Capítulo 20 - Patrícia

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Eu gosto tanto de você que até prefiro esconder

Deixo assim ficar subentendido.

(Apenas Mais Uma de Amor - Lulu Santos)



Mau humor. Muito mau humor. Em parte, pela noite trágica de ontem, em parte pela TPM mesmo.

Estava tudo dando tão certo! Eu estava finalmente provando para Lara que o Guilherme gostava dela e aí aparece a Karen Pernalonga e atrapalha minha vida.

Enquanto ando pelas prateleiras do mercadinho próximo à minha casa procurando um item crucial do kit de sobrevivência feminina, penso em Lara e nas mensagens que trocamos hoje à tarde. Ela insiste que Guilherme é como uma antena quebrada, mandando sinais confusos o tempo todo e que tem medo de abandonar a estabilidade de um namoro de longo prazo para algo incerto.

Tenho vontade de esmurrá-la quando ela fala esse tipo de coisa, mas não deixo de entendê-la. Lara foi criada pela mãe e sempre sentiu falta de uma presença masculina. Ela ficava encantada quando ia até lá em casa e meu pai estava por perto.

Lara não é desesperada para casar. Ela é desesperada para formar uma família completa. Em minha opinião, ela se engana em pensar que isso trará felicidade plena, mas cada um tem seus traumas e cada um compreende sua própria dor. Eu também sou complicada na área de relacionamentos amorosos e não posso julgá-la. Queria apenas ajudar.

Encontro o item que quero. Aproveito e pego duas barras de chocolate, uma branca e uma preta. Pago pela mercadoria e volto calmamente para minha casa enquanto ainda penso no mesmo assunto.

O céu está estrelado e a lua enorme. Embora o céu esteja limpo, sem nuvens, a noite está um pouco fria. Inspiro o ar gelado e me sinto bem. No fundo, eu sempre soube que deveria ter nascido na Europa.

Continuo caminhando enquanto penso em como seria morar em um lugar frio. Eu poderia usar botas lindas, echarpes glamorosas e gorrinhos estilosos.

Sou quase uma europeia nata caminhando pela rua quando vejo o carro de André estacionado em frente à minha casa e sinto meu coração gelar. Automaticamente faço uma varredura visual na rua: nem sinal dele.

Imagino que ele esteja me esperando dentro do carro e me aproximo lentamente. Observo pela janela: vazio, ele não está lá.

Dou uma coçadinha na cabeça, tentando imaginar onde ele poderia estar e um leve pânico toma conta de mim quando penso em uma terceira possibilidade.

Entro desesperada na sala, e, para o meu terror, André está sentado com um copo de suco na mão, rodeado por toda a minha família, vendo álbuns de fotos antigas.

― Que marmota é essa? ― Pergunto quase em estado de choque.

― Oi, Pati! ― André me olha com uma cara totalmente lerda.

― Demorou, filha. ― Minha mãe sorri de orelha a orelha.

Demorei? Devo ter caído em um buraco negro então, porque mal saí de casa e, quando volto, já estão vendo fotografias.

― Quantos anos eu fiquei fora? ― Pergunto, procurando o relógio no pulso esquerdo e, só quando levanto o braço, é que me lembro que carrego duas pequenas sacolas: uma com duas barras de chocolate e uma com um pacote de absorventes.

André segue a sacola de absorventes com os olhos e eu sei que ele se segura para não fazer nenhum comentário na frente da minha família. ― O que está fazendo aqui?

Dois PassosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora