O CONFLITO - PARTE 3

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Dois dos quatro guardas que estão no escritório tentam me pegar, mas Mayson quase pula neles evitando isso. Nossa sorte eram os dois guardas que ainda eram fiéis a nós. Consigo desviar de tudo e sair do escritório com um foco: Jacob. Tenho que acabar com isso.

- Harley! - Mayson me chama, pela primeira vez olho para trás ao ouvir meu nome - onde você vai? Eu vou com você.

- Não, não precisa - eu tenho que cuidar disso - Mayson, esse lugar vai virar um caos total. Vai atrás da sua mãe e dos meus pais. Por favor, preciso que você faça isso.

- E onde você vai? - não respondo. - Por favor, cuidado, te encontro já.

Ele se vira e sai, eu me viro para o lado oposto. Mas me lembro de algo.

- Mayson - ele olha para trás, já sem o blaizer que estava na hora do baile - volta pra mim, okay?

Ele apenas me dá um sorriso reconfortante e se vira voltando a correr até a escadaria principal. Eu tinha que dizer aquilo.

- James! - digo pelo microfone. Nenhuma resposta. - James!!

- Harley! Não quero nem saber por que Jacob está convocando todos os guardas e indo em direção ao castelo.

- Não queira mesmo. Me fala pra onde ele vai.

- Okay, estamos chegando. Se esconde.

Entro na primeira sala que vejo e apenas espero o estrondo que vai ser quando eles entrarem aqui. Um medo tomando conta de mim.

- Harl... - ouço pelo fone, mas o bendito sinal está péssimo aqui dentro. - Ele foi pa... - droga.

Abro um pouco a porta e vejo que ainda estão lá fora, aproveito a deixa e saio do ármario, correndo o máximo que posso até a sala de jantar. Está vazia e muito calma. Não quero nem imaginar como isso vai acabar.

- Harley! - ele diz alto demais. Levo um susto e grito, tanto pelo susto, quanto pela dor latejante no tímpano.

- Estou aqui - digo disfarçando com a sensação de som voltando ainda.

- Ele foi para o jardim. Fique onde você estiver, vamos ver o que fazemos depois.

Não faz sentido. Por que ele iria para lá? Só pode ser uma coisa. Jacob sabe que vou para lá também.

- Não! Não vou ficar aqui.

- Harley, não... - arranco o fone do ouvido e piso nele quando o jogo no chão. Já chega e ordens. Já chega de pessoas se preocupando comigo e comigo. Chega.

Abro um pouco a porta e olho para os dois lado para ver quem está lá. Por algum motivo não há guardas aqui dentro - ainda - sendo assim, saio bem devagar, evitando ao máximo chamar atenção.

Chego perto da porta de saída e lá fora sim a dominação está total. Pensa Harley, pensa!

Depois de analisar todas as minhas possíveis chances e todas as saídas, não consigo me recordar de nada.

Entro novamente na sala de jantar e olho para todos os lados e uma luz brilha. A janela. Vou até a janela central, abro e me espremendo o máximo passando por ela.

Observo os guardas e estão todos distraídos com a entrada. Uma curiosidade - e em parte medo - vem até mim com o pensamento de onde o restante da guarda de Jacob está.

- Princesa? - me viro num susto e vejo um dos guarda reais, o que eu tive que ser grossa antes.

- Oi - digo o mais baixo que posso - por favor, preciso ir para o jardim dos fundos. Pode me ajudar?

Ele pensa um pouco, seus olhos são azuis cristais assim como os de Mayson.

- Claro, venha.

Preciso pedir desculpas a ele depois.

Damos a volta pelo palácio, ele com uma arma na mão e eu atrás dele pensando no que vou fazer quando estiver cara a cara com Jacob.

Paramos atrás da fonte do jardim e gotas de água começam a cair. Uma chuva está vindo, o que só piora tudo.

- Muito obrigada. - digo para ele - agora se proteja, okay?

- Mas...

- Só obedeça, por favor. - digo com máxima suavidade possível na voz. Não quero ser rude outra vez.

Ele concorda e se vira saindo. Estou sozinha de novo. Não quero Mayson em perigo, mas gostaria muito de tê-lo aqui.

Ouço um estrondo vindo de dentro do palácio e um grito. Um medo vem até mim.

- Jacob! - grito o mais alto que posso. - Eu cancei disso. Já chega! Já chega de tudo isso!

Passo pela fonte e vou até as árvores. A chuva engrossa e meu cabelo preso num coque passa a colar mo corpo depois da chuva o desmanchar.

- Eu passei anos da minha vida vivendo uma mentira. Mas posso perdoar muitas. Eu as perdoei! Por que você não faz o mesmo? - tiro cada uma das palavras do fundo do meu coração. Não faço a menor ideia de como me defender dele. Não tenho arma e muito menos sei lutar. Só queria que TUDO isso não exitisse.

- Falar é fácil. - ouço sua voz vindo de trás da fonte, de onde vim antes. Escondido no meio de tudo que eu sempre achei belo nesse lugar. - díficil é viver debaixo da sombra da irmãzinha princesa.

- Você só está exagerando. Para! Não tem motivo para fazer isso. Nossos pais te criaram! - ele me olha com uma cara de confusão. - eu agradeço muitíssimo as pessoas que cuidaram de mim. Mas você... - lágrimas começam a brotar - você viveu com os nossos pais biológicos. Não tem dinheiro que pague isso.

Ele começa a rir.

- Ah, não seja ridícula. Eu fiquei com o papai. Você com a mamãe e tudo por pura ambição.

- O quê? - eu fiquei com a "mamãe". Que mãe?

- Ah é mesmo. Você não sabe. Que pena.

As engrenagens começam a girar e algumas coisas passam a fazer sentido.

- Acabou Harley. - ele tira uma arma de dentro da calça.

Com a roupa do baile, exeto o blaizer, Jacob fica mais maduro. E é meio pertubador ver que ele tem semelhanças comigo. Me sinto meio burra por não ter percebido antes. Com a manga da camisa dobrada é clara a mancha de nascença, a mesma que a minha. Exatamente a mesma.

- Vai atirar em mim? - a chuva está caindo forte demais, o relâmpago clareando de tempos em tempos seu rosto sério - Vai? - as lágrimas escorrem sem controle, não consigo mais me segurar - Jacob! Você sabia de tudo, quem era nossa mãe e pai. Eu não sei. - bato a mão no peito - Eu! Atire se quiser. Só pense bem se você quer fazer isso com sua irmã.

Ele continua com a arma apontada. Meu coração ainda está acelerado. Mas algo no rosto de Jacob muda.

- Não posso. Não posso fazer isso. - ele fala sério.

Por um momento não entendo bem. Não sei a que ele se referiu.

Até que ouvimos passos e só o que vejo é Mary tentando pegar Jacob e uma bala vindo em minha direção. Então...

Só sinto o impacto de alguém se jogando em cima de mim e meu corpo dolorido pela queda. De momento não consigo ver quem é. Mas eu desabo ao ver Mayson baleado e caído ao meu lado.

Ele me salvou. De novo. E em minha mente tento com todas as minhas forças deixar de lado o pensamento que essa é a última vez que posso ver seu sorriso.


CONTINUA...



Entre Flores e Trovões [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now