Posso dormir com vocês?

231 15 1
                                    


Posso dormir com vocês?

Vancouver - Canadá

Cinco anos atrás

Era uma noite típica da cidade canadense, o frio tomava conta das ruas, fazendo com que as pessoas que se atreveram a desbravá-lo, se amaldiçoassem por tal, apertando seus respectivos casacos grossos contra seus corpos. Apressavam os passos em busca do aconchego do lar, indo para longe do vento gélido. Porém, o silêncio que se fez presente diante dos dois corpos que ocupavam naquele momento o quarto, no aconchegante apartamento ao qual moravam, chegava a ser ainda pior.

O ar havia se tornado escasso de repente, os pulmões do jovem casal buscavam oxigênio com dificuldades, mas por razões diferentes. Seus pensamentos seguiam a mil por hora desde que o loiro recebera a notícia, ou pelo menos vira. Nenhuma palavra fora dita, parecia ter se perdido por entre o caminho de suas cordas vocais.

Sentados em uma cama bastante confortável, de lençóis brancos e travesseiros da mesma cor, Robin parecia ter entrado em um transe desde que suas irises visualizaram o que lhe fora entregue. Tinha uma caixa de tamanho médio em mãos, e a segurava com tanta força que seria capaz de desintegrá-la. Era como se a partir daquele momento, segurasse seu mundo. E, de fato, seria. Pelo menos o anúncio dele.

Ainda estava assimilando a noticia que sua esposa acabara de lhe dar. Olhava fixamente para o conteúdo da caixa, seus olhos marejaram de imediato com aqueles dois objetos depositados ali. Apenas dois objetos. Mas os mais importantes de sua vida até o momento. Não sabia dizer o que se passava em seu âmago, era tudo tão forte, jamais sentira algo assim. O divisor de águas entre uma vida à dois e outra vida totalmente diferente, mas certamente repleta do amor mais sublime do universo.

Regina tinha suas orbes castanhas voltadas para a figura do loiro sentado ao seu lado, e para toda e qualquer possível reação que ele pudesse ter. Mas nada acontecia, ele continuava do mesmo jeito desde quando ela entregara a caixa, inerte, absorto demais para perceber a aflição que a estava consumindo. Seu coração batia descompassado, e seus olhos começaram a queimar pelas lágrimas que se juntavam no mesmo. Ela só precisava ouvir a voz dele, dizendo que tudo iria ficar bem, que estaria ao lado dela em mais essa. Que tudo ficaria bem no final. Será que ele não gostara da ideia? Será que foi precipitado demais? Afinal, eles não tinham muito tempo de casados, não é? O medo de uma possível rejeição lhe atingira em cheio.

Sua garganta doía tanto quanto seu peito naquele momento. Um aperto muito maior do que ela poderia suportar. O silêncio, que se estendera por mais tempo do que ela gostaria, trazia para a superfície todos os medos e inseguranças que lhe assombraram desde o primeiro segundo em que constatara como sua vida iria mudar, a vida deles iria.

- Robin... – o chamou, hesitante. Sua voz saiu baixa demais, afetada pelas lágrimas que queriam rolar por seu rosto, a garganta apertada e o choro sendo engolido.

Como se a voz da esposa estivesse o tirando de seu estado de torpor, Lockesley tirou a atenção da caixa branca. - Você está gravida? – perguntou, a voz tão embargada quanto a dela, o peito se contraindo, mas de uma alegria arrebatadora.

Agora ele tinha seus infinitos azuis voltadas para a figura dela, percebendo seus castanhos mergulhados em lágrimas. E fora ai que percebera que tinha ficado muito tempo absorto em suas ideias e no que acabara de descobrir. Regina meneou a cabeça afirmando, incapaz de proferir qualquer palavra, arrancando um sorriso de imediato no rosto dele.

Ao ver aquele sorriso brotando nos lábios do marido, o medo de uma possível rejeição se dissipara no mesmo instante, e ela sorriu junto, um sorriso largo e iluminado. Seus corações batendo descompassados, deixando toda a enxurrada de sentimentos os atingirem; e agora as lágrimas não faziam cerimônia, desciam livres por todo o rosto alvo. Um misto de alívio e alegria.

Primeiros PassosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora