O sol estava deixando seus últimos rastros no céu e a lua estava finalmente se mostrando presente naquela noite parcialmente estrelada.
Era um bom horário para ficar indisposta com os seus deveres, talvez relaxar, comer um lanche ou até mesmo dormir um pouco, exceto, claro, quando você sentia aquela maldita necessidade bizarra de ir ao parque de diversões. Não era uma vontade sua, era uma vontade dele, o maldito palhaço monocromático de circo. Foi em uma noite igual a essa que você o conheceu e também quando inevitavelmente começou o sentimento forçado de ir visita-lo.
Jack já havia feito você se sentir dessa forma as vezes, era sempre um saco não poder ignora-la. Você nunca conseguia fazer, não importa o quanto tentasse.
Mas tirando todo o fato de que ele tornou sua vida mais difícil desde a sua primeira aparição, você era quase grata a ele por ter a poupado de uma morte bem violenta, claro que pra isso você teve que ganhar uma partida de baralho, mesmo com ele trapaceando.
Desde então, ele sempre aparece de surpresa na sua casa e lhe enche a paciência para que jogue alguma coisa com ele. É até engraçado ver ele implorando com as mãos para que você aceite a brincadeira proposta, meio infantil, mas adorável.
As vezes quando ele está com preguiça de mais para ir até a sua casa, ele faz você sentir a necessidade de ir na casa dele, o parque de diversões.
Agora, você caminhava bobamente pelas as barracas de recompensas. Esbarrando em algumas pessoas de vez em quando por causa da falta de atenção. Estava com a cabeça na lua e não ligava para cada ofensa que as pessoas mau humoradas lhe direcionavam quando não ouvia suas desculpas.
A culpa não era sua se você estava morrendo de vontade de encontrar um palhaço de circo.
Decepcionou-se depois de minutos andando e percebendo que o amigo não estava lá. O que era bem estranho considerando que ele sempre te esperava em um lugar bem visível para evitar algo como agora.
Você balançou negativamente a cabeça.
Era óbvio que ele estava por ai, se não você não teria sentindo aquela sensação de necessidade.
Cansada de procurar, você decidiu ir até a roda gigante aproveitar um pouco do parque. Era um desperdício ter saído de casa em uma noite tão linda como aquela para apenas buscar por alguém que havia te feito de idiota.
Sentou-se no banco vermelho e esperou estar bem no topo para fechar os olhos e respirar fundo.
Mesmo tão longe ainda era possível sentir o cheiro daquele lugar, dos doces, da pipoca amanteigada, das crianças suadas de tanto correr de um brinquedo para o outro, de algodão doce...
Na verdade, parecia que o último doce estava perto de mais. Quase como se estivesse na sua frente.
Respirou ainda mais fundo, amando o cheiro daquilo. Foi inevitável o susto que tomou assim que algo semelhante ao mesmo, tocou a ponta de seu nariz.
Estava ali ele, um grande e bonito algodão doce cor-de-rosa, sendo segurado por um palhaço muito sorridente.
— Jack, você está aqui! — Exclamou, surpresa.
— Eu moro aqui — disse como se fosse óbvio. — Eu trouxe ele para você, aceita? — Ofereceu o doce e você tomou-o sem reclamar. — Estava passando quando te vi lá de baixo. Fiquei curioso me perguntando do porquê está aqui?
— Hã? — Franziu as sobrancelhas em descrença. — Por que está me perguntando isso? Foi você quem me chamou aqui.
— Eu não fiz isso — disse Jack. — Bem, fico feliz que veio me ver, de qualquer forma.
— E quem foi o louco que disse que eu vim ver você? — Cruzou os braços, frustrada com o sentimento estranho que passou a sentir na presença do palhaço.
Jack cruzou os braços, agora ele quem estava indignado.
— S/N, eu conheço você. Eu sei que você não gosta de parques de diversões e também sei que tem pavor de palhaços.
— Está errado. Eu não tenho medo de você!
— Sério? — Sorriu monótono. — Não é isso que o seu cheiro me diz.
— O que ele diz então, seu maníaco lunático? — Ergueu o queixo, esperando que ele dissesse a próxima besteira.
O que não aconteceu.
Jack se aproximou um pouco de você e deu uma fungada forte no seu pescoço.
— Medo — ele diz, logo dando mais uma fungada. — Tem outra coisa também, algo que eu nunca senti antes...
— Ora, pare de me cheirar! — Irritou-se quando ouviu. Você só poderia estar ficando louca igual aquele outro ao seu lado.
— Eu tenho que ir agora, meu doce — deixou um selar de lábios na sua bochecha antes de se afastar. — Desculpa não ficar mais tempo.
— Apenas vá.
Quando notou que Jack já havia partido, deixou que um sorriso super bobo tomasse conta dos seus lábios.
Era estranho se sentir assim.
Um sentimento novo, mas muito gostoso.
Gostaria de se aprofundar mais nele, mas era estranho para você que a razão de toda a sua confusão e reações indesejadas fossem causadas por um maldito palhaço.
Passou o caminho inteiro até a sua casa pensando sobre o assunto. Se perguntando o que deveria fazer agora que sabia exatamente o que queria.
Suspirou.
Jack estava te deixando maluca.
— O que faz aqui? — Disse ao notar o protagonista dos seus pensamentos bem ali, sentando no seu sofá com a maior cara de louco.
— Seus pais saíram — sorriu. — Quer jogar um jogo?
