QUINZE -Diferenças

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— Eles querem que eu fale com meu avô. — Felipa falou, enquanto eu vestia o uniforme preto que me entregaram, com exceção da cor, era idêntico aos que os soldados da luz vestiam.

Parei de fechar os infinitos botões da gandola para olhar para minha melhor amiga.

— Por quê? — Perguntei. — Como sabem?

Ela coçou a cabeça. Eu ainda não tinha conhecido nada daquele lugar fora aquele quarto, e Felipa tinha se oferecido para me mostrar o caminho para o meu treinamento. Pelo visto, ela queria um momento a sós.

— Não sei. — Felipa falou, sem me olhar. — Gava quer que os anti se juntem a nós.

Arregalei os olhos.

— Mas isso é totalmente insano! Os anti são quase tão terríveis quanto a ordem, eles aterrorizavam os jovens, sujavam tudo que os moquifos tinham a oferecer. Nos faziam fazer coisas terríveis por comida, eles... 

Felipa suspirou e se virou para mim, e eu contive minhas palavras.

— Sei bem o que faziam. — Ela retrucou duramente.

Engoli.

— Me desculpe, Felipa, eu...

— Acho que podem ter razão, se juntar para ir contra um inimigo em comum muito forte, é a coisa mais lógica a se fazer.

Soltei o ar, e voltei a terminar de fechar o uniforme. Balancei a cabeça levemente.  Já tinha passado o tempo de tentar negar meu envolvimento nisso tudo, de tentar ficar de fora.

— O que quer fazer? — Perguntei.

— Eu o odeio. — Ela falou. — O odeio por ter deixado meu irmão morrer, por ter deixado meus pais morrerem, e por nunca ter enviado ninguém por mim. Mas eu cresci com aquelas pessoas, e agora com a ordem, nem ao menos sei quem está vivo. Eles precisam de um lugar para se esconder, Theodora.

Felipa me olhava com seus grandes olhos brilhantes, como se quisesse me fazer entender. Ela não estava aqui por um conselho. Ela queria ver se eu estava bem com tudo isso. Felipa sabia do meu ódio pelos anti.

— Parece que já tem sua resposta. — Falei, dando um meio sorriso.

Felipa suspirou e fez que sim com a cabeça.

— Tudo bem. — A assegurei. — Confio em você.

A manipuladora de luz me olhou por alguns segundos antes de me abraçar. Forte.

— Obrigada. — Ela sussurrou, e então se afastou do abraço. — Agora vamos parar com todo esse mel que já estou ficando com diabetes.

— Falou a pessoa que pulou em cima de mim segundos atrás.



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A base ficava no subsolo, pude perceber ao andar pelos corredores apertados e sem nenhum tipo de luz natural. Felipa me guiava pelo que parecia ser um labirinto. Mesmo Felipa tendo decorado o caminho em um dia apenas, eu duvidada que poderia fazer o mesmo. Duvidava que eu poderia até mesmo voltar pelo caminho de onde tínhamos vindo caso necessário.

— Se parar para pensar, tudo aqui é bem lógico, os corredores são em forma de asterisco, na parte de cima da direita, estão os dormitórios. Da esquerda, é onde fica a enfermaria e quartos dos chefões, exatamente onde estava. E na parte de baixo as salas de treinamento, no centro cozinhas e depósitos.

— Claro. — Resmunguei. — Bem fácil.

— Já foi ver sua mãe? — Ela perguntou.

— Jase ia me levar mais cedo, mas preferi deixar para depois dos treinamentos. — Respondi, sem olhá-la.

— Theodora...

— Nem comece.

— Theodora... — Ela chamou de novo, dessa vez se pondo na minha frente, me impedindo de continuar andando.

— Felipa. Não quero falar sobre isso.

Ela bufou, mas saiu do meu caminho.

— Sabe que vai ter que enfrentar isso em algum momento, não é? — Ela perguntou.

— Já disse que vou depois do treinamento.

Felipa continuou liderando o caminho, depois de soltar uma risada ironica.

— Ela está dormindo, nem ao menos saberá que fui até lá.

— Sabe o que acho que está fazendo nesse momento?

Me virei para ela com as sobrancelhas erguidas.

— O que sempre faz: fugindo. — Felipa falou. — Não quer ter que ver ela daquela forma, não quer enfrentar os sentimentos que tem por ela, não quer resolver as coisas que ainda tem por resolver, por que a odeia, e a ama ao mesmo tempo. Por que ela foi a pessoa que te privou da incrível família que poderia ter, que te vez crescer rápido demais para cuidar de si mesma e de uma mãe doente. Não consegue lidar com o fato de ser sua mãe a pessoa por trás de tudo que vem acontecendo, e com o fato de que não sabe exatamente o porquê dela ter feito tudo isso.

Não consegui dizer nada. Eu sabia de tudo aquilo. Mas tinha aprendido que a melhor forma de lidar com as coisas era dando as costas para elas. Felipa tinha razão, eu teria que enfrentar aquilo tudo em algum momento.

As coisas eram diferentes do que eram nos moquifos.

Primeiro vi Stefano, virando o corredor em nossa direção, e vestindo um uniforme como o meu. E então logo em seguida vi Raphael, conversando algo com um homem mais velho que eu não conhecia. Naquele lugar, o comportamento do manipulador de fogo era completamente diferente. Ele conversava com determinação e segurança, pelo menos até que seu olhar percebeu minha presença.

Raphael não respondeu mais o homem que estava ao seu lado, e apenas sorriu para mim.

Meu coração disparou, e não consegui não sorrir de volta.

As coisas eram bem diferentes do que eram nos moquifos.

Eu não era indefesa. E não estava mais sozinha, pensei olhando para cada um dos três.



 Oláaa, dia um da maratona completed, o que acharam do capítulo?

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