Carta para ti

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Meu quarto está um caos, mas a minha mente é ainda pior.

Você chegou e já tão rápido encontrou um lugar no meu peito para ficar. Você ficou ali quietinho e eu não me dei conta do teu tamanho. Agora que você partiu, eu sinto o vazio.

O pior de tudo foi pensar que você era diferente e, mesmo sabendo que todas as minhas tentativas anteriores falharam, eu confiei que nós construiríamos algo. Apesar de toda a minha insegurança, quando você me pediu para confiar em ti e acreditar na sua diferença em meio a tantos iguais, eu confiei. Eu fechei os olhos e acreditei porque todos merecem uma chance e você mereceu. Eu voltei a ser aquela garota de nove anos subindo a escada rolante no shopping perto de casa porque naquele dia eu conheceria o papai e ele me daria um balão colorido. Eu fui aquela criança. Eu me permiti. Mas, novamente, fiquei sem balões.

Mesmo depois de toda confusão, eu mantive a esperança de voltar, sentir o seu abraço e recomeçar. Eu acreditei que, no fundo, nós seríamos capazes disso. Acordar com notícias opostas dói de uma forma imensurável. Eu sinto o vazio. 

Eu queria poder correr até onde você está  — esse é o problema da rotina, pois eu sei onde te encontrar  — e me jogar nos seus braços. Mas eu sei que não posso. Eu sinto o vazio. 

Escrevo sobre ti porque não sei mais como chorar e essa é a única forma que encontrei de exteriorizar os meus sentimentos tão internalizados que dói. A cada instante que passa dói mais e eu queria poder ouvir de você que vai ficar tudo bem e que nós vamos dar um jeito nisso. 

Eu sinto o vazio e essa é a questão: eu preciso me preencher. Eu não posso mais esperar por ti para recomeçarmos juntos porque eu sei que você não vem e está na hora daquela garotinha esperançosa voltar para brincar de esconde-esconde aqui. 

Eu sinto o vazio e é por isso que eu preciso recomeçar sozinha. 

Não suporto mais o caos.

MetamorfasesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora