. Ela riu.

— Está certo então. Vou te passar o que precisa ser feito. Pode me seguir.

Ela passou por mim sem me olhar outra vez, voltando a entrar na casa.

A lista de tarefas que Lora me passou parecia interminável. Eu não sabia se ela estava fazendo aquilo por vingança, para me manter ocupado e consequentemente longe dela, ou se era simplesmente o que precisava ser feito em um criadouro de gansos. Fiquei me perguntando por que Fausto gostava de trabalhar ali, e me lembrando que na mesa do almoço ele comentara como Lora mostrava seu lado sádico em relação aos ajudantes do lugar.

Primeiro, levei o resto de comida para os gansos que estavam em suas pequenas casinhas de madeira ao redor do lago. Depois, com Mason, varri a parte onde ficavam as chocadeiras. Em seguida, precisava ajudar a recolher mais pasto para o dia seguinte, e aquilo me rendeu boas horas sob o sol, com um chapéu de palha emprestado cobrindo meu rosto. Lora definitivamente estava certa sobre as coisas serem diferentes da cidade, mas não é como se aquilo fosse uma novidade para mim. Eu sabia que não estava mais lá, e faria o que me era pedido da forma correta. Apesar de ser um iniciante, as tarefas não eram complicadas e era apenas cansativo executá-las.

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⏰ Last updated: Jul 16, 2019 ⏰

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II - Onde Eu Quero Estar |hiatus|Where stories live. Discover now