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– Não vai fazer nada? – quis saber o amigo Marcos, olhando a expressão de aflição no rosto de Bruno.

Luana continuava com as amigas do outro lado do bar. Bruno não respondeu de imediato. Não sabia o que dizer. Ainda era o mesmo cara tímido dos tempos de escola. A diferença agora é que não tentava apenas chegar a uma garota bonita em alguma festa qualquer; a mulher que estava apenas algumas mesas de distância era alguém que ele conhecia muito bem e que já havia revelado muito sobre si mesma durante as conversas que eles tiveram. Ainda assim, era inexplicável a sensação agora, que fazia com que ele se sentisse um estranho perto dela.

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Não foi surpresa para ninguém, na roda de amigos, quando Luana e Bruno começaram a namorar. Os comentários já apontavam isso há semanas. Parecia que, diante de tantas aparições do casal, não haveria outra alternativa. Eles não se desgrudavam. Os colegas, claro, gostaram da notícia. Luana e Bruno, ainda que não se conhecessem até aquela festa meses atrás, eram amigos individualmente de todos na turma, o que só fez crescer a alegria de ver mais um casal nascer entre aquela turma.

Pouco depois, entretanto, as coisas começaram a mudar.

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Bruno tentou uma alternativa infantil, o que infelizmente fazia o tipo dele. Levantou da mesa, inflou o peitoral, arrumou a postura ereta e caminhou... Até o banheiro. Ele sabia que o banheiro ficava perto da mesa de Luana, e... Bem, quem sabe, se fingisse apenas uma ida até lá, ela iria vê-lo e chamá-lo para se juntar a ela. Ele obviamente fingiria surpresa e não demonstraria que já estava há mais de meia-hora com o olhar fixo na garota. Então ele foi. Caminhou devagar, passos lentos, na tentativa de adiar sua entrada pela porta do banheiro do boteco e assim dar mais tempo para a moça perceber sua presença. Olhou rapidamente para ela, tentando saber se ela o notava. Ainda assim, queria evitar um contato visual, fingir acaso.

Bruno entrou pela porta e trancou-a, sem nenhum contanto com Luana. Ele nem precisava utilizar o banheiro.

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Como todo começo de namoro, o de Bruno e Luana parecia um mar de rosas. Todos os dias se viam e programavam o que fazer no dia seguinte. Jantares românticos, cinema a dois, noites adentro na casa dele ou dela. Nada mais importava além da companhia um do outro. Aos poucos, se afastaram da turma que ajudou o casal a se formar. Os amigos sentiram suas faltas, queriam continuar com eles. Porém, ao longo do tempo, foram entendendo a necessidade de espaço. Parecia que todo casal se afastava um pouco dos amigos quando começava a namorar. Era assim que a vida era, afinal de contas, não é mesmo? Luana e Bruno precisavam de um tempo só para e nada mudaria isso.

Até aquele dia.

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Bruno voltou frustrado para a mesa. Luana não percebeu sua presença. Pelo menos era o que parecia.

– Vai lá, cara – insistiu Marcos. – Fale com ela.

Bruno mordeu os lábios. Ele a conhecia tão bem. Ainda assim, muito tempo havia se passado. Ele sequer sabia como abordá-la ou o que dizer.

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Ele não gostou nada quando recebeu a notícia. Luana havia finalmente passado no processo de seleção da Bolsa de Estudos pela qual sonhava há meses, antes mesmo de conhecê-lo. Ele sabia que deveria ficar feliz pela conquista da namorada, e ele até ficaria, se a Bolsa não fosse para um curso na Austrália e não durasse um ano. Definitivamente tempo demais. Ele tinha um ótimo emprego como engenheiro no Brasil, recebia um bom salário e uma promoção parecia se aproximar. Não poderia largar tudo para acompanhá-la. Luana teve de escolher entre o recente namorado ou um dos seus maiores sonhos na vida, uma oportunidade que poucos tinham e que faria com que seus pais se orgulharem dela.

As Mentiras que os Honestos ContamWhere stories live. Discover now