o gosto de tangerina nos teus lábios

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Mark conheceu Jaemin num dia quente de verão.

Jaemin estava ajudando as senhoras da feira a trazer e levar encomendas do caminhão vindo dos campos. Ele usava uma regata azul-marinho, uma bermuda branca surrada e uma corrente prateada envolta do pescoço. Os músculos de seus braços saltavam levemente, a pele brilhando contra o sol com um pouco de suor escorrendo pela testa. Mesmo cansado, não hesitou um segundo em formar um sorriso imenso por entre os lábios. Um sorriso cristalino, chamativo e eletrizante; algo como um grito de euforia numa noite pesada.

Mark havia ficado boquiaberto.

Naturalmente, sempre fora atraído ao harmônico, a delicadeza de traços firmes e a beleza emocionalmente cativante, mas havia algo de tão enigmático naquele sorriso que Minhyung teve a impressão de estar perdendo o ar gradativamente.

Sentiu-se vexado; preso ao chão com cola nas solas dos pés. Tinha a impressão de estar espiando dentro da Caixa de Pandora ou algo igualmente ilícito, proibido.
Há quanto tempo estava parado no lugar? Segundos? Minutos? Talvez fossem horas... Horas tão extensas e dramáticas que passavam tão rápido quanto um piscar de olhos.

O ar pareceu sumir de seus pulmões de uma vez só: entrava pelo nariz e saía pela boca, pairando bem em sua frente, invisível, mas tão palpável quanto poderia crer. Se não fosse tão apegado a analogias mais elaboradas, se sentiria como um balão, esmagado por entre mãos bonitas e rigorosas.

Minhyung viu-se perdendo todo oxigênio, ou algo metaforicamente semelhante. Viu-se de longe, como se estivesse em uma órbita distinta, flutuando por entre abstrações e absurdos - talvez tivesse apenas se perdido dentro de sua própria consciência ou se afogado em pensamentos abstratos.

Em pé atrás da banca de leguminosas, Mark continuava encarando a cena por entre o movimento pacífico do final da tarde. O sol permanecia irreverente pendurado no meio do céu; sem pressa, sem compromissos. Jaemin sorria como se fosse seu último dia na Terra; animado, florido, trinfunante.

Mark sentiu o ar voltar para dentro dos pulmões. Jaemin havia ido embora.

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Jaemin, por outro lado, conheceu Mark em uma noite chuvosa.

O céu estava escuro como carvão, escondendo suas estrelas por trás de asas igualmente tenebrosas. Rojões, raios e lágrimas eram tudo que se podia ouvir.
Jaemin estava em pé em frente ao bar em que trabalhava, encarando o choro incessante dos céus. Sentia-se embargado: o cheiro de cigarro em seus dedos dava-lhe náusea. Seu crânio pendia, pesado, enquanto a chuva caía pelos céus como serpentinas.

Pensava no mar. Em suas curvas e barbatanas, em seus tons azulados e displicentes. Pensava no quão bom seria jogar-se ao mar... Flutuar pela espuma, sentir o sal em seus cabelos, deixar a água levar seu corpo e alma para onde desejasse. Deixar a água levá-lo para longe...

Jaemin pairava sobre pensamentos. Deitado sob uma nuvem de fumaça, havia se perdido em ideias tão comoventes que jurava ter vivido tempos antigos e distantes. A sensação era tão efêmera quanto era repentina, mas também fora um dos maiores júbilos de sua vida.
Poderia perder-se dentro de si como se fosse uma grande selva, um misterioso labirinto, ou talvez um árido deserto: imenso, enigmático, perverso.
Sentia como se sua mente sempre havia de instaurar pesadelos por onde passava.

A chuva parecia ficar mais forte a cada minuto, regando seu enorme solo asfaltado. Jaemin, desperto de seus devaneios pelo tilintar do sino da porta do bar, olhou para os lados, dando de cara com Mark, que saía do boteco. Este andou até seu lado, encostando o pé na parede e bagunçando os cabelos.

— Você tem outro 'pra me dar? — Perguntou o desconhecido.

— Que?

— Cigarro. Você tem outro?

— Ah, tá. Pega aí.

Jaemin estendeu o maço para o outro, que pegou um cigarro e o levou até a boca. Tirou um isqueiro do bolso da calça e tentou acender, meio sem jeito. Jaemin encarava Mark sem um pingo de vergonha, entretido com o jeito desengonçado do rapaz. Quando Minhyung enfim acendeu o cigarro, tragou profundamente, sendo seguido por uma forte onda de tosse.

Jaemin, segurando o riso, deu leve batidas nas costas do outro, tentando ajudá-lo e, ao mesmo tempo, manter a compostura.

— Ei, vai com calma. Não 'tá acostumado a fumar, não? — Disse.

— Eu - Tosse — Não — Tosse — Odeio fumar, na verdade — Tosse.

— 'Tá fumando por que, então? — Falou Jaemin entre risos.

Mark parou de tossir e se recostou na parede úmida do bar. Seus cabelos eram pretos.

— Rolou umas coisas com, hm, a minha vó, então, né. Sei lá. Senti que fumar iria ajudar em alguma coisa, mas continua sendo horrível como sempre.

Sua camisa era azul. Seus sapatos estavam sujos de areia.

— 'Tendi.

Seus dedos eram magros e seu rosto, pálido.

Os dois fumaram em silêncio enquanto fitavam a chuva.

— Se serve de consolo, — continuou Jaemin — Eu também não gosto.

Mark tinha cheiro de tangerina.

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espero que tenham gostado!
prov vou demorar pra atualizar dnv, mas enquanto isso aproveitem as outras histórias que tenho no perfil <3

bjs

tangerina ♡ MARK + MINWhere stories live. Discover now