PRÓLOGO

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— Eu quero saber quem foi que teve essa ideia ridícula

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— Eu quero saber quem foi que teve essa ideia ridícula.

Ninguém responde. Os vinte e um adultos presentes nessa sala de aula ridícula, cheia de livros falsos, ficam completamente calados diante do surto da pequena senhora à frente da lousa. Acho que mesmo Mirna não sendo mais a nossa professora, continuamos sentindo medo de falar qualquer coisa que cause uma crise de gritos e bateções em cadeiras.

— Eu acho que foi a Lívia — diz João Batista, o mais novo dos dois Joões da turma.

— Por que eu inscreveria a gente em um reality show?

— Porque você sempre quis ficar milionária!

— Não se isso significasse mais um ano inteiro presa com você.

— Calem a boca.

E aí está o surto! Agora Mirna se parece muito mais com a mulher que conhecemos no colegial. Ela está com aquela veia saltando no pescoço, o olhar assassino e o cabelo desgrenhado de quando tirávamos a sua paciência. Não mudou nada.

— Não interessa de quem foi a ideia — digo, me desencostando da parede mais distante, onde eu havia me escondido. — Precisamos tomar uma decisão.

As vinte e uma pessoas me olham, surpresos por eu ter dito qualquer coisa. Faz dez anos que não mando uma mensagem para qualquer um deles. Nem nos aniversários, nem no natal, nem para dar uma desculpa à minha falta na festa de reencontro da turma de 2009 que teve ano passado. Sinceramente, o tempo que passei longe dessas pessoas foram os melhores anos da minha vida. Nunca cogitei a ideia de voltar a vê-las, nem mesmo por causa de um reality show idiota com um prêmio milionário.

— Não precisamos tomar uma decisão — me corrige Felipe, sentado em um puff — Porque está faltando uma pessoa, e as regras são bem claras: todos da turma têm que aceitar participar, e todos têm que ficar até o final.

Certo. Tem um aluno que não apareceu na sala de aula hoje. Quase dou risada diante da frase estúpida montada na minha cabeça: ele vai tomar bomba. Recuperação por falta, se me lembro bem do monstro de sete cabeças que gostávamos de lutar contra.

— É bem a cara do Bruno — alguém diz. Acho que foi a Maria Eduarda.

— Gente, eu tô bem aqui.

Viro a cabeça para o fundo da sala, onde Bruno está jogado contra um puff marrom. Ele está deitado como se estivesse em sua própria casa, de óculos escuros e roupas pretas dos pés à cabeça.

— Dez anos e ele continua uma aberração — comenta Maria Eduarda.

Reviro os olhos. Bruno é bem esquisito, sim, mas a questão não é ele. Temos menos de cinco minutos para decidir se queremos ou não participar do programa, e estamos aqui sem nem começar a discutir a solução desse problema. Desde que chegamos, Mirna fica querendo saber quem nos inscreveu, Maria Eduarda coloca defeitos em tudo e o restante fica brigando e discutindo por qualquer coisa. É insuportável. Me faz lembrar por que eu odiava o ensino médio.

Do Terceirão Para a VidaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora