Verso 2

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Seus olhos lindos como flor

Marinette não tinha dormido a noite toda praticamente. Um cochilo, talvez. Mas não uma noite de sono digna. Ela estava mais desligada e sonolenta que tudo. Não tinha pego seu casaco, nem dobrado a sua calça (que agora estava grande demais), as sapatilhas não estavam calcadas certo, o cabelo desarrumado e nem tinha conseguido fazer seu delineado. Uma Marinette acabada, diria.

Adrien, Chat Noir, Adrien, Chat Noir. Seus pensamentos não podiam se concentrar em uma pessoa só?

Quando ela passou pela porta da frente, todo mundo encarou a versão "estragada" dela. Não. Estragada não é a palavra certa, já que mesmo daquele jeito ela continuava com a sua beleza exótica natural.

Ela se sentou ao lado de Alya que largou o celular para encarar a amiga.

"Nem pergunta. Não dormi nada essa noite", bocejou e afundou a cabeça na sua mochila, fechando os olhos.

"Amiga, você tá acabada", Alya ri e Marinette geme frustrada.

Outros alunos vão entrando na sala, questão de um ou dois minutos. Alya retoma suas atividades no celular e Marinette continua enterrada com a cabeça na sua bolsa, tentando dormir nem que seja cinco minutos.

"Bom dia, gente", Adrien saudou com sua animação matinal adicionada à possibilidade de Ladybug ter lhe enviado um cartão de dia dos namorados.

Marinette já tinha dormido, então não respondeu o loiro. Já Alya ergueu o olhar para ele e arrumou os óculos na sua cara.

"Bom dia para você pelo visto, Agreste", a ruiva diz maliciosa e o loiro cora.

"Eu... hm, a Marinette tá dormindo?"

"Acho que tá", a ruiva sacode a amiga e ela dá um pulo.

Suas costas batem na cadeira com agressividade. Ela coça os olhos arregalados e diz:

"Tô acordada!"

Os amigos riem da reação da azulada confusa.

"Só continuar assim", Alya ergueu os polegares e fez uma cara de apoio.

Quando Marinette olhou para frente, não viu Adrien. Viu Chat Noir. A linha do sorriso curvada igual à do amigo gato, divertida. O verde dos olhos do garoto se expandiu e o mesmo olhar queimante e apaixonado por Ladybug apareceu ali.

Maluca. Ela estava maluca.

Olhos verdes, cabelo loiro, coração puro. Talvez não tão maluca assim.

Arregalou os olhos assustada com a própria conclusão e de repente saber a identidade do parceiro parecia ser seu mais novo objetivo.

Não seria tão fácil assim, não é?

● ● ●

"Ladybug" saudou Chat galante, beijando a mão da heroína.

Estranhamente - para o gato - a joaninha não afastou ou fez qualquer comentário. Se ele soubesse o quanto aquele contato tinha mexido com ela, teria dado outro beijo. O sangue se acumulou nas bochechas e a cor avermelhada foi encoberta pela máscara e não ficou visível para o companheiro gato dela.

Ela teve que piscar umas três vezes para se tocar aonde estavam e porquê.

"Eu..." as palavras sumiram e a garganta trancou. O gatinho notando o quanto ela estava diferente, se aproximou três passou e franziu as sombrancelhas.

"Tá tudo bem, my lady?"

Por que tão perto?, ela pensava quando o rosto dele estava a centímetros do seu, impedindo qualquer linha de pensamento concreta e pura. Qualquer vestígio de sono sumiu quando olhou nos olhos verdes dele.

Tão perto.

A heroína joaninha deu um passo em falso para trás, mas não tinha chão para trás. Ela caiu do pico da Torre Eiffel, mas dessa vez ela tinha o ioiô para salvá-la de uma possível queda.

Ainda extasiada e quente, ela ouvia o som do helicóptero mais e mais próximo dela. Ela ia cair em cima do helicóptero de reportagens.

Lançou o ioiô num ferro da Torre e caiu nela novamente, rolando. Ela contou até cinco para tomar coragem de lutar contra o akumatizado e ver Chat Noir novamente próximo dela.

Quando que o parceiro se tornou isso para ela? Talvez assimilar a identidade dele com a de Adrien tenha confundido sua mente o suficiente para pensar nele dessa forma. Ou melhor, não pensar.

Mas agora ela tinha que lembrar que era a confiante e impecável Ladybug, não a desastrada e confusa Marinette. Não podia se dar o luxo de sentir tantas coisas por aquele gato preto. Suas reações quando apaixonada nunca são as melhores.

Corada constantemente, gaguejar, falar coisas sem sentido, ficar nervosa, embaralhar palavras. Ela realmente tinha que pensar em Paris.

"Tchau, tchau, borboletinha" acenou para a borboleta branca que antes era mais um akuma do mal.

"Será que podemos conversar?"

E lá estava ele perto o suficiente para fazer um alerta dentro dela apitar. Perigo. Gatos são tão frios que necessitam de calor de outro indivíduo para se manterem aquecidos? Porque, não é possível. Ou ele realmente gosta de estar perto dela toda a hora, ou talvez ela que nunca percebeu a proximidade como um problema real para ela.

"Hora outra talvez", droga. Proximidade dos infernos. "Outra talvez hora, quer dizer... Talvez outra hora. É. Talvez outra hora?"

O gato fez um bico confuso. O embaralhar de palavras o lembrava alguém, mas quem?

"Quando você quiser, my lady."

Bendito apelido, maldito gato. Ele deu um beijo na bochecha da joaninha, estendeu seu bastão e sumiu no horizonte. Deixando uma certa garota com sentimentos confusos e vontade de se matar ali mesmo.

Ela pousou a mão na bochecha e observou o ponto onde o gato sumiu. Aquela mesma sensação do sonho apareceu novamente. Quente, avassaladora, amável, verde, felina.

Que personalidade se escondia através daquela máscara convencida e preta?

Eu te olho me perguntando

Azuis como a sorteWhere stories live. Discover now