Renascido

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Me chamo Matteo. Ou é como Elffen, a Rainha dos Elfos, diz que sou conhecido.

Minhas lembranças tornaram-se um misto de imagens sem sentido em minha mente. Tudo o que sei é que eu não pertenço a este mundo e que um dia amei um lobisomem chamado Derek.

Ainda o amo... Eu acho. As lembranças junto dele são recordações que não abrirei mão. Mesmo que algumas delas doam.

Neste momento estou andando sem rumo. Apenas procurando um sentido para esse confuso "reinício". Não é como se eu não sentisse que já vivi uma vida. Muito pelo contrário, as lembranças parecem ser recentes. Parecia que passara apenas um dia.

Caminho lentamente em uma via esburacada, a lama já seca possuía desenhos das inúmeras carroças que viajaram desesperadamente na chuva. O sol estava intensamente quente, e não havia presença de nenhum vento que aliviasse o calor. O que me deixava mais irritado ainda.

Elffen dissera que, excluindo ela, Derek e a tropa da batalha de Anilan (Tropa essa que jurou não revelar minha identidade), nenhuma criatura saberia quem eu era. O que fiz e o que posso fazer.

Agradeci internamente a possibilidade de ter um vida normal. Ainda mais depois de toda a merda que aconteceu.

Ouço um barulho de rodas e do casco dos cavalos afoitos. Os viajantes passam rapidamente ao meu lado, e automaticamente abaixo mais o capuz que protegia minha face da forte luz solar.

Quando já estava a uma boa distância de mim, escuto o condutor ordenar a parada da carroça.

— Heeeeeya!!!! 

O relinchar dos animais me deixa alerta. Mas decidi continuar minha caminhada.

— Rapaz gostaria de uma carona? — Encaro um senhor de idade. Ao seu Aldo uma senhora me olhava sorrindo. Sua esposa talvez?

— É uma grande gentileza do senhor e da senhora. Mas não sei se devo aceitar.

— Não seja tímido. Para onde está indo?

Olho para o caminho a minha frente e falo apenas a verdade.

— Não sei. Para qualquer lugar eu acho. Acho que se eu encontrasse uma cabana no meio do campo seria... Fantástico. — Olho agora os dois idosos enquanto lembro do meu último encontro com Derek. Não escondo o fraco sorriso.

— Não sei por quanto tempo andou rapaz, mas a próxima cidade está a quase um dia de viagem. Nesse seu ritmo, morreria de fome antes mesmo de chegar na metade do caminho.

— Por que além de uma simples carona, você não vem conosco? Desde que nosso neto iniciou o treinamento nas montanhas, esses dois velhos têm sentido falta da agitação de um jovem na casa. Talvez uma noite de sono possa ser agradável para um peregrino como você. — Analiso as palavras da senhora. Talvez ela tenha razão, um descanso seria uma boa ideia.

— Tudo bem. Eu aceito. Apenas uma noite. — Sorrio e retirando emu capuz, subo na carroça.

— Eu me chamo Alia e esse velhote aqui do meu lado é o Sebas. — Alia cutuca Sebas que dá uma risada alta. — Somos camponeses, aliás a próxima cidade é rica e conhecida por suas terras férteis. Estamos sob o comando do Lorde Gregor.

— A que rei ele serve? — Pergunto curioso.

— Ao Rei Elliot. — O rei dos humanos...

Não esqueci da minha espécie neste mundo. Saber que não era mais o único, conforta.

— Somos a província mais rica e bela de todo o Reino Humano. — Então andei o bastante para chegar às terras do Reino Humano?

Gaia. Esse era o nome dado ao Reino dos Humanos. Engraçado não? O nome de um titã presente neste mundo, além de ser uma das origens do nome de meu antigo planeta.

Há tantas semelhanças discretas neste mundo. Talvez elas não sejam apenas coincidência...

***

A viagem durou menos do que Sebas falara. Claro que se eu estivesse a pé duraria uma eternidade.

Sou grato pela bondade desses desconhecidos.

A casa do casal era simples. Noto que ambos cultivam alimentos, e acabo lembrando da fertilidade que aquele reino possuía.

— Matteo! — Volto-me para Alia que me chamava em pé diante da porta de sua casa. — Preparei o jantar, venha.

Sorrio e caminho em direção a varanda.

O cheiro da carne e de legumes dá vida ao meu estômago. E minha boca saliva loucamente, pedindo por apenas um pedaço do que quer que Alia esteja cozinhando.

Senti-me na pequena mesa na cozinha e observo a senhora andar de um lado ao outro, trabalhando com suas panelas.

— Você disse que seu neto estava treinando nas montanhas. Agora que exatamente ele treina?

— Oooh. — Ela ri. — O Ecttor deseja passar para a Escola para Mestres da Magia.

— Pensei que a magia estivesse morta junto com o Magos.

— A verdadeira magia sim. A Magia de agora é algo criado pelos humanos. Um tipo diferente. — Franzi minha testa em confusão. — Depois que perdeu os pais para demônios, o meu Ecttor decidiu que iria proteger a todos com sua magia. — Sua palavras eram recheadas de orgulho e de recordações. — Ele é um garoto de ouro, sinto que às vezes ele se cobra muito, mas é apenas o jeito dele.

— Entendo. — Um novo tipo de magia? O que será?

Perco-me em meus pensamentos, porém logo sou retirado deles quando Alia deposita uma vasilha funda recheada de um tipo de ensopado.

— Coma bem. — Ela diz sorrindo.

— Obrigado.

O Humano - EpífaneWhere stories live. Discover now