CAPÍTULO 05

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Meu celular voltou a ter sinal quando pisei fora da rodoviária, subitamente começando a pipocar de notificações. Eu não o chequei imediatamente, primeiro olhando ao redor da pequena cidade que eu me encontrava. O sol já estava a pino, me fazendo agradecer pelo chapéu que cobria parte de meu rosto. As ruas pareciam bem limpas, e até que era um centro bastante movimentado para uma cidade com dez mil habitantes.

Não fora difícil descobrir qual era a cidade natal de Lora; eu jogara seu sobrenome na internet, pesquisando por gansos, lembrando-me do que Tyra Elisa havia me dito na festa da empresa. Supus que não houvesse tantos criadouros de gansos por perto, e voilá. Comprar uma passagem de ônibus e avisar a editora que eu sumiria do mapa por um tempo não fora complicado também. Tudo se encaixara absurdamente bem para que eu tirasse as minhas "férias" e resolvesse meu problema com Lora.

— Sr. Woodham? — uma voz me alcançou pela esquerda, e eu abaixei meus óculos de sol para enxergar melhor o homem um pouco curvado que se aproximava todo sorrisos.

— O senhor seria o Sr. Byrne?

— A seu dispor — ele sorriu, esticando a mão cheia de calos para que eu o cumprimentasse. Assim o fiz, educadamente, retribuindo brevemente seu sorriso.

O Sr. Byrne era dono de uma pousada suficientemente próxima do criadouro de gansos, que me pareceu o lugar adequado para alugar um quarto. Se eu fosse descoberto por Lora antes do previsto, eu poderia dizer que era tudo uma grande (e absurda) coincidência e que estava fazendo um retiro espiritual naquela cidade minúscula, para me concentrar e escrever o próximo livro. Eu até mesmo trouxera meu caderno de rascunhos e meu computador para encenar melhor a farsa.

Além do mais, como uma boa cidade pequena de dez mil habitantes sem nenhuma atração turística, só havia uma pousada e um hotel disponíveis para viajantes, e o hotel me parecera suspeito e inóspito, então não tivera muita escolha.

Apesar de obviamente não estarem preparados para turistas, o Sr. Byrne era bastante hospitaleiro e se ofereceu para me buscar na rodoviária, uma vez que os ônibus circulares eram complicados para os estranhos e os táxis eram aproveitadores da ignorância alheia. Enquanto ajustava minha mala na pequena caminhonete, ele cumprimentava uma ou outra pessoa que passava, parecendo conhecer toda a cidade, e reforçava sua opinião sobre os taxistas.

Ao partirmos, pedi licença para olhar meu celular, e li as notificações recebidas no grupo de mensagens que eu tinha com Percy, Ash e René, onde ocasionalmente nos mantínhamos atualizados dos pareceres uns dos outros. Ash e Percy na verdade eram incumbidos de não deixar o grupo às moscas, o que levavam com uma seriedade duvidável, uma vez que o primeiro nos atolava com fotos de seus cachorros e o outro mandava todo e qualquer acontecimento irrelevante em sua vida e nos cobrava atenção com stickers ridículos.

Dessa vez, no entanto, o grupo estava em polvorosa graças ao meu anúncio de férias e desaparecimento da face da terra por alguns dias – não sabia ainda quantos. Percy, é claro que fora ele, adicionara lenha na fogueira ao perguntar se eu estava indo atrás de Lora, e a partir disso mais de cinquenta mensagens se seguiam dos outros dois curiosos sobre o que estavam acontecendo e diversos stickers estúpidos cobrando pela minha resposta. Digitei algo só para que se calassem, e guardei o celular, desligando antes sua conexão com a internet.

— Deve sê difícil sê famoso — Sr. Byrne sorriu um pouco, chamando minha atenção e movendo a cabeça de forma a indicar meu celular. — 'Ocê parece muito requisitado e ocupado.

— Ah, sinto muito por isso. Eram só meus amigos, na verdade, querendo saber por que eu decidira ir numa viagem de repente — expliquei, olhando pra fora da janela. As casas que passavam eram bastante simples e havia um cavalo atrelado a uma charrete na frente de uma delas, sua cauda balançando preguiçosamente no calor enquanto aguardava seu dono.

II - Onde Eu Quero Estar |hiatus|Where stories live. Discover now