O Primeiro Dia

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Já eram 6:15 da manhã quando o despertador vermelho de Summer toca como se fossem pequenos sinos de uma igreja insistindo para que acordasse, os primeiros raios de luz entram pela fresta da janela que deixara aberta para ventilar o quarto durante a madrugada. Levanta rapidamente e desliga a luz que havia deixado ligada a noite por conta de seu medo do escuro. Vai ao banheiro e se olha no espelho, percebe o quão acabada estava por mal ter conseguido descansar direito aquela noite. Deitou o rosto na pia e abriu a torneira, ajeitou seus cabelos curtos e embaraçados, levantou- se tão rapidamente que sentiu uma vertigem e sentou-se na cama ainda bagunçada. Olha para os livros desarrumados na prateleira, em cima de sua mesa, que tentou ler de madrugada e os ajeita. Sua coleção era composta pelos seu gêneros favoritos, suspense e terror. Ansiosa, já tinha deixado seus materiais da escola arrumados e suas roupas separadas. Veste um conjunto composto pelo o uniforme do colégio, que estava sendo parcialmente escondida pela sua jaqueta verde-escura, que pertencia ao seu pai, com alguns retalhos costurados nela, uma calça jeans desbotada que reaproveitara da mãe, e uma bota preta com cadarços até em cima, amarrou envolto a sua canela e deu nó. Sua mochila que se parecia mais com uma mala, guardava parte do material restante do ano passado. Descendo as escadas após estar pronta, encontra sua mãe tomando uma xícara de café que havia acabado de ser coado.
- Parece destruída. - perguntou a ela tomando um gole de café logo em seguida.
- Eu nem se quer dormi de tanto nervosismo.
- Não tem o porque de ficar nervosa, só é seu primeiro dia de aula com várias pessoas, sendo que a maioria não te conhece.
- Me sinto muito mais relaxada mãe, obrigada.
- Não há de que - disse ela dando uma piscada para Summer - Lave as mãos e sente-se a mesa, tem um banquete lhe esperando.
Summer correu depressa para a pia e, olhando no espelho, percebeu que seus olhos estavam circundados por enormes olheiras, tentou disfarça-las com uma maquiagem leve, retornou à mesa e sentou-se na cadeira. Pizza congelada. Apesar de não parecer adequado para um café da manhã, aquilo não a parecia desanimar, pelo contrário.
- Vossa Senhoria aceitaria um copo de suco? - falou sua mãe lhe dando um copo.
- Claro! - disse sorrindo.
Após comer, entrou no carro de sua mãe, um clássico El Camino 1988 que foi deixado de herança pelo seu avô para sua única filha, o banco estofado de couro já estava afundado, mas o cheiro de carro novo ainda completava os defeitos que o carro possuía por ser velho. Saindo da garagem, Summer liga o rádio em sua estação favorita enquanto abre um pouco da janela, estava fazendo frio por ser fim de inverno, os orvalhos se acumulavam e caiam na terra já molhada, dando o odor de grama molhada que trazia lembranças de sua infância. A música que tocava era "I Feel Good - James Brown", olhando pela janela lhe dava a sensação de que aquela música era a trilha sonora de sua vida, a trilha perfeita para o momento perfeito, sua mãe e ela adoravam essa música. Passando pelos arbustos cobertos por flores que haviam acabado de desabrochar naquela manhã, elas já conseguem ver o enorme portão da entrada da escola. Um complexo enorme que era feito de tijolos e possuía colunas de concreto, os gramados enormes por fora do colégio eram recheados de árvores frutíferas, haviam bancos e mesas feitas feitos de madeira para os estudantes na hora do intervalo, uma grande estrada feita de cascalho ligava o portão principal ao colégio e à biblioteca que ficava ao lado. Aquilo parecia mais um campus.
- Pronta para essa jornada?
- Então... - Summer fez cara de confusa e coçou a cabeça.
- Vai dar tudo certo, eu acho.
- Tchau mãe! - despediu-se dando um beijo na testa de sua mãe.
- Se comporta moça!
O sinal do horário de entrada toca e todos os alunos atrasados parecem ter chegado ao mesmo tempo. A porta enorme de madeira que dava entrada ao interior do colégio aparentava ser menor quando vários alunos passavam por ela.
À procura de sua sala, Summer caminha pelo corredor do segundo andar, esbarrando em vários alunos finalmente a encontra, sala 16. Percebe a enorme janela em uma das paredes e se senta na última fileira. A vista que tinha do bosque que envolvia o colégio trazia a garota um ar de inspiração. Após uma breve preparação, a professora finalmente dá início a apresentação do primeiro dia de aula. Pede a todos que façam um círculo com as mesas e que se levantem e se apresentem.
- Que desnecessário, isso é só uma forma de dizer "Ah, oi, eu tenho problemas iguais a vocês, mas diferente de vocês eu me chamo Tylor, total prazer ein". - disse o menino ao lado de Summer.
- Prazer garoto problemático - disse ela dando um leve sorriso.
Após o segundo sinal ter tocado, concluiu que a sala era composta por exatos 22 alunos incluindo ela, sendo 17 garotas e 5 garotos. Todos voltaram ao seus lugares, Tylor sentou-se atrás de Summer.
- Como você veio parar aqui? - disse olhando para janela com o braço sustentando a cabeça.
- Minha mãe me mandou pra cá porque eu não me adaptava aos outros colégios.
Depois de seu pai morrer, sua mãe, abalada, tentou mesmo assim tirar um sorriso de Summer todo dia, fazia com que cada piada fosse cada vez mais engraçada que a anterior, mas ainda preferiu que a filha fizesse um acompanhamento psicológico. Sua psicóloga Dra. Kyun, uma mulher que aparentava gentileza em seu rosto doce, foi quem lhe acompanhou por longos 2 anos. Ao longo desse tempo, algo chamou a atenção da psicóloga

"Summer Naives, 6 anos. Sua mãe veio a minha procura após relatar que a filha não tem se adaptado bem a escola desde a morte de seu pai no dia 25/03/2003. Summer diz também que tem pesadelos frequentes após o acontecimento, mas o curioso foram sonhos que a garota teve antes do incidente com o pai. Dizia estar com o pai no topo na colina Montgomery, quando subitamente o pai se joga do alto para as nuvens, onde desaparece. Três dias depois o avião onde estava Jake se choca contra a colina"

Forçou-se a lembrar o que havia dito para a Dra. Kyun aquele dia, mas suas memórias parecem ter sido varridas.
- Faz tanto tempo... - sussurrou.
- Summer Naives! - exclamou a professora.
-Presente!

About The Last Night Where stories live. Discover now