O Elevador

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Ele parou no corredor. Havia dois elevadores, e ele não sabia qual desceria mais rápido. Olhou para cima e viu que ambos estavam no mesmo andar. Resolveu chamar os dois.

Quando foi apertar o botão do primeiro, ficou em dúvida; havia dois botões, e ele nunca sabia qual apertar. Deveria apertar o botão da seta para cima, porque o elevador estava em cima; ou o botão da seta para baixo, porque ele deveria descer? Apertou qualquer um e esperou.

Depois de alguns segundos, que mais pareceram minutos, uma das portas se abriu. Ele entrou. De costas para o espelho, segurou sua maleta com as duas mãos na frente do corpo. Apertou o botão.

As portas se fecharam, e o elevador começou a subir devagar.

Parou. Ele olhou para o visor eletrônico, mas ainda não era seu andar. As portas se abriram novamente, e alguém apareceu. Uma mulher. Ela sorriu sem graça e entrou, parando exatamente à sua frente. O elevador continuou a subir.

Ela baixou os olhos, e ele aproveitou para olhá-la direito pela primeira vez. Era bonita. Estava com um lindo vestido preto, e os seios bem colocados dentro dele. Olhava o sapato, como se procurasse por algo, mas não fosse importante. Ele sabia que, na verdade, ela só estava tentando disfarçar o constrangimento.

Quando voltou a olhar na direção de seus olhos, ela agora se olhava no espelho. Arrumou a sobrancelha, passou a mão no cabelo e voltou à posição inicial. Fixou o olhar na parede do elevador, mas não sem antes passar os olhos pelo homem à sua frente. Rápido, antes que ele percebesse – o que não funcionou.

Ambos estavam parados a poucos centímetros um do outro. Ninguém falava. Ele pensou se deveria dizer algo. Ele era homem, deveria ser gentil. Não que estivesse interessado nela, mas... o homem sempre deve ser gentil. Odiava situações como essa. Não se sentia confortável em estar em silêncio na presença de estranhos com os quais não tinha assunto em comum. Ele nunca tinha. Sobre o que poderiam falar? Sobre o tempo? Parecia muito clichê. Ele odiava essas horas. Era tímido.

— Que tempo louco esse, não? Não para de chover há dias.

Ela o olhou rapidamente, como quem tomou um susto. Depois de conseguir conter a cara de espanto, adotou um semblante mais suave.

— Aham.

Foi tudo o que ela disse. Claramente não gostava de assuntos clichês. Ele mordeu os lábios. O silêncio já estava sufocante, e agora ele conseguira piorar.

— Pois é — ele emendou — Estranho.

Dessa vez, ela não respondeu. Olhou o teto, novamente como se procurasse alguma coisa. Gesto inútil.

Ele fingia ler alguns cartazes colados na parede quando o elevador parou. Ele achou que era cedo para isso, e realmente era. Olhou para o painel eletrônico e viu que eles não estavam em nenhum andar desejado. Pelo contrário: estavam entre dois andares. O elevador não se moveu mais.

— Será que... — disse a mulher. — Só me faltava ficar... — e começou a sacudir as portas, que não se mexeram. Ele apertou alguns botões, mas nada aconteceu. Ela, desesperada, pegou o celular na bolsa.

Quando começou a apertar alguns botões, o elevador voltou a subir.

A mulher relaxou e guardou o aparelho. Dois andares depois, ela saiu.

Quando a porta fechou, ele voltou a respirar.

Como todos os dias. 

As Mentiras que os Honestos ContamWhere stories live. Discover now