PILOTO

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Nos deram apenas um dia para arrumarmos todas as nossas malas, nos despedir dos nossos familiares e seguir de volta para o estúdio

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Nos deram apenas um dia para arrumarmos todas as nossas malas, nos despedir dos nossos familiares e seguir de volta para o estúdio. Ao contrário dos outros participantes, não pareceu uma tarefa difícil para mim. Já que não tenho família e a arte de arrumar malas, se tratando de mim, é basicamente jogar qualquer coisa que pareça útil até o limite do zíper, deixei tudo pronto em menos de uma hora. Não passava das três da tarde quando a minha melhor amiga, Priscila, tocou a campainha do meu apartamento, logo depois de eu lhe enviar um mensagem com um pedido de ajuda pré-viagem.

Ou como gosto de chamar: o alerta da mãe de pet.

— Ele come três vezes ao dia — começo a falar assim que abro a porta. Me sinto tão frenética que nem a cumprimento direito. — Cocô só fora de casa, à noite e pela manhã. Ele odeia dormir sozinho, então o deixe na sua cama? Se não der na cama, coloca uma almofada no chão, mas bem perto de você. Se ele chorar, o cubra com esse cobertor.

Enquanto ando pelo apartamento juntando as coisas de Todd, meu cão, ele fica me olhando atentamente. Não parece fazer ideia de que vou abandoná-lo, e me sinto culpada de pensar que sumirei por um ano. Mesmo com as visitas que temos direito a cada três meses, simulando férias, ainda é muito pouco para um cachorro. Espero que minha amiga seja uma boa mãe na minha ausência.

— Tereza, você tá estranha —  Priscila me faz parar.

Com o olhar atento dela me julgando, finalmente percebo que estou agindo como uma maluca. Até mesmo Todd saiu da sala, indo para debaixo da cama do meu quarto.

Respiro fundo.

Ando até o sofá e me jogo nele, encarando a TV desligada. Priscila faz o mesmo e, em silêncio, só me olhando daquele jeito acusador, pergunta qual é o problema.

— Lucas está lá.

Ela pensa um pouco.

— Você já sabia disso.

— É. Eu sabia. Mas olhar para ele de verdade... É muito mais difícil do que parece. Eu quase voei no pescoço dele, Pri. Foi preciso muito autocontrole.

— Você tá falando do cara que te deu um fora durante a sua formatura, logo depois de transar com a sua melhor amiga. Eu também iria querer voar no pescoço dele, Tereza. Ainda mais depois do desastre que aquela noite se tornou por causa do que ele fez. Lucas ferrou a formatura de todo mundo.

— Não é só isso — confesso.

Priscila fica me encarando, esperando que eu continue. Não quero falar, apesar de estar sentindo cada palavra entalada na garganta. Estou sufocando com elas há dez anos, desde aquela noite. Se eu soubesse, teria faltado à formatura. Me pouparia muito estresse. Dava para ter comprado um milhão de maços de cigarro com o dinheiro que gastei indo ao psicólogo por causa desse assunto.

— Tereza — Priscila se aproxima um pouco, em alerta. — Você ainda sente alguma coisa por ele?

A pergunta dela me pega de surpresa. Conheci Priscila logo que sai do colegial, na faculdade, quando o assunto Lucas e Eu ainda era recente. Ela sabe de todo o histórico problemático do meu namoro e término porque ficou meses ouvindo as minhas lamúrias. Se não fosse por ela, eu teria ligado para Lucas todas as noites dos primeiros dois anos de coração partido, e mais ainda nos oito anos seguintes, quando não consegui suportar o sucesso dele com a música.

Do Terceirão Para a VidaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora