3. Na Casa Do Sr. Tumnus

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Sr. Tumnus morava em uma alta formação rochosa, e o caminho até a elegante porta entalhada de arabescos era um pouco acidentado, de forma que Lúcia e Clarissa praticamente se penduraram no pobre fauno em busca de apoio.

— Daqui a pouquinho vocês estarão confortáveis e aquecidas. – prometeu Tumnus rindo com ternura da dificuldade das meninas. – Vocês estão bem?

— Uhum. – afirmou Lúcia.

— Sim. – confirmou Clarissa.

As meninas pararam maravilhadas ao encarar a bela porta quase escondida no meio das rochas.

— Já chegamos! Venham! – incentivou Sr. Tumnus indo à frente das duas.

Não hesitaram em seguir o fauno, que abriu a porta com uma bela chave enfeitada de rocailles.

— Podem entrar! – pediu Tumnus fechando sua sombrinha.

— Eu levo pra você! – prontificou-se Lúcia tomando alguns embrulhos das mãos dele.

— Muito obrigado! – agradeceu Tumnus, ficando do lado de fora por um momento.

Ambas as meninas se encontraram em uma caverna escavada na rocha, disposta de maneira clássica e aconchegante. Uma lareira queimava e aquecia o ambiente, móveis de madeira escura eram dispostos organizadamente pelo cômodo e estantes cheias de livros faziam presença em alguns cantos.

Lúcia soltou um suspiro admirado enquanto colocava gentilmente os pacotes no chão.

Clarissa notou em um belo retrato feito a tinta, colocado em uma moldura de adornos barrocos, e o tirou de seu suporte, passando os dedos levemente no vidro.

— Ah, esse aí é o meu pai! – informou o fauno.

— Ele tem um belo rosto. – falou Clarissa.

— E se parece com você! – acrescentou Lúcia animadamente.

Em seu deslumbramento, nenhuma das duas notou que Tumnus trancara a porta e colocava a chave em um lugar alto o bastante para que nem Lúcia, que era pouco mais alta que Clarissa, alcançasse.

— Não. – murmurou Sr. Tumnus melancólico. – Eu não sou nem um pouco parecido com ele.

— Nunca conheci meu pai. Morreu num incêndio quando eu era pequena demais para me lembrar, junto com minha mãe. – murmurou Clarissa triste.

— Sinto muito. – murmurou o fauno, parecendo ainda mais triste que a menina.

— Meu pai foi lutar na guerra. – declarou Lúcia com um muxoxo.

— Mas o meu pai foi pra guerra também! Mas isso foi... Foi há muito tempo. – declarou Sr. Tumnus voltando-se para as meninas, que haviam deixado o retrato em seu devido lugar e agora olhavam os livros. – Antes desse inverno terrível.

Clarissa passou os dedos pelas lombadas dos livros lendo seus títulos, todos curiosos e pareciam ser de livros científicos. Embora fossem, é claro, de certo bizarro para a menina, que lia com olhos azuis atentos as letras que diziam de Ninfas e Seus Costumes até o semi-absurdo É O Homem Um Mito?

— O inverno não é tão ruim. – falou Lúcia, tão atenta aos livros quanto a amiga. – Podemos patinar e... Fazer guerra de neve. Oh, e tem o Natal!

— Aqui não. – falou Sr. Tumnus indo para a sala com uma bandeja que continha um bule, cubos de açúcar, uma pequena jarra de leite e três xícaras de belíssima porcelana. – Nós não temos um Natal há uns cem anos.

— Que? – perguntou Clarissa abismada. – Sem presente por uns cem anos?

— Só inverno. Nunca Natal. Tem sido um longo inverno. – confirmou Sr. Tumnus sentando-se em uma das cadeiras de frente para a lareira, enquanto as duas meninas se sentavam juntas em uma pequena namoradeira. O fauno não demorou a servir as meninas do chá. – Mas vocês teriam adorado Nárnia no verão. Nós faunos dançávamos com as dríades a noite toda e nunca ficávamos cansados! E a música! Ah! A música... Vocês... Gostariam de ouvir música?

𝒜𝓈 ℛℯ𝒹𝒻𝒾ℯ𝓁𝒹: O Leão, A Feiticeira e O Guarda-RoupaWhere stories live. Discover now