After The Darkness

Assalto

Troy Otto sempre foi um garoto tranquilo, quieto e gentil com todos, apesar de seus traumas passados, nunca se deixou abalar.

Ele perdeu seus pais em um acidente de carro quando tinha apenas 6 anos de vida. Consequentemente, acabou indo morar em uma casa de apoio para crianças e jovens, onde cresceu e viveu até seus 19 anos.

Nos dias de hoje, o rapaz mora com seu namorado, Mike.

Ambos viveram no mesmo orfanato, cresceram juntos, passaram de amigos para casal durante a adolescência.

Se descobriram juntos, planejavam um futuro juntos.

O problema é que nunca sabemos o dia de amanhã, tudo pode acontecer, certo?

Pessoas morrem e nascem o tempo todo. No mundo todo.

Imprevistos, desencontros, basta uma saída rápida até a farmácia para mudar o destino deles, para sempre.

Segunda-feira, exatamente 00:00.

Otto passou o dia todo com seu típico mal humor causado por uma enxaqueca, o que acabou resultando em uma pequena discussão com seu namorado.

Saiu sozinho de casa em busca de uma farmácia aberta, era difícil encontrar algo funcionando ali perto, ainda mais naquele horário.

Mas sua teimosia falou mais alto e mesmo sabendo dos riscos de sair em plena madrugada pelas ruas de Londres, ele continuou dando passos largos pela calçada cinza, velha, sem reparos.

De beco em beco, distraído com seus fones ligados ao máximo tocando uma de suas músicas favoritas, ele sentiu algo tocar sua cintura com certa força e o jogar contra o chão, puxando os fios do fone junto ao aparelho onde tocava a música.

Troy gemeu baixo pela pancada contra chão frio e arregalou os olhos ao ver três caras enormes e mascarados, ele tentou se levantar e correr mas os outros foram mais rápidos e o puxaram para dentro do beco escuro, pegaram todos os pertences "valiosos", como carteira, celular, a aliança que Mike havia o presenteado, tudo.

O deixaram apenas com a roupa do corpo.

Mas isso não era o suficiente.

Quando Otto tentou correr, foi pego de surpresa por braços fortes o agarrando novamente, sendo jogado contra a parede, caiu ao chão sentindo o sangue quente escorrer por sua boca e resmungou um pedido de socorro.

Silêncio.

O mais grande começou com alguns pontapés no tronco do garoto que chorava sem conseguir levantar.

Recebeu socos por todo seu corpo, diversas marcas já eram visíveis e ele poderia sentir que não iria sobreviver aquilo.

Até que o último chute chegar.

Certeiro em sua cabeça. Aconteceu.

Silêncio.

Poucos segundos e "puft".

Olhos fechados. Tudo escuro. Não existia mais luz. Parado. Tudo estava paralisado.

Olhares desesperados para o garoto jogado no chão, sem vida?

Talvez.

Arrependimento, sentimento predominante nos homens que estavam ali com os pertences do garoto no chão.

Tirar ele dali?

Seria uma boa opção?

Eles não querem ir para a cadeia.

Ser preso pela morte de um jovem?

Em Londres?

Não.

Isso não poderia acontecer. Doncaster, isso.

Doncaster, era o caminho deles mesmo, por que não deixar o garoto lá?

É uma cidade pequena mesmo, ninguém vai ligar. E foi isso que aconteceu.

O medo, agora eles tem medo? Espancar um garoto e o jogar em uma cidade vizinha? Isso é burrice?

Talvez seja, mas foi a única saída que três ladrões de carteira acharam.

Poucas horas dentro de um carro velho e pronto.

Bastou um beco e tudo acabado.

Troy Otto, 19 anos, estudante, noivo do até então "homem da sua vida". Mike Trimbol.

Estava ali, ainda desacordado, jogado no chão sujo e molhado pelo sereno da noite calma de Doncaster.

O mal cheiro causado pelas lixeiras ao lado era forte. Então era isso?

Ele morreria ali? Sozinho? Sem ninguém para ajuda-lo?

Talvez!

A madrugada passou, lenta, árdua, fria.

Em Londres, Mike já estava dormindo, pensou que seu garoto poderia ainda estar bravo, então apenas apagou por não aguentar esperar acordado.

Péssima idéia.

O sol finalmente se fez presente em ambas as cidades, e enquanto Mike acordava para ir trabalhar, Troy estava no chão de um beco qualquer de Doncaster.

Até que a movimentação da pequena cidade finalmente começou.

Um grito, um pedido de socorro.

Nicholas estava a caminho do seu trabalho, ele era novato. Sua primeira semana como enfermeiro e já começou com certa... emoção? Talvez?

Assim que escutou o pedido de socorro vindo do beco que passara perto, correu até a moça que estava tentando acordar o garoto alto jogado no chão, machucado, o sangue já seco por todo o corpo o deixava com uma aparência "assustadora" de certa forma.

Clark paralisou ao ver tamanha crueldade, quem diabos faz isso com alguém?

Qual o motivo para machucar uma pessoa a esse ponto? Ele estava confuso, mas voltou para a realidade e verificou o pulso de Troy.

Encarou o rapaz desacordado por alguns segundos, ligou para a emergência e se viu suspirando aliviado ao perceber que ele ainda estava vivo, fraco, mas vivo.