A Matriz

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Matteo caminha pelo espaço nulo. A escuridão no local desnorteia os passos do garoto que ainda suportava as dores em seu corpo. Se ajoelhando, suspira e usa de toda a sua força para ignorar a dor e analisar a situação.

Um som agudo chama sua atenção, semelhante a ao ferro sendo friccionado contra outra superfície de metal.

Matteo ergue a cabeça e encara um orbe de luz  em meio as escuridão. Ele tremeluzia e vibrava, como se estivesse lutando contra algo. Se debatendo.

Só poderia ser...

— Matriz... — Matteo sussurra.

O rapaz caminha rápido, mas sente uma dor na perna esquerda fazendo-a parar.

— Merda!!

Ele volta a caminhar mancando enquanto observa a Matriz alternar sua forma incessantemente. Diante da intensa luz da massa de poder, Matteo sente algo se aproximando. Seu corpo reage imediatamente lançando-se para longe.

O barulho do ar sendo cortado passa por suas orelhas enquanto o baque ao se encontrar com o chão o alcança.

Matteo, imediatamente, põe-se em posição de batalha, seu olhar para além da Matriz. Seu olhar vai para uma criatura posta após a Matriz, imponente e encarando o rapaz com seus quatro olhos. Matteo analisa a espécie. Nunca havia visto criatura igual a ela. Seus dois pares de olhos ficavam próximos ao nariz sutil, enquanto que no lugar de seus cabelos, algo como chifres se erguiam, se unindo nas pontas formando um arco sobre sua cabeça, como uma coroa. A pele negra como ônix, que refletia a luminescência da Matriz.

Aquele olhar, por algum motivo, fazia os pelos do corpo de Matteo se arrepiarem e algo dentro de si hesitar em prosseguir com o ato de enfrentá-la.

— Você chegou muito longe, humano. — Matteo nota a ausência da boca na criatura que começa a rodear a Matriz elegantemente. Matteo faz o mesmo, mantendo distância enquanto ouve a forte voz. — Devo parabenizá-lo por bagunçar meus planos, mas seus esforços foram em vão.

Ele fita o esguio corpo dançar diante da luz. Ela, ainda sem tirar um olho de si.

— Temos uma mania de sermos teimosos, então não espere uma desistência. — A voz do garoto sai trêmula e ele se martiriza mentalmente por demonstrar isso.

Ela ri. Uma risada que parece vir de todos os lados do espaço. Essa distração foi o bastante para dar a oportunidade de Matteo ser erguido ao alto pelo pescoço. A diferença de altura é revelada, quando o rosto de Matteo está diante dos olhos da criatura e seu corpo está pendurado a mais de um metro do chão.

— Se não fossem, não teriam tanta graça. Devo confessar que são brinquedos excepcionalmente divertidos. — Ela lança o corpo do humano pelo ar.

Matteo rola pelo chão diversas vezes, descobrindo que o espaço era enorme, pois não havia encontrado uma parede.

— Quem exatamente é você? — Entre as dores, Matteo resmunga entre dentes a pergunta.

— Eu sou o inevitável. Sou a união do desespero e da dor. — Ela abre seus braços e encara o além no alto. Matteo observa as inúmeras estrelas além do teto, as constelações, os conjuntos galácteos, o universo. — Com o poder da Matriz que está ruindo neste momento, poderei trazer destruição e morte à superfície da vida. Eu sou o Caos.

Matteo cerra seus dentes e se força a erguer seu corpo e correr em direção ao Caos. Ela cria uma espada e disfere um golpe lateral em direção ao pescoço do garoto. Matteo desliza de joelhos curvando seu corpo para trás desviando da lâmina sedenta.

Ao girar seus joelhos e ficar por trás do inimigo, Matteo percebe a diferença de habilidade ao notar a lâmina descer em direção a si. A única coisa que poderia fazer para salvar sua pele no momento foi segurar a lâmina com as próprias mãos. Sangue escorre pelo seu antebraço e some na escuridão do chão.

— Sua espécie nunca teve chance contra a extinção. Nesse momento, o único resquício da humanidade está aqui diante de mim prestes a ser exterminado e mais um que me serve cego pelo ódio e pela ganância. Típico de vocês na verdade.

— Ainda há humanos. Elliot e Todo o povo de Gaia.

— Errado! — Caos força a lâmina e Matteo precisa desviar sua cabeça para não ter uma ferida fatal. A lâmina faminta corta a carne do ombro do rapaz, fazendo-o urrar de dor. Matteo  brilha seus olhos em branco, mas a mão de Caos segura sua cabeça fortemente, carregando-a em direção à superfície dura do espaço nulo. — Essas criaturas foram desenvolvidas para me servir, para seres os soldados do caos. Eu planejava... Planejo usá-los como receptáculos da escuridão. Minha fiel escudeira.

Atordoado, Matteo cerra os dentes e mesmo com a mão da criatura sobre sua face e a espada lembrando de sua ferida dolorosa cose suas palavras.

— Eu não vou permitir.

Caos mais uma vez ri.

— E o que fará? Sem o poder que conseguiu do cristal da família dos Dragões Brancos você seria como qualquer humano. Fraco e indefeso, esperando que qualquer um mais forte o submeta. Você e sua espécie são patéticos. Veja! — O Caos ri diante da visão das lágrimas do garoto. — Acho que alguém finalmente está reconhecendo isso.

— Você está certa, somos patéticos. Inúteis. Mas errou ao dizer que nos submetemos a qualquer um. — Matteo sorri deixando Caos confusa por um momento. Ela segue o olhar do humano e observa a Matriz. Em uma rajada de luz, Caos é lançado longe do rapaz. — Muitos iguais a você que tinham poder e autoridade comandaram por muito tempo o meu mundo, e a maioria que caíram foram aqueles que tinham seus interesses voltados para si. Você não é tão diferente de nós, só tem uma personalidade pior.

— O que pensa que está fazendo? É tarde demais, a Matriz já não está com seus pilares em ordem, é questão de tempo para que tudo que ela construiu e lutou para manter desapareça e não será você que mudará isso.

— Pelo visto você não sabe de muita coisa.

Matteo gira o corpo para capturar o orbe. Caos lança a espada em Matteo, perfurando seu peito.

Matteo cai com o orbe em mãos.

Caos se ergue e corre em direção ao rapaz, mas o chão a impede de alcançá-lo de imediato. Ambos caem em direção ao infinito, lutando pela posse do orbe que tremeluzia mais intensamente.

— Me dê! Devolva!

Matteo chuta o rosto do Caos e rodopia no ar.

— Ela nunca lhe pertenceu. — A Matriz ressoa mais alto e eclode surpreendendo o Caos.

— Impossível.

— Sim. Eu sou o impossível. — A Matriz entona.

Um pulso consome tudo ao redor. Extinguindo tudo e todos.

O Humano - EpífaneWhere stories live. Discover now