Capítulo vinte e três

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Meu coração batia rápido.  Eu sabia. Eu havia prometido a ela que não iria até lá, mas eu precisava saber, eu precisava descobrir, promessas tolas são inúteis se acabar magoando alguém.
   Cada dia que passava eu via pelas ruas cada vez mais cartazes a procura dela, era sacanagem ela fazer aquilo com eles, eu precisava conversar com ela, com um pouco de papo ela pensaria melhor, eu sei.
  Devia ser quase cinco e meia quando adentrei na mata, fazia tempo que eu não a via, e eu estava preocupado.
  O tempo estava fechado e eu sabia que mais tarde iria chover, então apressava o passo na mesma trilha que dias atrás ela me levou e nós nos beijamos.
  Eu estava com medo de ter esquecido o caminho, mas não foi o problema, após quase dez minutos de caminhada eu já havia chegado na clareira, estar ali sozinho era tão estranho, me passava por algum motivo a sensação de que eu estava sozinho de verdade, por dentro e por fora, um estranho sentimento de esquecimento, de perda, era algo mórbido que eu não sabia explicar. 
Aquele lugar estava me dando arrepios, mas eu segui assim que vi a casa de madeira logo a frente, estava tudo ainda mais mórbido com os relâmpagos que agora decoravam o céu. 
  Após mais alguns minutos andando finalmente cheguei próximo a aquela casa, era completamente feita de madeira como eu imaginei a olhando de longe, dava para ver que havia uma luz lá dentro, com toda certeza ela estava lá.  Agora eu apenas me perguntava como deveria estar a família dela, sofrendo pelo desaparecimento da filha, eu precisava conversar com ela, ela precisava voltar para casa, além de quê, que futuro ela teria ali?
  Me aproximei da porta que era pintado em um tom de azul, dava para ver que a porta estava sendo comida por cupins, realmente aquele lugar estava em péssimas condições. 
  Pensava em tudo isso até que fui para abrir a porta, porém quando coloquei minha mão naquela maçaneta fria, ouvi uma voz vindo detrás de mim.
  — Por favor, não abra essa porta, Everton! — Era Adhara, ela estava com seu vestido azul e trazia comida em suas mãos, provavelmente havia ido comprar.

  Nós caminhávamos pela areia da praia, o mar estava um pouco agitado e sabíamos que mais tarde iria chover, mas eu precisava conversar com ela.
— Me desculpe por quase quebrar a promessa, mas eu preciso falar com você.  — Eu disse enquanto via os seus cabelos dançando devido a brisa fria.
— Está tudo bem… Eu te entendo… Mas o que você quer falar?
— Acontece que… — Observei para alguns instantes as ondas do mar. — Não acha que já está na hora de voltar para casa? Seus pais devem estar muito preocupados...
  Nos paramos ali, no meio da praia, ela se virou olhando nos meus olhos, eu estava estranhando sua expressão, parecia mórbido, tão mórbido quanto tudo o que vi antes, por isso prefiro o verão, as pessoas aparentam ser mais felizes nele.
— Se eu voltar, eu nunca mais vou te ver, Everton.
— Mas é claro que vai… Seus pais vão entender, além de…
— Eles nunca deixariam Everton… Entenda… Eu vou dar um jeito… Mas eu preciso de um tempo… Eu não quero voltar agora.
— Tudo bem… — Eu respirei fundo. — Eu irei lhe apoiar, mas saiba que pode contar comigo para o que precisar!
— Eu sei disso… — Ela abriu um sorriso. — Você é a pessoa mais especial em minha vida, Everton.
— Você também, Adhara! — Sorri. — E espero que você vá na apresentação que já é depois de amanhã... Você vai não é?
Por alguns instantes após eu dizer aquilo, ela pareceu distante, parecia perdida em seus pensamentos, aqueles pensamentos mais distantes.
— Eu… — Ela voltou a me olhar, como se estivesse voltado em si. — Eu vou sim!
  Sorri para ela, e me aproximei mais ainda dela, até que sem perceber, toquei seu rosto…
— Eu te amo… — Eu disse, até perceber que a toquei, e tirar a mão.
— Everton… — Ela sorriu. — Você me tocou… E não parece nada desesperado!
Nesse instante olhei para minha mão, eu sabia, os pensamentos estavam ali, mas eles não estavam tão fortes, parecia que naqueles instantes eu começava a conseguir controlar minha mente.
— Eu… Eu te toquei… — Eu olhei para ela sorrindo.
— Isso é maravilhoso! — Ela voltou a sorrir, agora pulava de alegria, até que por fim, enquanto eu ainda estava surpreso com o que fiz, ela voltou a olhar no fundo dos meus olhos. — Eu também te amo.

O TOC DA ESTRELA (2018)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora