— Você tem dez segundos para se explicar antes que eu te meta um chute, Vincent — foi o que ela disse, e sob a pressão do tempo dado e seu tom agressivo, minha primeira reação foi, é claro, rebater de forma igualmente rude.
— Eu não me lembro de dever nenhuma explicação a você — disse, enquanto enfiava uma das mãos no bolso da calça.
Lora arregalou os olhos de leve, parecendo ainda mais irritada.
— O que você acha que está fazendo? Por que está aqui?
— Você por acaso é dona dessa terra inteira? — Perguntei, apontando para as montanhas e para a estrada que levava ao centro da cidade. Seu rosto pareceu corar enquanto me ouvia. — Eu não posso viajar e visitar cidades por aí?
— Mas se tinha tantas cidades por aí para visitar, por que vir justo aqui? — ela grunhiu entredentes. Dei de ombros.
— Você não tem um mandado de restrição contra mim, então não vejo por que está tão brava com a minha presença aqui — apesar de que provavelmente, por sua atitude, um mandado de restrição seria a primeira coisa que ela providenciaria depois do dito chute.
Ela fechou os olhos, e seus ombros subiram enquanto ela respirava fundo. Sem a ameaça de seu olhar furioso, observei-a, notando como seu rosto estava mais bronzeado e umas poucas sardas escuras começavam a despontar ao redor de seu nariz reto e um pouco arrebitado. Seus cílios eram naturalmente compridos, e o rosto estava emoldurado por fios repicados que escapavam do rabo de cavalo que ela usava. O rabo de cavalo era a única semelhança com a imagem que eu criara em minha cabeça quando Tyra Elisa dissera que Lora tinha voltado para o interior; ela não usava um chapéu de palha, jardineira jeans e blusa xadrez, mas sim uma saia florida longa, com uma blusa lisa laranja.
A distração com seu visual durou pouco, pois ela logo reabriu os olhos e voltou a me encarar. Eu me senti um pouco mal por retrucar de forma tão infantil e sarcástica, uma vez que ela estava certa em todos os seus questionamentos. Talvez eu quisesse me proteger dos ataques que ela tinha todo o direito de me dar.
Suspirei, um pouco derrotado.
— Eu fiquei incomodado com a forma que as coisas ficaram entre nós — decidi ser honesto, mas ela soltou uma breve risada pelo nariz.
— "Nós"? — arqueou as sobrancelhas.
— É, ué — cocei a parte de trás da minha cabeça, sem entender seu apontamento. — Talvez algo como um encerramento? Ou uma reconciliação? — Arrisquei.
Lora riu mais uma vez, mas não pude entender muito bem o que ela expressou com aquela risada.
— Boa sorte com isso.
Quando voltou a me olhar, percebi que ela não parecia mais irritada, porém havia uma frieza em seus olhos. Não tive mais o que falar disso e acabei chutando o chão de leve com a ponta do tênis, um pouco desconfortável.
— É tão ruim assim eu estar aqui? — perguntei, incerto de como prosseguir. É claro que eu esperava um confronto, mas também esperava que fosse possível encerrar as coisas entre nós da maneira certa, como Percy sugeriu. Ler o último capítulo desse livro ou algo do tipo. Mas não parecia que isso ia acontecer, e eu comecei a me questionar mais uma vez se essa teria sido a atitude certa a ser tomada. Talvez eu simplesmente devesse ter ido a um terapeuta e tomado alguns remédios para dormir melhor à noite. Como é que eu pude concordar com Percy que viajar até o interior atrás de uma mulher seria a resolução dos meus problemas?
Lora olhou ao redor da fazenda, respirando fundo mais uma vez.
— Agora você já está aqui, e o quarto já está alugado na pousada. Não tem o que fazer, como você disse não tenho controle sobre você, sobre onde você vai e o que você faz — ela respondeu, mas mais uma vez não pareceu revelar como se sentia de verdade. Com minha falta de habilidade de interagir com as pessoas e entender seus sentimentos além das palavras ditas, eu não conseguia notar o que poderia ser; os detalhes escapavam entre meus dedos, não eram captados pelos meus olhos nem pelo meu coração.
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II - Onde Eu Quero Estar |hiatus|
Romance[Parte II de "Quem Eu Quero Encontrar"] Vincent Woodham é um aclamado escritor de 28 anos. Ante a publicação do seu quarto romance, ele não deveria ter muitas preocupações. Superara a dificuldade em escrever um livro sob certas condições, mantivera...