- Quando você falou ex eu juro que quase acreditei ter sofrido um acidente e perdido a memória - Soltei todo o ar que nem percebi estar segurando.

- Ex crush, ex peguete, ex contatinho...

- Quem é ex de quem?- Dante colocou a mochila no chão e então se juntou ao lado do ruivo.

- Sua namorada te abandonou e você resolveu lembrar que tem amigos? - Debochou Dom na primeira oportunidade, me fazendo rir.

- Deixa de ser otário, ela tá tirando xerox e já vem, e eu só sumi da quinta pra sexta, para de bancar o emocionado que a sentimental aqui é a Naomi.

- Não me coloca no meio dessa DR.

- Já tava toda tendo um treco vendo o Bobby, claro que é.

- Bobby? - Questionou o moreno.

- O ex dela.

- Não é ex.

- Aquele cara que ela teve um encontro, depois saiu correndo porque demonstrou interesse e no final acabou se sentindo culpada.

- Falei com ele.

- Por que não contou? Como foi? - Os cotovelos de Brandon apoiaram na mesa.

- Você não chorou né? - Questionou o recém chegado, quase certo da resposta.

- Não chorei - Disse orgulhosa e para surpresa de todos - Foi ontem, ele meio que ouviu uma parte da conversa minha no telefone, acabei aproveitando o sinal do universo e deu no que deu.

- Você deu?

- Que? Não! Só se for motivos pra virar piada.

- O nome do cara não era Jamie, Jonny, sei lá?

- Jiwon - Corrigi mais baixo do que já estávamos falando pra não correr o risco dele ouvir, mesmo que localizado muitas mesas longe de nós.

- Bobby é apelido - Concluiu Dom.

- São muitos Bobby's aqui, e acho que você nunca me mostrou de fato quem era esse.

- Não precisa ir muito longe pra ver, tá vendo aquele gatinho cheio de piercing com boné e moletom preto? - Enquanto o rapaz a minha frente apontava, eu só queria evaporar antes que fosse tarde demais.

- Aquele Bobby? - Assenti - O que era da liga de basquete no primeiro ano? Bobby Kim?

- Por que o choque, garoto?

- Você tá ligada que ele é a maior biscate do bairro né? - Instantâneamente o suco de laranja que eu bebericava juntamente com a informação súbita me fez engasgar.

- É o que? - Indaguei.

- Não tô surpreso.

- Caramba como você não sabe de uma informação dessas antes de ficar com alguém? Logo você, a dona do stalk.

- Gente?

- A amiga da Monise ficou com ele, depois esse cara sumiu e ela ficou toda sofrida, numa das conversas repletas de melancolia que fui obrigado a escutar, elas falaram um monte de coisa, porém não prestei atenção.

- Pergunta pra sua namorada como quem não quer nada, ela deve saber.

- Não, não quero que ela saiba - Comentei rápida e discreta, vendo a garota pontar no começo do refeitório.

- Ei, ela é confiável.

- Vocês namoram já vai fazer um ano mas ela mal fala com gente - Alego óbvia e ele parece compreender.

Conversa vai, conversa vem, o horário de pausa estava acabando mas passamos a nos perder no meio de assuntos aleatórios e nada de perguntas sobre a informação, qual Brandon claramente estava mais ansioso que eu para saber cada detalhe, esperando qualquer informação ser soltada pela moça.

- Amor, aquele Bobby Kim lá que saiu com a sua amiga, ele leva muita garota no papo? - Finalmente.

- Raramente o vemos com alguém, mas os boatos de que ele pega geral no sigilo e depois finge demência são grandes, por quê?

- É pro meu tcc - O sardento tomou frente, mas aparentemente Monise não entendeu a brincadeira.

- Gente preciso buscar meu jaleco que esqueci na sala, então já vou indo - Engulo o último pedaço do croissant às pressas, usando a verdade como desculpa para sair da mesa e surtar sozinha.

Após me despedir e receber olhares dos rapazes - que claramente imaginavam como minha cabeça estaria criando mais paranóias do que o imaginado - descartei o lixo da bandeja no latão mais próximo, e então segui apressada para meu destino.

Criando paranoias sim, levando bronca por entrar sem jaleco no laboratório jamais.

Na verdade, o sentimento não era bem de surto, estava apenas irritada, não pelo fato de saber que ele sai com muitas pessoas, se eu fosse menos traumatizada e mais sociável provavelmente aproveitaria para fazer o mesmo. O ponto é que enquanto eu me martirizava em pedir desculpas pelo que fiz, achando isso uma atitude lamentável, ele estava provavelmente agindo da mesma forma com outras pessoa, e tenho minhas dúvidas se chegou a sentir um sequer arrependimento por isso.

- Naomi! - Olho pra trás vendo Brandon apertar o passo em minha direção, com o pote de pudim na mão e a mochila lilás pendurada no ombro esquerdo.

- Meu precioso, como pude te esquecer?- Dramatizei em relação ao doce.

- Também estou chocado, como pode largar uma companhia ilustre como a minha bancando a tocha olímpica naquela mesa - A lágrima imaginária foi seca pelo dorso de sua mão - Ta brava né?

- Não - Me encarou - Um pouco.

- Claro que tá, o cheiro de morte até subiu.

- Segura, freia, olha o exagero - Resmunguei empurrando a porta da sala com as costas, já que minhas mãos estavam ocupada demais segurando aquele lindo pudim e abrindo o recipiente tentando não fazer lambança.

- O bad boy que não parecia bad boy mas na verdade é um pouco, nos tombou.

- Não to muito surpresa, homens o que tenho a ver só quero comer meu pudim em paz.

- Furiosa mas não surpresa, sua cara te entrega Nao - Alegou o mais baixo enquanto passava o indicador na lousa cheia de tópicos escritos na aula anterior.

- Eu não to furiosa, só acho que poderia ter evitado toda aquela conversa ontem, ele claramente não se dá o trabalho de fazer isso com cada garota que "fica e depois finge demência" sabe? Sem contar que eu estava lá toda dramática e ele no fundo devia estar rindo da minha cara e inflando o ego.

- Você pode estar tirando conclusões precipitadas, já parou pra ponderar a hipótese que nesse caso elas que foram as desesperadas da situação? E ainda mais, são só boatos, sabe como é, nem tudo que chega nos nossos ouvidos são a verdade por completa.

- Eu sei - Respondo pegando o jaleco, que se encontrava do mesmo jeito de quando o esqueci lá.

Espero não esquecer de respirar até o fim do dia.

- Você fez o que achou que era certo, ponto - Afirmou - E convenhamos que sumir pode até ser um vacilo, mas as pessoas fazem coisas bem piores, você se sentiu cruel porque não costuma se relacionar, mas é bem comum o outro cair fora quando a pessoa está querendo demais.

- Tá certo, já foi, todo mundo é grandinho e sabe onde se mete, sem contar que eu tenho mais com o que me preocupar - Dou mais uma colherada no pudim após enfiar o jaleco na bolsa, começando a caminhar em direção do bloco ao lado, para o último laboratório do dia.

- Mas você não acha esquisito ele ter ido pro refeitório hoje?

- A universidade toda vai pra lá de segunda - Acho.

- Ele tava é esperando você chamar ele pra sentar com a gente.

- Não viaja.

- Esse cara não me engana, tá afim sim.

- Sem tempo irmão.

Gelatina e PrótonsWhere stories live. Discover now