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Isaac

—Tu estás vendo a Giovana? — perguntei à Lenita, que estava sentada e eu estava com a minha cabeça em seu colo. Estávamos no intervalo e depois de comer um pouco, nos sentamos em um canto e ficamos ali. Eu com a cabeça em seu colo e ela fazendo cafuné em mim.

—Esquece essa menina, Isaac. Ela não merece nem os seus pensamentos, muito menos suas palavras.  — disse Lenita, com irritação em sua voz.

—Eu ainda gosto dela, amiga. Mesmo que ela não me queira mais, meu sentimento por ela não diminui. — disse, com certa emoção na voz.

Lenita não disse nada, mas eu sabia que ela estava irritada, pois os músculos de sua perna estavam rígidos e seus pés batiam no chão. O silêncio dela permitia que eu escutasse tudo que estava ao meu redor. A minha deficiência visual me fez desenvolver melhor os meus outros  sentidos. Então consigo saber como a pessoa está emocionalmente pelo seu tom de voz, pelo jeito que fala, e também pelo jeito que o seu corpo se comunica. E nesse momento eu sabia que Lenita estava extremamente irritada.

—Não fica assim, Lenita. — disse, levantando a cabeça de seu colo e escutando ela estalar a língua no céu da boca. Se eu ainda enxergasse, veria ela revirando os olhos.

—A menina brincou com você, Isaac. — disse ela e eu escutei ela se levantando. Escutava seus passos de um lado para o outro. — Ela só queria aproveitar o nome do seu pai e as festas que ele dava.  Quando ela viu que seria complicado demais ficar ao seu lado com a sua deficiência, ela vazou e já está ali agarrada a outro idiota que ela está enganando para ter acesso a coisas boas.

Lenita tinha falado alto o suficiente para Giovana escutar. Ela queria isso, que ela escutasse. Lenita sempre foi assim. Sua língua era afiada como estilete e não poupava ninguém de seus comentários.

—Para de escândalo, Lenita. — disse, tentando segurar o seu braço, mas ela desviou de meu toque. Então ela se calou. Escutei um som de sapatilhas sobre o piso e um cheio muito adocicado entrou em meu nariz. Pronto! Lenita conseguiu o que queria: confusão.

—O que você está insinuando sobre mim, Lenita? — perguntou Giovana. O som de sua voz faz com que todos os pelos de meu corpo se arrepiem, e sem reação nenhuma. Continuo sentado, ouvindo tudo em silêncio.

—Estou apenas dizendo verdades, Giovana. Me perdoe se a verdade dói. — Lenita fala e  Gi dá uma risada.

—Tu que estás se doendo de recalque, guria. Fica ai com inveja de mim pois eu consigo ficar com os garotos mais bonitos dessa escola e você, por parecer um macho não consegue nada. — disse Giovana. Eu sabia que aquele comentário tinha fervido o sangue de Lenita. Comecei a escutar o seu pé batendo insistentemente no chão, sinal que ela vai surtar em qualquer momento.

—De tua pessoa eu tenho pena. Pena do ser humano horrível que tu és. Uma garota fria, sem empatia e interesseira. — diz Lenita, com raiva na voz, mas sem alterar o tom. — Uma pessoa que brinca com os sentimentos das pessoas não merece respeito. O Isaac ainda vai acordar e ver que você não é a pessoa que ele pensa.

—Ver eu acho difícil. — ouço uma voz masculina e identifico como a de Miquéias, filho de uma empresária do ramo dos cosméticos e novo caso de Giovana.

—Ninguém aqui está falando com você, imbecil. — digo e escuto ele rosnar, mas sinto Lenita entrando em minha frente.

—Um covarde mesmo. — diz Lenita. — Você é podre, Giovana.

Isaac e os Olhos do Coração |Romance Gay|Where stories live. Discover now