Capítulo Um

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Madrid, Capital Espanhola, Fevereiro de 1879

Blenda termina de guardar seus livros dentro da mala elegante, fechando-a logo em seguida. A dama acabara de por seus últimos livros dentro da mala. Dali a duas horas a carruagem chegaria para levá-la a mansão de Sir. Velásquez, um rico banqueiro, para instruir as filhas dele, duas menininhas gêmeas.

Pelo menos era o que lhe disseram duas semanas atrás quando fora designada para instruir as jovens damas Velásquez.

Blenda ministrava aula de arte e música, ensinava as jovens damas a pintar, a cantar e a tocar diversos instrumentos. E também claro sobre a história dos instrumentos, musicistas, compositores, e vez ou outra, os grandes filósofos.

Ela sabia que os homens hoje em dia, ainda não apreciavam muito que uma mulher fosse letrada e conhecedora das mais variadas correntes filosóficas existentes. A sociedade ainda era demasiadamente patriarcal, então para Blenda poder ministrar aula já era uma vitória, sendo que era uma das cinco únicas professoras da instituição a qual participava. Havia também as mulheres que não se importavam e nem desejavam tal sabedoria. Mas ela, no entanto, acreditava no potencial feminino, por este motivo, sempre buscava ensinar, mesmo que indiretamente suas alunas sobre ilustres filósofos, como Sócrates, Aristóteles e claro, Platão.

De todos, Platão era o que mais apreciava. Ensinado pelo também célebre Sócrates, mentor do genial Aristóteles, Platão era o fundador de vários ensinamentos que Blenda era apaixonada. Desde seus conceitos sobre a política e a republica, como seus ensinamentos sobre Ética e sobre justiça. O grego lhe fora o mentor mesmo sem ter conhecido-lhe, mesmo sendo praticamente mais de 400 anos mais velho que ela. Fora graças a Platão que seguira seu sonho.

Quando lera A Republica, escrita pelo gênio passara a compartilhar vários dos pensamentos que ele possuía, fora onde buscara forças quando chegou à hora do seu debut, e principalmente, quando fugira de casa.

Naquele momento, mesmo contra sua vontade, Blenda fora invadida pelas memórias de oito anos atrás, dominando-lhe a mente.

Quando o pai lhe dissera que ela deveria casar-se com Sir. Manfred Schneider, um empresário, rico e disputado. Cobiçado por quase todas as debutantes daquele ano, Beleza era de fato uma característica que também chamava a atenção, mas algo que ela certamente também percebeu era que ele era um libertino. E possivelmente jamais lhe seria fiel. Por este motivo, e suas idéias vanguardistas sobre a causa das mulheres poderem viver felizes, sem ter de depender de um homem, ela foi até o pai, que no momento estava numa conversa com o irmão sobre qualquer coisa, e apresentou-lhes um discurso apaixonante dos porquês de ela não poder entrar naquele casamento. Usando as inconstantes traições de Zeus, para com a sua esposa Hera, causando na mesma ciúmes e ódio, corrompendo-a em ciúmes. Falando também sobre os incontáveis casos bem conhecidos de libertinos que acabavam por contrair o matrimônio, mas nunca se mantinha fieis aos votos proferidos na igreja, tendo assim várias e várias amantes, possuindo um número assustador de bastardos.

Infelizmente, apesar o discurso ter sido maravilhoso ao ponto de encantar o tio, trazendo-o para o seu lado da causa, o pai não era e nem nunca foi um amante da filosofia, ficando enfurecido ao tomar conhecimento de que a filha poderia vir a ser impertinente demais, e que Sir. Schneider pudesse não apreciar ter uma esposa tão sábia, pois se uma mulher era inteligente e letrada, então poderia vir a dificultar a vida extraconjugal do marido.

Como castigo, o pai de Blenda a trancafiou no próprio quarto, podendo sair somente quando fosse necessário. Felizmente, seu discurso atingira alguém.

Este alguém ficou os cinco dias em que ela esteve presa trabalhando com afinco para ajudá-la. O tio.

Na sexta noite, o tio mandou através de uma criada o bilhete que mudou sua vida e lhe reavivou as esperanças.

BlendaWhere stories live. Discover now