Capítulo Único;; risada azul

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Forca ... Sob o céu azul
Você precisa dele

Forca ... Sob o céu azul
Você se entristece

Forca ... Sob o céu azul
Você não pode morrer, morrer, morrer...

Aoi ria. Ria como se nada tivesse acabado, como se o corpo sem vida de Kouyou não estivesse estirado ao seu lado. Como se ele tivesse suportado a última surra do progenitor. Como se não houvesse maculado seu pescoço bonito com a marca daquela corda.

Sob os lençóis azuis e já velhos - como quase tudo naquela casa, antigo e desgastado -, o corpo grande e delicado repousava num sono que, infelizmente, era eterno. E Aoi ria. Ria enquanto afagava os fios loiros e sem brilho, enquanto contornava as feridas abertas e recentes, enquanto beijava as cicatrizes e os locais livres de hematomas.

Uruha merecia tal apelido. Merecia tudo, exceto aquele final triste, aquela vida medíocre a qual se sujeitara. Podiam ter nascido em berço de ouro, e o corpo esbelto poderia ocupar outdoors por toda a cidade. Podia ter frequentado a escola e aprendido a ler, ter se tornado um escritor. Podia ter tido um final um pouco mais digno do que sucumbir ao sofrimento.

Aoi ria, e o compreendia. Compreendeu tudo ao encontrá-lo pendurado na barra de ferro que sempre pendera do teto de seu quarto. Posso chamar isto de quarto?, indagou à si mesmo, enquanto se recordava das monstruosidades que acometeram seu anjo sob aquele teto, aquela cama.

Entendia plenamente quando sujou suas mãos com o sangue de barata do maior monstro da vida dele, cujo título de progenitor não fazia jus aos seus modos.

Tinha medo de não tornar a ver seu anjo, mas fora isto, sentia-se satisfeito:

O monstro não podia mais tocar Uruha.


As feridas do anjo não doíam mais.


Após acomodar-se com o corpo do amado nos braços, Yuu sorriu, derrubando o pequeno pedaço de vela acesa que jazia ao lado da cama.


Ninguém mais tocará em seu corpo.



E caso tentem, eu estarei junto para te proteger.

FireWhere stories live. Discover now