Capítulo 2 - LARA

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 Você nunca sabe quando vai conhecer alguém

E todo o seu mundo, de uma hora para outra, muda completamente.

( Start of Something Good – Daughtry).


Deitada na cama do quarto do hospital, após uma série de exames, tento ajeitar o travesseiro enquanto ouço minha mãe:

― A boa notícia é que você não possui nenhum ferimento grave. Sua cabeça aparentemente está boa, embora eu acredite que o último parafuso que você tinha aí tenha ficado lá no asfalto. Mas você precisará ficar em observação por um tempo... em repouso, mocinha!

Aí está! O bom humor habitual retornou. Sei que ela continua preocupada, apesar de aparentar o contrário, então me obrigo a rir da piada para que ela fique tranquila.

Minha mãe, Suely, é uma senhora determinada e de fibra. Passou por maus momentos cuidando sozinha de mim, mas sempre foi forte. É uma mulher observadora e dona de um humor invejável. Sem sombra de dúvida, é minha grande referência.

Confesso que por diversas vezes senti falta de um pai, mas, em todas as vezes, minha mãe fez os dois papéis, saindo-se extremamente bem.

― Devo perguntar qual é a má notícia?

― A má notícia é que você vai precisar passar por uma cirurgia.

― Cirurgia? ― Sinto o meu coração gelar. ― Cirurgia para quê?!

― Sua perna, querida. Você fraturou a tíbia, por isso está doendo tanto.

― Gesso não resolve?

― Foi uma fratura bem feia, Lara. Gesso não resolverá.

― Mas não existe outro jeito?

― Sinto muito, filha.

Sinto calafrios ao saber que serei submetida a uma cirurgia, mas sinto uma preocupação ainda maior: cirurgia, quarto, exames, remédios... Quanto tudo isso custará?

― Mãe, por que estamos em um apartamento? Por que não estamos na enfermaria? Precisamos cortar gastos. Quanto vai ficar a cirurgia?

― Sinceramente, eu não sei. Quem vai pagar é o rapaz que te atropelou.

Até aquele momento, com tanta coisa em minha cabeça, eu ainda não tinha parado para pensar na pessoa que havia me atropelado.

― É o mínimo que ele podia fazer mesmo ― resmungo.

Minha mãe me olha com uma expressão estranha, parece não me compreender bem.

― Você deveria saber que ele foi muito solícito!

Solícito?! O cara não respeitou o sinal vermelho! Ele não está fazendo mais do que sua obrigação!

Omito esse pensamento de minha mãe, pois não quero discutir, quero apenas colocar meus pensamentos no lugar.

Droga! Sem jantar, sem viagem, sem nada! Em vez disso, uma perna quebrada e um galo na cabeça. Que falta de sorte!

― Quando é a cirurgia? ― Pergunto, tentando me manter calma.

― Sábado pela manhã. O médico está com a agenda cheia.

― Ai, meu Deus! Eu vou mofar aqui.

― Deixe de ser ingrata! As coisas poderiam ter sido bem piores.

Dois PassosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora