– Não. E você tá parecendo minha namorada, cruzes. – me afastei do seu abraço por pura pirraça. Não iria deixar ela ganhar, não dessa vez!

– Que namorada? A que você não tem? – Olhou pra mim com uma de suas sobrancelhas arqueadas e rindo de lado.

– Poxa, que maldade… – Antes que eu pudesse terminar a frase, avisto o ônibus que nos levaria até Gwangalli. Nós o pegamos e sentamos juntos. No fundo, como de costume.

– Sua chata, eu tenho namorada sim! Você que nunca perguntou… – Menti, terminando a frase antes interrompida.

– Que mentira, gguk. Se você estivesse gostando, nem que se fosse um pouco, de alguém, você me falaria. – É, ela tá certíssima nesse caso. – Igual eu não consegui esconder pra você que gosto do Yoongi. – completou. Sério que ela tinha que falar desse cara?

– Tá, tá…

– Agora calado e deixa eu tirar meu cochilo – Ela se aconchegou no meu braço. Era uma preguiça ambulante essa garota.

– Lá vamos nós. – Falei baixo, me concentrando mais em achar meu fone, que estava em algum canto da minha mochila... Ou tentando.

– Chegamos!!

Ela falou, lê-se berrou, levantando os braços e quase me dando um tapa na cara, que por sorte consegui desviar. Uma pura estabanada.

– Cuidado pra não ficar sem amigo, sua cega. – Falei e ela olhou pra mim curiosa, não entendendo.

Depois eu que sou lerdo.

Fiz um sinal de deixa pra lá e continuamos caminhando até a praia.
O clima estava frio, o que fazia a praia ficar mais vazia do que já era. Ficamos andando sem falar nada por um bom tempo, apenas aproveitando a vista.
Ela estava pulando como uma criança, hora ou outra, fechava seus olhos e sorria. Algo em mim se remexia.
Talvez fosse aquele lanche da escola que me fez mal?

Ela ficou quase o caminho da praia inteira assim, até que abriu os olhos e pegou seu celular, parecendo procurar algo. Alguns segundos depois consegui escutar um toque muito conhecido. Ela tinha colocado Cheap Thrills, da Sia. Era uma de suas músicas favoritas, sempre que estava triste, com raiva, cansada, ou qualquer coisa do tipo, ela colocava essa música e esquecia completamente do mundo.

"Baby I don't need dollar bills to have fun tonight"
(Querido, eu não preciso de notas de dólar para me divertir essa noite)

"I love cheap thrills"
(Eu amo emoções baratas)

Era mágico como ela dançava, parecia flutuar. Desde quando nos conhecemos, ela gostava de dançar, tinha dias que colocavamos músicas dentro de casa e ficávamos dançando que nem dois idiotas. De vez quando, ainda fazemos isso.

– ASH! – Virou-se em minha direção – Quer comer algo? – tive que interromper a dança estranhamente boa da minha amiga, eu estava morrendo de fome e ela já estava na terceira música, parecia que sua energia não acabava.

– Você vai pagar? 'Tô sem um won* – Perguntou, fazendo bico. Mas é uma manipuladora mesmo , pensei.

– Se eu estou te perguntando, né? – respondi e ela me deu um tapa no braço. – vamos logo 220 volts, tem um quiosque alí. – Rimos e fomos brincando até a barraquinha.

Duas crianças de 19 anos .

Compramos uns espetinhos de Odeng e voltamos à praia. Sentamos um pouco perto da beira e ficamos conversando coisas totalmente aleatórias.

– O ano letivo já está acabando… – Ela puxou. Esse assunto não.

– É…

– O que você vai fazer, tipo, depois que acabarmos a escola?

– Eu não sei, Ash. É complicado. – Respondi, sincero. Eu não fazia a mínima idéia do que iria fazer.

– Eu quero fazer dança. Dança contemporânea. Você sabe que eu amo, só preciso perder uns quilinhos… – Era a maior paixão de Ash. Se eu a vi dançando seriamente umas duas vezes foi muito, mas foi uma das melhores coisas que eu já vi na vida, era incrível. Na verdade, ela era incrível em dança. Era suave, expressiva, doce, alegre; uma completa mistura que descrevia bem Astrid. Eu não sei de onde ela tirou que teria que perder peso, seu corpo era perfeito ao meu ver. Sim, ela não era nos padrões coreanos, passava longe disso, ela tinha sim um sobrepeso, mas isso não diminuía sua beleza. Tudo combinava perfeitamente com ela.

– Ash, você sabe que não precisa perder peso, seu corpo é perfeito desse jeitinho. E sabe também que isso não lhe impede de dançar. – Cheguei mais perto e a abracei de lado, sabia o quanto doía nela falar sobre esses assuntos. Astrid, desde que a conheço por gente, foi assim, com uma autoestima e autoconfiança quase subterrânea. E isso quase a levou de mim…

– Eu sei mas…

– Mas nada. Vamos, está tarde e 'tá ficando mais frio que o normal. – Me levantei e estendi a mão para que ela se apoiasse.

– Ok, ok, pai – Zombou e se levantou. Continuamos abraçados de lado até o ponto de ônibus. Realmente parecíamos um casal, mas não passávamos de dois melhores amigos bestas, que riam até do vento.

A casa de Astrid não era tão longe da minha, então não precisamos pegar ônibus diferentes.

– Vou te deixar em casa, ok? – Perguntei, ela odiava quando eu fazia isso, mas tinha medo que algo a acontecesse.

– Você sabe que não precisa, mas como é teimoso, se eu falar não ou sim não vai fazer diferença – Riu. Bem, era verdade. – Não sei porque me perguntou.

E assim fomos. Ela acabou dormindo no meu ombro, só que dessa vez em um sono mil vezes mais profundo.

ғʀɪᴇɴᴅs; jjkWhere stories live. Discover now