Capítulo Três

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Um milhão de pensamentos passavam pela minha cabeça enquanto sentado observava aquela garota deitada na cama do farol. Eu finalmente havia conhecido como ele era por dentro.
Agora ela apenas dormia, ali, talvez no lugar mais inusitado que já dormiu.
Como tudo aquilo havia acontecido? Será que a estrela realmente caiu? Quem era ela?
Nem me lembrava de que meu telescópio estava na praia ainda, não fazia sentido querer pensar nos segredos que o universo guarda
quando eu estava com o mistério do mundo bem ali, ao meu lado.
  Certas horas a luz do farol refletia no rosto dela, e eu podia ver o quão bela era. Sua pele branca agora notável ser cheia de sardas a deixavam ainda mais peculiar e especial, como se cada uma fosse uma estrela, pensei eu.
Me levantei poucas vezes apenas para lavar as mãos e pernas em uma torneira que havia próxima ao farol, ou para pegar álcool em gel, já devia ser duas da manhã e meus problemas que aconteceram antes daquilo nem se passavam pela minha cabeça. 
  Eu não podia deixa-la sozinha — E nem queria —, eu queria descobrir o que aconteceu, e como ela havia parado ali, queria descobrir o
que houve com a estrela, tudo parecia uma confusão enorme em minha cabeça. 
  Lembrei-me então de como a carreguei para lá, assim que tive a ideia de leva-la para o farol a coloquei no lençol que havia levado para me sentar e a arrastei até o farol, onde tive que pega-la novamente e colocar na cama. Foi horrível, o ser humano tem uma estimativa de que a quantidade de micróbios que vive no corpo humano é de cerca de 40 trilhões — um número similar ao de células humanas.
  Mas nada daquilo importava mais, já havia conseguido controlar a ansiedade quando estava sentado ali, lavei muito as mãos e gastei quase todo o frasco de álcool em gel, sabia que ia ficar tudo bem, e não iria pegar nenhuma doença. 
  Perdido em meus pensamentos em relação a bactérias, não percebi que a garota começou a acordar, e quando a olhei estava sentada na cama, me encarando.
— O que aconteceu? — Ela disse com uma voz doce, demonstrando ainda estar com sono.
Eu a encarei por alguns instantes sem a responder, parecia hipnotizado por seus olhos.
— Você... — Eu continuava a encarar quando em algumas horas a luz do farol batia em seu rosto. — Você estava se afogando. E eu… Bom… Tentei ajudar. 
Ela olhou em volta por alguns instantes, tentando talvez se lembrar de tudo.
— Eu me lembro agora. — Ela sorriu. — Você... Bom… Muito obrigada, você não sabe o quanto eu…
— Não tem o que agradecer! — Eu disse passando a mão em meu cabelo, estava sem jeito.
— Você salvou a minha vida... Eu teria morrido! — Ela sentou na ponta da cama, ficando mais próxima de mim, cheguei a cadeira um pouco para trás, por alguns instantes rezei para que ela não tentasse me abraçar. 
— Como você chegou ali? Eu… Bem… Estava na praia a muito tempo e… Bom… Não te vi chegar. — Eu continuava sem jeito perto dela, mas precisava saber como ela havia chegado ali.
Enquanto falava, ela observava o farol, via a luz indo e vindo lá em cima, até que ela voltou para a conversa novamente. 
— Eu não me lembro muito bem como parei aqui. — Meu coração disparou, lembrei-me da estrela. — Apenas me lembro de estar na água, até que não consegui mais voltar para a margem.
— Eu… Guardei um pedaço de pizza que comprei para você, deve estar com fome. — Eu disse apontando para a caixa de pizza que estava ao lado da cama.
Ela sorriu e pegou a caixa, abrindo rapidamente e dando a primeira mordida na pizza, parecia faminta.
— Você é um anjo que caiu do céu, sem você não sei o que seria de mim! Obrigada de novo! — Ela disse comendo.
"Você é quem caiu do céu." Pensei quando a ouvi dizer aquilo.
O silêncio prevaleceu no farol por alguns instantes, até que me sujeitei a fazer mais perguntas enquanto ela comia.
— Onde… — Parei por alguns instantes imaginando que a pergunta poderia ser tola, mas perguntei mesmo assim. — Onde você mora?
— Creio que não é muito longe daqui, sabe minha memória está horrível, vou passar a noite toda aqui, tem algum problema?
— Não! — Levantei da cadeira. — Claro que não, quase não vem aqui, você pode ficar aqui o tempo que quiser.
— Novamente muito obrigada. — Notei que ela mudou rápido sobre o assunto "de onde ela veio."
A conversa já estava fluindo quando tomamos um susto, começamos a ouvir batidas na porta do farol.
— Everton você está aí?  — Era a voz do meu pai, eu tinha certeza.
A garota se assustou.
— Quem é?  — Ela me olhou espantada.
— Creio que é meu pai! — Eu disse indo em direção a porta para abri-la, quando a garota gritou.
— Não! — Ela se levantou. — Por favor, não deixe ninguém saber que estou aqui!
Na hora deveria ter perguntado o por que, mas o desespero de meu pai estar furioso foi maior. — Tudo bem, olha… Eu… Venho aqui amanhã ver como você está, tudo bem? — Disse indo em direção a porta e falando baixo.
— Tudo bem… Mais uma vez obrigada por tudo! — Ela disse indo para o lado contrário da porta, em um lugar que não daria para ser vista.
Eu fui em direção a porta até que voltei rapidamente para ela antes de ir.
— Posso te fazer uma pergunta antes de ir? — Ela fez que sim com a cabeça quando eu disse, parecia estar com medo que meu pai entrasse com tudo. — Qual o seu nome?
— Me chamo Adhara, foi um prazer conhece-lo.

O TOC DA ESTRELA (2018)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora