Capítulo 01: Car's Crash

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O carro havia muito ficado para trás, as pernas tremiam e já mal sustentavam seu peso. O corte no braço esquerdo doía e sangrava sem parar, mesmo que fosse destra e seu braço não lhe fosse útil a nada no momento, a dor acabava com todas as suas forças.

Clara segurava um braço enquanto tentava correr o mais rápido possível. Olhava sempre por cima do ombro.

Ela já não tinha mais nada. O pai, morto no avião, à caminho da casa. O melhor amigo, morto minutos antes, tentando salvá-la. A empregada? Bom, essa era uma longa história.

Clara conhecia sua empregada desde que se entendia por gente, seu pai dissera que a havia contratado para suprir a ausência da mãe, que morrera após o parto. Mas ela não era o que Clara sempre achou que fosse.

Na noite de seu aniversário de 18 anos, a mulher se transformara em algo monstruoso, algo que ela nunca havia visto antes. Durante o evento, o pai estava na Inglaterra, do outro lado do mundo. Pegou o primeiro voo, mas o avião caiu no mar, sem sobreviventes. O melhor amigo foi a única opção. A terrível empregada, ou o que quer que fosse aquele troço, fora morta por Aaron. O garoto a colocou em seu carro e a levou para a auto-estrada.

- Aaron, pra onde estamos indo?

- Para um lugar longe daqui, você não está mais segura em Illinois.

Os dois passaram quinze horas viajando sem parar, as paradas feitas eram apenas para abastecer e comprar comida.

Clara não entendia. Não entendia o fato de estar sendo sequestrada pelo amigo, mas confiou nele, pois o mesmo estava salvando sua vida desde o acontecimento no apartamento. Seu celular fora varado pela janela. Ela não entendia ou aceitava o fato do pai estar morto e ela não poder fazer nada, nem mesmo ir ao seu enterro. Ela não entendia o que era tudo aquilo acontecendo em sua vida, no que estava sendo sua melhor fase!

Sua matrícula na faculdade estava ficando para trás graças a uma perseguição frenética, e eles estavam fugindo... Do que mesmo? Ela não sabia mais.

- Podemos voltar a Chicago, já não os vejo faz algumas milhas.

- Não podemos... Seu cheiro está terrivelmente forte pra uma filha de deusa menor.

Clara discretamente cheirou suas roupas, estavam perfeitamente normais, com o cheiro do perfume de flores silvestres, a pele tinha o cheiro do hidratante de frutas vermelhas. E que história era essa de "deusa menor"?

- Tudo bem Aaron, já chega.

O garoto não desviou os olhos da estrada.

- Aaron, você está me sequestrando!

- Não estou e quando chegar ao destino final, você entenderá tudo.

- Tudo o que?

Nesse momento o carro bateu em algo enorme que até o momento parecia invisível na estrada.

O carro capotou, depois de atingir o chão, rodopiou pela pista mais alguns metros à frente antes de parar no acostamento.

Estavam numa auto-estrada de Nova Iorque.

Clara respirava com dificuldade, algo havia perfurado seu braço na horizontal, fazendo o sangue gotejar pra fora.

- Ah droga! - Aaron sussurrou, olhando o braço da garota.

Ele se remexeu em seu assento o melhor que pôde, até tirar um papel do bolso.

- Aqui, siga mais alguns metros, até aquela colina. Chegando lá, suba e passe do Pinheiro, seja rápida. - Ele falou, entregando o papel a menina.

Ela o pegou, a cabeça ainda girando, e ela acreditou que isso poderia ter dado mais eficácia ao seu tratamento para dislexia, pois lera rápido o que estava escrito. "Acampamento Meio Sangue".

- Não vou deixá-lo aqui.

- Você tem que ir agora! - Ele gritou na última palavra. - Você é mais importante que eu! Sempre foi e agora mais do que nunca!

Ele olhava para trás a cada segundo, procurando a causa do acidente.

- Eu não posso.

- Ande logo Clara, você ainda tem tempo de fugir!

Clara segurou o rosto do amigo e o beijou ternamente. Afastou-se, ainda olhando em seus olhos. O menino tinha um sorriso nos lábios.

- Vá. Por favor, deixe-me salvar você!

Ela assentiu, com lágrimas nos olhos. Abriu a porta do carro e se dirigiu a colina.

O calor era de matar, o que fazia seu cabelo cacheado grudar em seu rosto e pescoço.

Olhou para trás e, o que quer que fosse, havia tirado toda a lataria superior do carro, deixando o veículo completamente sem teto.

Seus olhos se arregalaram e a menina voltou a correr.

Já se via cansada, quase chegando à colina, quando olhou novamente para trás. Por incrível que pareça, ainda era sua empregada... Mesmo que ela tenha sido, literalmente, transformada em pó na frente dos seus olhos, lá estava ela. O rosto lindo, com a diferença de agora estar com uma cicatriz branca onde Aaron lhe enfiara uma faca, o corpo perfeito até a cintura, dali pra baixo, a mulher tinha uma calda gigante de cobra no lugar das pernas, num tom vermelho acobreado.

- Achou mesmo que ele estava te sequestrando, ratinha? - Ela sibilou, e logo depois emitiu um ruído mais alto, o que lhe pareceu uma risada. - Devia confiar mais nele.

A distância entre ela e a mulher cobra ainda era muito grande, então a menina voltou a olhar pra cima, o pinheiro.

Ela voltou a correr, a visão turvando pelo cansado somada a perda de sangue. Começou a gritar por socorro, perdendo as esperanças de que chegaria viva a algum lugar.

Olhou para trás mais uma vez, agora a mulher já se encontrava bem perto e Clara já se dava por vencida. Continuou subindo aos tropeços, até se apoiar no pinheiro, o caule machucado, parecendo ter vivenciado vários momentos como aquele.

- Acha mesmo que essa arvorezinha de Zeus vai te proteger de algo? Que menininha ingênua.

De um bolso invisível a mulher tirou uma adaga, as lâminas duplas brilhavam em um tom de verde febril, algum tipo de veneno. Chegando mais perto, encostou a ponta da arma no ferimento de Clara, fazendo a garota gritar.

A menina escorregou na árvore, até se sentar no chão. Já não tinha mais de onde tirar forças para correr ou se proteger, então se entregou e aceitou seu fim.

A mulher ria e a observava.

- Dá logo um fim nisso! - Clara falou, com toda a força que lhe restava no corpo.

- Por quê? Te ver sofrer é bem melhor, ratinha!

As veias de Clara começaram a queimar, como se o veneno finalmente tivesse atingido o coração e começasse a se espalhar por toda a corrente sanguínea.

Seus olhos começavam a queimar, quando a menina ouviu um silvo e logo depois uma flecha atingiu o rosto da mulher serpente a sua frente. Ela gritou e o local atingido começou a brilhar em dourado, começando a desfazer a pele atingida pela ponta da flecha.

A respiração de Clara começava a descompassar, quando alguém a pegou no colo e desceu com a menina para o outro lado da colina.

- Precisamos de néctar! Arranjem uma jarra, é uma emergência! - O garoto que a segurava gritou para um grupo mais à frente. - Levem tudo para a casa grande, estarei esperando lá!

Foi a última coisa que Clara processou antes de apagar nos braços no garoto.

Black Amber || A Riordanverse StoryOnde as histórias ganham vida. Descobre agora