Verso 1

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Seu cabelo é escuro como a noite

Apoiada na sacada da varanda acima do seu quarto, Marinette observava a mais linda e celestial Paris: a cidade do amor. Ela sentia uma pitada de raiva por ter entregado o cartão para seu amor e não ter assinado. Burra, ela pensava enquanto suspirava.

Você têm a chance da sua vida e estraga! Parabéns, Marinette. Parabéns.

Hoje era dia dos namorados e Marinette tinha escrito um cartão para Adrien Agreste, o garoto pelo qual ela se apaixonou. Ela e suas tentativas fáleis de demonstrar seu amor. Sempre davam errado! A faziam pensar se ela devia realmente sentir esse sentimento pelo modelo.

No seu pequeno momento de reflexão, um lampejo se ilumina na sua cabeça. A luta com o Cupido Negro, mais especificamente o seu beijo com Chat Noir. Ela se pega pensando no que ele iria dizer e como tudo oque devia ser dito foi diminuído à um eu te odeio. O contrário do ódio é o amor, estaria ele, Chat Noir - o garoto mais convencido, narcisista, galante, porém de coração puro, apaixonado por ela?

Não! Aquele gato idiota só sabe amar seus bíceps.

Outro lampejo cruza sua mente agora. O dia que ela conheceu Adrien Agreste. O dia que ela conheceu o bom coração de Adrien Agreste e passou a amá-lo com o seu. As lembranças de ódio e raiva com ele são tão vagas quanto os momentos que Chloé foi legal com ela.

Inteligente, lindo, capa de revista, aluno dedicado, tocava piano, dançava bem, sabia desfilar, lutava esgrima, falar chinês e tudo aquilo parecia apenas os bônus do garoto. Marinette se apaixonou pela sua bondade, gentileza. O guarda-chuva preto ainda estava guardado no quarto dela. Ela queria devolve-lo, mas fazia parte de uma lembrança tão boa que ela não queria desapegar por nada nesse mundo.

Do verdadeiro Adrien Agreste. Não da imagem construída por Gabriel Agreste, não pelo que a sociedade espera dele, mas do seu verdadeiro eu. Mal sabia a garota que seu verdadeiro eu tinha piadas ruins, era apaixonado pela Ladybug e fazia de tudo para deixar todos ao seu redor felizes.

Ambos de coração igualmente puro.

Os outros lampejos não passam do que são: lampejos. Lembranças perdidas na sua própria mente confusa, que não conseguia fixar em um só pensamento. Por fim, ela decide espairecer. Mas como Ladybug.

Transformada, ela lança seu ioiô nos prédios, casas e comércios de Paris para se locomover. Não para um lugar em específico, até porque nada era muito visível aquela hora da noite. Marinette se pega pensando se Chat Noir consegueria ver algo naquele breu. Apesar de Adrien ser setenta por cento de tudo que Marinette pensa, após o beijo, Chat vem ocupando uns três por cento do seus pensamentos naquele dia.

Ela estava só salvando ele, repetia para si mesma. Apenas isso. Mas por que sua mente insistia que era algo a mais que isso?

"Ladybug?"

Quando ela reconheceu o tom familiar de Chat, virou a cabeça na direção do parceiro. Ele estava em cima de um prédio e o momento que os olhos deles se encontraram, azul com verde, fogo com calmaria, o ioiô escorregou da mão dela.

O ioiô caiu da mão dela, assim como ela mesma. Chat achou que ela estava brincando, então não levou muito a sério, porém se levantou e se esticou para ver o movimento a seguir. Quando viu que o ioiô não estava na sua mão, suas ações não passaram de vultos na sua própria mente.

Azul com verde, fogo com calmaria.

Mais de dez metros acima do chão, ossos seriam quebrados.

Chat estendeu o bastão e se jogou na direção de Ladybug, uns dois metros do chão agora. Ele não pensou muito quando se jogou para amortecer a queda. Na verdade, só o pensamento da Ladybug se machucar já gera um alerta vermelho dentro da sua mente. Perigo. Os dois cairam, mas Chat caiu por baixo.

"Ah, meu Deus, Chat! Você tá bem? Seu gato idiota!" A garota disparou, saindo de cima do parceiro super-herói.

"Se minha queda por você pudesse ser medida", ele geme de dor. "seria mais ou menos dessa altura que você caiu."

Ela dá um tapa no braço dele, irritada e parcialmente culpada.

"Você se machucou?" O tom da voz dela era seda e ela tinha medo da resposta dele. Ele nunca tinha ouvido ela falar desse jeito com ele. Sempre tão confiante. Ela estava com medo de ter machucado ele por conta de um deslize seu.

"Não se preocupe, my lady, gatos caem em pé", abre os olhos até então fechados e mais uma vez uma troca de olhares acontece. Intensa, queimando. O azul de Ladybug era preocupado e culpado e o verde de Chat era passivo e amável.

Quando a joaninha levou a mão para a bochecha do colega gato, ela não estava pensando no que estava fazendo. Ela estava vagando por Paris, horas atrás. Tentando não pensar no seu problema que consumia a sua mente, mesmo que ela não admitisse para si mesma. Mas ali, agora, no meio da noite com o seu mais novo problema ali na sua frente no meio da rua, ela não estava pensando muito. Na verdade, sua cabeça não estava funcionando.

Ela piscou na direção dele, mas não desviou o olhar. Simplesmente não conseguia. Ela queria beija-lo de novo e queria que ele lembrasse, como queria que ele lembrasse. Queria sentir o colapso na sua mente novamente e queria que aquela fosse uma lembrança doce e compartilhada e não via problemas em criar uma outra. Não naquele momento, não naquela rua, nem naquele lugar.

De repente, ela se sentiu queimando sob os grandes olhos de gato dele e tudo o que existia era os dois. Até mesmo a chuva que tinha começado era ignorada.

"Eu quero te beijar, agora" disse ela após todo aquele tempo calada. O gatinho sentiu algo esquentar no seu estômago. A heroína mantinha o mesmo olhar para ele e não parecia arrependida com oque disse.

Ela avançou centímetros na direção dele, passou a perna direita para o outro lado do corpo dele e diminuiu cada vez mais a distância. Até o próprio gato não conseguir formular nada com tamanha aproximação. Ele estava corado e ela exalava determinação. As pontas dos narizes roçaram e os olhos azuis penetrantes de Ladybug desceram para a boca entreaberta dele. As respirações se fundiram em uma só.

"E-então m-me beije", conseguiu dizer.

O olhar azul dela encontrou o seu novamente, segundos antes dos dois se fecharem. Ladybug uniu sua boca com a de Chat Noir num beijo desesperado. Não igual ao de mais cedo, esse era mais intenso. Simplesmente mais. Um sentimento aflorou no seu coração, algo que o aquecia. Não algo frio. Algo que era exclusivamente de Chat Noir. Bonito, simples e quente. Muito quente. Boca com boca, coração com coração.

"Ladybug!"

Se levantou assustada. Um sonho? Olhou ao redor e viu o sol aparecendo no horizonte. Ela estava transformada e estava em cima de um prédio. Tocou seus lábios e piscou os olhos. Um sonho. Não passou de um sonho idiota.

"Olha, mamãe, é a Ladybug!" Uma garotinha gritava apontando para cima. Pelo menos tinha acordado a heroína.

Ainda atordoada de sono, se levantou por completo, acenou para a mulher e filha, e lançou seu ioiô mais uma vez para voltar para casa.

Só um sonho idiota.

Por que estava sonhando com aquele gato idiota, afinal? Se perguntava, fazendo o mesmo caminho que tinha feito para chegar lá.

Gato idiota.

Seus olhos são verdes como a sorte

Azuis como a sorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora