1 - Oeste

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"A noite se aproxima na colina
Enquanto do alto eu sinto a brisa
A farfalhar das folhas
e da chuva que se anuncia.

As rosas estão apodrecendo
A morte me é anunciada
Sem ninguém para lembrar
E sem saber o que está acontecendo.

Perdido na noite, caminho sozinho
Pensando naquilo que um dia foi lindo
O passado agora deverá ser enterrado
E com ele todo o meu legado"

O garoto parou de escrever um pouco e olhou para o horizonte. "Com ele todo meu legado". As palavras de sua humilde poesia ecoavam em sua mente. Escrita nunca fora seu hobbie favorito, mas tentava vez ou outro, enquanto fazia suas longas e corriqueiras viagens sem rumo. Indo de aldeia em aldeia, sobrevivendo em um mudo que não lhe pertencia mais.

-Vai para onde menina? – Perguntou o carroceiro.

-Oeste. – Limitou-se a dizer. Não queria conversar. O homem, rustico e calejado pelo trabalho, era do tipo desconfiada e o garoto sabia que só havia conseguido a carona graças aos seus cabelos longos e pele pálida.

"Aqui eu estou, quando me enviará um anjo?
Eu estou perdido na terra onde o sol nasce.
Meu único desejo é encontrar
Um lugar que para chamar de lar"

Ele novamente parou e olhou para o horizonte. Em seguida rabiscou os versos que fez. "Não existe lar".

- Oeste é um caminho muito longo. Se quiser que eu te leve lá, bem que poderia me pagar. – O condutor tirou o jovem de seus devaneios. Sua voz era cheia de malicia e mesmo sem olhar para ele, sabia o que se referia o pagamento.

- Fico na próxima encruzilhada. – Respondeu com o tom de voz baixo, frio e sem emoção.

- Não posso deixar uma moça tão bonita quanto você sozinha na estrada. Logo vai escurecer. Pode ser perigoso. – Apesar parecer, as palavras do carroceiro não tinha absolutamente nada de gentil. Mas o menino estava acostumado com esse tipo de pessoa e sabia como lidar. Ele não gostava de fazer isso, mas isso acabou tornando-se necessário.

De repente, a carroça parou sua lenta trajetória. O bruto levantou-se e foi lentamente para a parte de traz do veiculo, onde o garoto sentava de costas para ele. Suas mãos tocaram os ombros numa desconfortável e atrevida massagem enquanto sua boca, tão próxima da sua orelha escondida atrás de uma mecha de cabelo ouvia as asneiras e sentia o bafo quente soprado por ele. Quando aquelas mãos cheias de calos e dedos grossos começaram a deslizar seu robe o garoto sacou uma agulha que prendia seu cabelo e furou a mão do homem, que urrou de dor e imediatamente revidou com um soco.

- É isso que eu ganho por tentar ajudar? – Disse ele olhando para a quantidade imensa de sangue que jorrava de sua mão e sujava a carga da carroça.

- Eu disse que ficaria na próxima encruzilhada.

- Vai ficar aqui mesmo, para ser comida pelas hienas. – Com essas palavras o homem avançou em direção do garoto e nem viu quando a agulha lhe acertou no peito, perfurando o coração. O corpo caiu aos pês do garoto, que o revirou, saqueou e o jogou no chão. Limpo a agulha e novamente prendeu o cabelo. Pegou sua pequena trouxa de coisas e pôs-se a caminha, com o sol se pondo a sua frente. Ele não tinha muita noção de onde estava, mas isso não fazia diferença, já que ele não tinha destino para chegar.

"Em meus sonhos e devaneios mais loucos
Eu ando perdido em desejos
Minhas mãos tremulas seguram meu coração
Na tentativa, de conter os sentimentos, em vão.

Como se fosse um erro ou um crime
Sinto meu corpo todo estremece
Mesmo não podendo controlar
É algo que eu tenho que pagar."

Durante a noite, o garoto havia andado tanto que suas pernas começavam a falhar. Sua respiração era pesada e inconstante. Quando a lua crescente brilhava alto no céu ele resolveu que seria melhor descansar um pouco, mas estava longe de qualquer lugar e tudo o que tinha como abrigo era as arvores baixas, de troncos largos e copas cheias de folhas para se proteger do sereno noturno. Os animais noturnos já demonstravam sua presença com seus sons característicos. Ouvia-se o chirriar das corujas e rosnar de lobos ao fundo. O jovem decidiu que o chão não seria seguro, portanto escolheu um arvore qualquer e subiu, sem muita dificuldade. Encostou as costas no tronco e fez o possível para achar uma posição agradável no galho em que estava. O cansaço falou mais alto do que o conforto e em pouco tempo já estava dormindo, sonhando com dias que jamais voltariam.

Me Dê Um nomeDonde viven las historias. Descúbrelo ahora