Capítulo 7 - Fantasma de um passado que assombra meu futuro.

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Beck estava na estrada, o dia foi agitado para não dizer estressante.
O que a Tori tem? Ela anda tão esquisita que o rapaz nem reconhecia sua amiga mais.

Ele nem queria lembrar do recreio de hoje, onde viu Vega explodir em raiva, ela e Jade quase partirem para a agressão física e os olhos azuis de West avermelharem de segurar as lágrimas. Será que só ele notou o quanto aquela discussão desnecessária machucou Jadelyn? Provávelmente, parecia obcecado, notava cada detalhe.

Todos do grupo estavam extremamente decepcionados com Victoria. Era impressionante até onde ela chega para ser a número um, arrumar discussão por ciúme? Ela já foi mais do que isso. Beck se lembrava das vezes que eles saiam juntos e algumas terminavam na cama. Tori sempre foi enérgica e divertida.

Mas agora era uma princesinha intocável cheia de estrelinhas douradas no topo da tiara. Andando nos saltos sem tropeçar como uma deusa pela escola, aquela de que todos os professores comentam e os alunos também, positivamente, claro. Vega nunca abandonou os amigos esquisitos, mas cresceu tanto quanto seu ego, pessoas novas chegavam e ela sempre mantinha os melhores por perto para ter um status impagável.

Quando ela deixou de ser uma das estranhas? Aquela garota legal e atrapalhada que fazia idiotices como desenhar bigodes de marcador no próprio rosto imitando um sotaque sabe se lá de onde apenas para fazer ele, Cat, Robbie e André rirem quando estivessem chateados.

Beck revirou o fundo de suas memórias. Ele não queria ir para casa, seu pai estaria na frente da televisão rindo de programas cujo sentido Alberto nunca encontrou, a sua mãe na cozinha ou no quarto jogada na poltrona com aquele olhar sonhador e se perguntando se o futuro poderia ser tão bom quanto o passado foi, se recompensaria o presente infeliz.

Talvez seja por isso que ele saiu de casa, nunca entendeu direito, mas talvez seja que fechar os olhos para uma vida sem graça, um presente cujo o passado não morreu e pais que sempre lhe dizem o que é certo e errado até ele perceber que pelos limites que tinha, acabava deixando de usar seu verdadeiro potencial apenas para seguir o padrão que queriam que ele se encaixasse. Beck nunca pôde culpar eles por serem assim, tão desapegados a seu verdadeiro filho e apegados a visão que tinham dele, ambos os coração dos pais de Beck eram em parte vazios mas com proteção de sobra para dar desde que sua única irmã partiu dessa para sabe se lá onde, talvez um lugar melhor. Seu pai só não sabia como usar essa proteção e seu exemplo paterno foi apenas degradando aos poucos já que ele não passava um dia sem uma lata de cerveja para sentir que o mundo era um lugar mais aceitável agindo como um idiota.
Sua mãe, era o típico dona de casa adorável, ela às vezes chorava trancada no banheiro e fingia que o produto que ela usou era forte demais. Kristine sentia o chão desmoronar cada vez que o marido colocava um cigarro nos lábios e incentivava Beck a fazer o mesmo, George nunca era agressivo com ela, apenas um pouco babaca. Mas quando viu seu filho sair de casa, mesmo que fosse para morar no quintal, descobriu aos poucos que estava ficando sozinha. A saúde de Geroge piorava um pouco mais cada semana, Alberto era distante e a sua garotinha ela perdeu.

E Molly... Como ele sentia falta dela.
Como Molly morreu? Anos atrás voltando do recital de ballet, o pai de Beck estava no carro, a garotinha insistiu para sentar na frente e ensinar ao pai alguns dos passos mostrados no pequeno show. Beck e Kristine estavam numa reunião com os diretores de Hollywood Arts, eles achavam que os irmãos tinham talento para o mundo artístico. A garota estava ansiosa para aquele recital mais do que tudo, a escola recreativa fez questão de que ela fosse a principal. No caminho, Molly soltou o cinto para se sentir "mais leve", ela dançava sentada no banco da frente, feliz por ter feito seu solo. George sorridente olhou para o lado... O carro bateu, um homem descuidado andando na contramão deu de frente com o dos Oliver. Molly foi jogada para fora com tamanha brutalidade enquanto apenas queria dançar. Horas de tentativa, mas um tempo depois ela morreu no hospital. É duro uma criança resistir um acidente.

Naquele mesmo ano, Beck entrou no colégio. Ele logo tinha um grupo social, a garota bonita e divertida, o nerd do boneco, o melhor amigo músico, a menina estranhamente alegre e ele que por motivo nenhum era o cara legal e com cabelo bonito.
Quanto mais os amigos sabiam de Beck, mais fácil era pra ele lidar. Tori foi o maior apoio dele, ela era tão doce e prestativa que em inúmeras vezes eles chegaram a sair sem nunca perder a amizade.

Mas por agora parece que ele perdeu a essência daquela Victoria, a mesma que dava broncas na irmã mais velha para parar de se engrandecer e abraçava ele quando o aniversário de Molly chegava.

[...]

Beck suspira estacionando o carro dentre as árvores e andando até um parquinho para crianças, o garoto nasceu no Canadá após uma viagem dos pais de férias mas a irmã nasceu nos EUA. Eles se zoavam o tempo todo por isso, "irmãos de países diferentes" diziam. E algumas vezes dava em discussão. Mas sempre que estavam bem... Eles andavam quatro quadras apenas para brincar ali, naquele sujo e empoeirado parque.

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Agora sabemos quem é Molly e o que aconteceu com ela.
Espero que tenham gostado do capítulo! Obrigado por lerem, votem na história e compartilhem para ajudar a crescer. Até o próximo capítulo!


Daddy Issues • Bade [hiatus]Where stories live. Discover now