Aquele com "o viadinho"

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"E se me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar."

- Clarice Lispector.

- "He left no time to regret". - Com um microfone dinâmico, daqueles antigos de filmes onde tem karaokê no barzinho em que os amigos se reúnem. Bex aproximava seus lábios carnudos e avermelhados a cantar uma melodia triste e penetrante que nos fazia sofrer mesmo sem motivos. Quer dizer, talvez todos tivéssemos motivos.

A bela dama da noite, com seus cabelos enrolados ruivos estendia suas mãos para a frente, ela cantava com a alma e numa atuação perfeita fazia com que todos prestassem atenção não só no brilho sombrio de seu vestido longo e preto, que fazia alusão a uma noite estrelada, mas também à sua feição sofredora e corpo inteiramente entregue à letra de Amy Winehouse.

- Graham! - Spencer me chamou e ao me desencantar da dama da noite lhe dei toda a minha atenção. – Amigo, o show é para os clientes e não para os empregados. - Ela sorri, aparentemente cansada, já era 1:00 da madrugada e com certeza não estávamos naquele pique incrível do começo do expediente, muito pelo contrário.

Sei bem, o que parece, mas era necessário que fizéssemos um novo quadro, para o novo negócio. Sim! A ideia sempre foi ser diferente, queríamos um lugar onde tudo fosse divertido, atraente e único. Com música, dança, bebida, comida e amigos em toda parte.

- Você quer ir lá em cima descansar? - Brooks passou a mão em meu braço ao dizer, claramente percebeu que eu, o estava observando. - Ei! Presta atenção em mim! Está tarde, então vai dormir que eu cubro você aqui. Ela sorri e sem pensar duas vezes me recuso com a cabeça.

- Não posso. - Respiro fundo e sorrio para Spencer, ela era uma boa amiga, sempre muito preocupada com os outros apesar de ser super grossa e temperamental às vezes, talvez tenha chegado a minha hora de ser forte. - Vou ficar, estamos trabalhando todos juntos, para quitar a dívida.

- Então acho que você tem que anotar o pedido da mesa seis. - Ela suspirou, com a vassoura na mão e sorrindo fiz gesto de "estou pronto" e fui, no entanto, não estava nada pronto.

- "I died a hundred times". - Mader nos agraciava ao cantar.

Albert Messias, trabalhava num supermercado a poucas quadras daqui e sua esposa, a adorável Amanda Messias, estava grávida de seis meses. - Nós vamos querer uma porção de batata frita, com muita maionese e ketchup. - Anotando em minha caderneta, sentia como se meu coração fosse sair pela boca, com os lábios secos e respiração ofegante me lembrava de coisas que preferia esquecer.

Flashback

- Alô? – Falo enquanto comparo os preços nas prateleiras para ver qual era o mais barato, afinal precisávamos economizar.

- Graham! Finalmente atendeu o celular. - Ouvi a risada carismática e marcante de Regina do outro lado da linha. - Achei que tivesse acontecido alguma coisa.

- Deixei ele desligado no carro, enquanto estava no banco e na vinda ao mercado. - Respondi soltando leves risadas e ajeitando meu óculos. - Desculpa, você precisa de alguma coisa miga?

- É que... - Ela parece não querer falar por timidez ou medo de gerar conflito. - É que, sempre sou eu que faço as compras e queria saber se está tudo bem aí.

Volta esse filme, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora