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 A noite, sem quaisquer defesas, rende-se à neblina que assolara cada pequeno espaço de Sacramento. Sem sombra de dúvidas, o ambiente é distorcido graças ao helicóptero militar sob o comando do Sargento Mestre H. Travis, especialista em stand-up. Sua improvisação ao arrematar pouso é, resumindo, "divina". A hélice em velocidade contínua acabara por beneficiar os tripulantes, cujo principal objetivo é se manter em stealth — ou melhor, às sombras. Esporadicamente, o nevoeiro se proliferava nas áreas do portão principal, com uma guarita envolvendo um guarda e receptor de pouso. Á partir dali para mais a frente, situa-se o quartel general da Air Support Unit, a unidade responsável pelo suporte aéreo. O clima cinematográfico iá por água abaixo, justamente por ser a primeira vez de Koichiro em uma viagem nas nuvens. 

— Mazzy, preciso vomitar, é sério, cara. — resmunga o garoto, com toda a face avermelhada, que nem um camarão. A bolsa só aguentou por alguns milésimos, até estourar e espalhar o líquido verde por todo o smoking de Mazzy.

— Ah, que nojo, moleque! Você comeu o quê no café da manhã? Ensopado de batata? — enfurecido, Mazzy retira o seu conjunto de roupas e joga tudo no rosto de Koichiro, sem nem sequer hesitar. 

— Caramba, puta merda! Vocês não sabem ficar quietos?!? Eu disse, na hora do pouso, fiquem CALADOS! O plano está por um fio, vocês, fiquem aqui até a minha ordem! — exclama o capitão responsável pelo bordo, retirando-se logo após do veículo.

 O interior do "pássaro" é como uma imensa fórmula matemática, cada dispositivo tão complexo quanto jamais visto aos olhos de Mazzy e Koichiro. O único habitual contido seria o rádio comunicador, o ponto-chave de toda a missão. Os ruídos começam a ficar cada vez maiores, até que uma onda sonora invadira em um tom de surpresa crucial, onde com alguma certeza, o emissor parece ser o sargento. "Vocês tem que sair daí, de alguma forma, sem serem vistos, agora!"

 As névoas eram tão privilegiais que era dificultoso enxergar a dupla a olho nu, dependendo da distância. Passo a passo, já estavam passando em frente ao quartel general da unidade e só faltaria alguns metros até a saída. Até que foram abordados pela maior patente responsável, e em um minuto, a respiração dos três pareceu nula.

— Quem são vocês?!? Vou prendê-los, agora! — o comandante exerceu ordem imediata, com um tom grosso, forte, capaz de congelar até um soldado psicologicamente treinado.

 Por sorte, um soldado chegara em um exato instante tocando diretamente no ombro direito do homem e no mesmo minuto, prestou reverência. Serviu como um tranquilizante instantâneo.

— Eles são meus, xerife. Vou realizar o relatório e prender eles o mais breve possível. Em breve, encaminho até a sua respectiva sala. — diz o soldado, exercendo uma posição nitidamente de cargo inferior ao comandante, com a mão direita no peito. 

— Por que eles estão fedendo tanto? Você pegou eles em alto mar? Tem uma gosma verde em cada centímetro de um deles. 

— Bem, é que esse rapaz aqui, que parece ter alguma descendência com os ratos, acabou sendo traído enquanto roubava uma loja de penhores. A mulher dele estava com outro homem durante a ação. Triste, triste, comandante. — responde o sargento, inclinando o dedo indicador na direção do nariz do garoto, com um sorriso de deboche.

— Mazzy, eu vou estraçalhar esse cara no meio, eu tô te avisando. Ele acha que só por ser um soldadinho de chumbo ele tem proteção... — responde Koichiro, com a maior audácia possível em seu tom de voz. 

— Vamos indo. Até, senhor. — despede-se o sargento, pegando os dois indivíduos pelo braço e levantando direção até o setor de unidades departamentais. 

 Enquanto isso, no outro lado da escuridão, outra dupla encontra-se em apuros. E ainda por cima, são irmãos de sangue. Localizados no mais alto andar do prédio que abriga a Agência Nacional de Polícia, em meio às várias celas onde cada criminoso de alto nível já haveria passado em sua carreira, a deles sera a de maior proteção possível, com fileiras de aço inoxidável e um imenso portão que, vendo do exterior, contém a identificação em letras amarelas e grandes de "14A". A vantagem é que no interior, há uma beliche confortável e uma televisão com videocassete. Os dois, com uniformes da detenção, não pareciam endividados. Muito pelo contrário, o reencontro gerou bons diálogos e voltas no tempo.

— Irmão, cara, eu já não via a hora de te encontrar de novo. Você deixou saudades pra toda a família, não só a equipe em si. Maz' não vê a hora de te tirar daqui. Nós vamos sair. Juntos. — diz Yutaka, com uma aura de esperança que faz contorcer cada partícula da sala. 

O pessimismo já é de se esperar. O outro, não demorou muito tempo pra abaixar a cabeça e demonstrar infelicidade. Apontou o dedo na direção de um DVD por cima do videocassete e começou a falar.

— Eu acho que não tão cedo. A equipe precisa se reunir de novo, meu irmãozinho pé-de-pano. É a única forma da minha saída daqui. Quando você for embora, o que deve ser breve, reúna cada bloquinho que seja da Shori. Só que pra isso, você vai ter que encontrar um amigo meu, que vive em uma fazenda afastada em Sacramento, no condado da Califórnia. O nome dele é Ryo Shirota. Ao concluir isso, vou deixar ao seu cargo a função de desvendar mistérios, sherlock. — responde Kenzo, com um imenso sorriso no rosto. — Agora, coloque esse DVD no videocassete. Os federais me entregaram enquanto você tava dormindo, e eu também ainda não assisti. 

— Será que é do Maz? Isso é incomum. Federais entregando DVD? Parece que as locadoras estão em um índice elevado. Bem, vamos assistir então. — diz Yutaka, colocando o DVD no videocassete e ligando a televisão. 

 As imagens, lentas e esclarecedoras, construíam um belo filme de Suspense. O quadro principal mostrara uma trilha de fotos contendo informações pessoais do agente federal Kazuaki, que por sua vez, causara espanto nos receptores de agora. Essa só é a introdução do plano do albino, que de início, fez-se de benevolente, mas não é nada. É tão sujo quanto o próprio Roux em carne e osso. Isso se tornou claro nas próximas cenas.

— Kazuaki é o vencedor do uphill, com o seu Mazda RX-7, declarado representante da Shori Racing Team! — exclama o anfitrião da corrida de rua, com um apito preto na boca, apresentando o campeão e agora, atual dominador do território.

O choque é eminente. Como isso pode ser possível? Um agente federal, envolvido em corridas de rua? Só que isso já havia sido provado: com uma só palavra de Kenzo.

— Fujimara. Kazuaki Fujimara. Ele é da nossa família! Cara, isso só pode dizer uma coisa. Ele quer sangue por vingança! 

— Merda, merda, merda! Então... o Kevin está em apuros!


Shori: Original CourseWhere stories live. Discover now