Pedido a Íris (27)

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A paisagem a volta era bela, um relevo acidentado cheio de pequenos montes verdes, com o chão se ondulando como em ondas. A grama verde era fofa, mas não era muito alta, mesmo que ninguém a aparasse, as plantas não cresciam muito no entardecer. Ainda sim tudo aquilo era uma maravilha sem fim para Haltr quando comparado ao cinzal. No cinzal não haviam plantas, o mais próximo disso eram as árvores fossilizadas do lado de fora da vila. Aquele pensamento intrigou Haltr, as árvores fossilizadas eram enormes e tinham troncos grossos, muito maiores que as árvores do entardecer que ele tinha visto até então. Mas quando tinham crescido? Seria realmente quando o mundo ainda girava? Aqueles pensamentos ficaram rondando a mente de Haltr enquanto ele esperava a beira da estrada. Anvor tinha ido checar uma das vilas que existiam à beira da estrada, para saber se os caçadores tinham passado por ali, já tinham feito três paradas para perguntar, ou melhor, apenas Anvor, o ykru-du não queria Haltr entrando em vilas, pois poderia ser visto caso os caçadores estivessem lá, também havia dito algo sobre Haltr não conseguir mentir nem que a vida dependesse disso.

-Vamos embora, eles não estão aqui.

A voz do ykru-du despertou Haltr de seu devaneio. Ao olhar para cima viu o jovem parado, fazendo sombra sobre ele. Fazer sombra sobre alguém descansando a beira da estrada era considerado um gesto rude. Haltr havia aprendido isso com os lustsis. Aquilo o fez se perguntar se Anvor tinha o feito deliberadamente, ou se apenas não ligava para esse tipo de etiqueta entre viajantes. Haltr pessoalmente não ligava, mas sentia algo estranho no companheiro, uma espécie de animosidade. Haltr demorou a perceber aquilo, o ykru-du parecia esconder bem suas emoções, mas alguma coisa ínfima estava escapando, alguma coisa que deixava Haltr desconfortável.

-Não parece que eles pararam em nenhum vila - Disse Haltr se levantando - Acha que ainda vale a pena parar na próxima?

Anvor o encarou de soslaio enquanto subia no cavalo, seu olhar não pareceu muito satisfeito.

-Vamos direto para Queda-íris agora. Realmente não acho que eles passaram por uma das vilas.

De alguma forma o ykru-du pareceu frustrado por ter de concordar com ele. Haltr subiu na garupa do mestiço e Anvor fez o cavalo começar a andar em um trote rápido. Após algum tempo de viagem Haltr resolveu quebrar o silêncio.

-Como vamos saber onde encontrar o Atan-nar depois de encontrarmos os pais de Sieh? Ele não disse onde ia estar.

-Não vamos encontrá-lo. Asil não nos disse onde ia de propósito, caso um de nós seja capturado. Eles é que vão nos encontrar.

-Espera, então o que vamos fazer? Ficar andando por aí?

-Eu vou esperar em algum dos refúgios, você eu não sei. Faça o que quiser.

-Mas e Sieh?

Anvor ficou em silêncio, a menção a Sieh o deixou estranho, como se frustrado. Haltr esperou alguma resposta, mas ele não respondeu. Após algum tempo o ykru-du voltou a falar.

-O que há entre você e Sieh? - Ele perguntou, deixando a estranha animosidade transparecer.

Aquilo só deixou Haltr mais confuso.

-O que? Como assim?

-Não se faça de bobo. - Bufou Anvor de modo severo.

Haltr ficou de queixo caído, sem entender nada do que estava acontecendo.

-Não sei o que há entre nós. - Respondeu Haltr com honestidade - Na verdade, nem deu tempo de pensar nisso. Tantas coisas aconteceram. Primeiro ela me salvou em um beco, e aí os pivetes foram me seguir, ela me salvou de novo e-

Entre a escuridão e a auroraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora