Capitulo II : Uma estranha e bela criatura

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 CAPÍTULO II

Uma estranha e bela criatura

Gonzales iniciou o retorno à pequena cidade, sonolento, por causa do acontecimento inusitado.

Lembrou que poderia cortar caminho e ganhar tempo avançando uns 900 metros das imediações do incidente, para em seguida contornar mais à frente pelo posto T1. Não o amedrontava mais o local do incidente. Tudo havia terminado.

Trafegava agora numa estreita via vicinal argilosa, apreciando um longo igarapé com auxilio dos faróis de seu veículo, que margeava a pequena via refletindo um luar prateado sobre o nível d'água repleto de belas flores comuns naquela região como as enormes vitórias-régias.

Inesperadamente, reduziu a velocidade do veículo, pois algo lhe chamou a atenção. Parou, saiu do carro e não podia acreditar no que sucedia a poucos metros de onde se encontrava. Uma espécie de caramujo – ou escafandro – marrom aparentava sofrer uma metamorfose.

Parecia um gigantesco vaga-lume, pois evidenciava luminosidade clara como a prata, acendendo e apagando na noite, como um "pisca-pisca" em ritmos precisos.

Novamente, ficou surpreso com o fenômeno. O veículo estava ligado e Gonzales pensou em se afastar rapidamente daquele local, porém, o caramujo começava a tomar uma forma aparentemente humana – ou de dentro emergia um ser – ele não sabia ao certo. Que estranha visão! Um indivíduo surgia sentado esplendidamente como um hindu sobre uma vitória-régia... parecia desafiar a força gravitacional, pois apresentava porte másculo, pesado, sem que a flor imergisse.

Vendo-o, o ser se levantou e, lentamente, seguiu em sua direção sobre as flores do alagadiço, com passadas tão suaves que nenhum ruído produziam. Diriam que ele era um exímio bailarino!

Seu porte era atlético, elegante, com altura estimada em 1,80m; vestia estranha roupagem colante ao corpo cuja cor se comparava a um azul prateado e sedoso, mas o brilho lembrava uma consistência plástica cristalina.

Suas feições não eram muito diferentes da terrena a não ser pelas orelhas: estreitas, longas e finas. O cabelo claro e curto, mas exageradamente liso, lembrava o níveo algodão, e a tez parda, um indivíduo indiano. Seus olhos, de um profundo azul vivo e cintilante eram adornados por cilios castanhos e as sobrancelhas ligeiramente douradas. Boca e nariz pequenos, lábios espremidos.  Seu semblante revelava seriedade, porém, todo o conjunto físico harmonioso apresentava indefinível atitude de meiguice infantil. Gonzales estava assustado mas, ao mesmo tempo, encantado. Jamais vira em sua vida tão austera e bela criatura!

Enquanto observava detalhes, aquele ser mais perto se encontrava. O estranho ser parou à margem do igarapé. Levantou suavemente o braço esquerdo em sinal de saudação, talvez... Gonzales, dúbio, imitou-o com o braço direito. O estranho, mais próximo, revelava também em suas mãos visíveis artérias de coloração esverdeada que pulsavam lentamente... Gonzales pensava sempre com os olhos arregalados: e agora? Que devo fazer, fugir?

Antes que intentasse qualquer decisão, sentiu uma vertigem dominando todo o corpo e quase cambaleou, mas logo experimentou um indizível bem-estar e mentalmente captou uma suave comunicação, como se alguém, aos seus ouvidos, quisesse inspirá-lo a receptar uma mensagem...

Um Enigma na Amazonia - contato   ( livro I)Where stories live. Discover now