Epílogo

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Apoio meus pés no colo do Dylan e termino minha segunda garrafa de água. Acabamos de finalizar nosso último show da semana, não preciso nem dizer que estamos os quatro exaustos, mas nada é capaz de melhorar mais meu humor do que essa expressão de miséria no rosto do Declan. Isso definitivamente deixa tudo mais divertido.

— Meu Deus, quando é que esse teste de DNA vai poder ser feito? Eu preciso ter certeza de que não sou o pai dessa criança. - ele deixa sua cabeça cair no tampo de madeira da mesa a sua frente.

Dylan revira os olhos enquanto eu solto uma risada.

— Se não fosse tão irresponsável e tivesse se protegido, não estaria nessa situação. - Frank, a voz da razão, despeja seu sermão sem dó nem piedade.

Sinto o corpo de Dylan soltar um calafrio de repulsa:

— Cara, estou falando sério, eu não estou preparado pra ser tio.

Declan ergue a cabeça de supetão na nossa direção antes de rosnar, seu rosto um misto de raiva, angústia e desespero.

— E nem eu pra ser pai, porra!

Como podemos perceber, Sabina não sabe quem é o pai da criança que está esperando e, consequentemente, nós também não. Apesar de Declan ter dito que transou com ela apenas uma vez sem usar um preservativo e de Sabina ter dito que não foi num dos seus dias mais férteis e, além de tudo, ter confessado que mantinha outros amantes em relações completamente desprotegidas, ainda existe a possibilidade, mesmo que pequena, desse filho ser dele.

Sabina não quis fazer o teste durante a gravidez pra descobrir a paternidade. Ela diz que não quer colocar o bebê em risco e que prefere que tudo seja esclarecido quando o mesmo nascer. Eu não entendo desse tipo de coisa, não sei até onde o que ela está falando é verdade ou se ela apenas quer deixar todos os possíveis "pais" em "banho maria", mas como não tenho nada com isso, permaneço quieta na minha. No fim das contas, é assunto que diz respeito apenas a ela e aos outros envolvidos.

Porém, quanto mais os dias passam, mais Declan se desespera e deixa todo mundo à sua volta maluco também. Eu continuo morando com os meninos, a diferença agora é que temos mais um agregado: Logan.

Declan reclama por não poder usar mais minha cama como costumava fazer as vezes, alegando ser a mais confortável da casa. De início, ele ainda soltava algumas "indiretas", mas então Logan passou a encara-lo de um jeito meio ameaçador, podemos dizer assim, e então Declan desistiu.

Logan deixou a fazenda nas mãos de um dos funcionários, seu braço direito, e disse ao Scot que quando ele estivesse pronto para voltar, ela estaria esperando por ele, como sempre sonhou. O pai de Sabina teve que abrir mão da propriedade, não teve escolha, pelo o que dizia o contrato. Mesmo que o filho não fosse do Logan, Sabina estava grávida do herdeiro que ele tanto queria e deixou claro que o verdadeiro pai da criança (quando descobrirem quem é) casará com ela, custe o que custar.

Eu é que não duvido disso.

Logan quer que nos mudemos pra um lugar só nosso, "pra termos mais privacidade" é o que ele alega, mas não mede esforços pra me fazer gemer o mais alto possível, todas as noites.

Eu ainda não estou preparada pra me afastar tanto dos meninos. Pensamos em alugar apartamentos vizinhos, mas, como eu, os três também são muito apegados à nossa Caverna. Então, no fim das contas, estamos nesse impasse. A melhor ideia que tivemos até agora foi transformar nosso lugar num estúdio pra banda, onde possamos ensaiar melhor e tentar crescer profissionalmente. Estamos trabalhando nisso atualmente.

Saindo das minhas divagações, dou dois tapinhas no ombro do Dylan enquanto me levanto do sofá onde estava sentada com ele.

— Bom, pelo menos eu tenho certeza de que meu namorado não é o pai. - Sorrio para o Declan e pisco um olho na sua direção, o fazendo me mandar o dedo do meio. - E falando nele, vou voltar pra nossa mesa, vocês também?

O primeiro a confirmar é o possível futuro papai:

— Lógico que sim, eu preciso beber!

Dylan e Frank também concordam e então nós seguimos em direção a porta do pequeno escritório do dono do bar que usamos como "camarim", apenas uma desculpa pra bebermos com privacidade antes e após nossas apresentações.

Saio pelo corredor e chego ao grande salão espaçoso, ainda lotado, de um dos bares mais conhecidos do Brooklyn. Avisto a mesa onde Logan e nossos amigos estão sentados, de onde momentos antes assistiram o nosso show, e caminho lentamente para poder observar com calma suas expressões relaxadas e felizes.

Hoje é uma noite de comemoração. Dias antes, Eric e Logan tiveram uma longa, esclarecedora, cansativa, porém necessária conversa. Obviamente foi tudo muito difícil, Eric demorou algum tempo pra aceitar sequer falar com Logan. Eles até tentaram semanas antes, algum tempo depois de Scot voltar, mas tudo desandou. Eric ficou extremamente abalado ao saber que um dos melhores amigos ainda estava vivo e, como ele mesmo disse, olhar na cara do Logan depois de saber  de tudo o que havia acontecido foi ainda mais difícil.

Porém, alguns dias atrás, eles voltaram a tentar conversar e, graças a Deus, tudo se resolveu. Quando me encontrei no dia seguinte com Cindy e Ravenna pra comprarmos coisas para o enxoval do bebê, ela disse que Eric quase não conseguiu dormir, alternava entre cochilar nos seus braços e acordar várias vezes chorando.

Logan não passou melhor a noite. Após essa conversa dos dois, eu pude perceber que as lágrimas que meu peão nem fazia questão de esconder eram de saudade e até de certa forma alegria, mas eram, principalmente, de alívio.

Toda aquela dor e culpa que ele carregou por longos anos, sozinho, que mexeram com a sua cabeça ao ponto de fazê-lo tentar estragar o relacionamento do próprio amigo... Tudo isso estava enfim enterrado e superado, de forma que agora não passavam de memórias de demônios contra os quais ele conseguiu lutar e vencer.

Após aquele longo dia que ele teve com o Eric, conversando, entendendo cada momento vivido e deixando tudo às claras... Entre cada soluço que ele soltava enquanto eu o confortava na nossa cama, ele disse as palavras que fizeram meu coração doer e chorar de felicidade por ele, Logan havia dito: "Nem consigo acreditar que tenho meus dois irmãos de volta comigo."

Eu então percebi que aquele era um sentimento de alívio no seu mais puro significado. Aquela era, finalmente, a paz que Logan esteve procurando por tanto tempo.

Agora, observando enquanto Ravenna provavelmente conta alguma história constrangedora sobre o Eric fazendo o mesmo fingir indignação enquanto Logan, Cindy, Kyle, Scot e a namorada dele gargalham com vontade, me deixa com uma sensação gostosa no peito.

Já estou quase na mesa quando sinto os meninos perto de mim, passando o braço a minha volta e caminhando ao meu lado. Ótimo, agora sim nosso grupo está completo.

Meus amigos, os antigos e os novos, especiais do jeito de cada um, todos juntos como sempre tentamos manter.

De onde eu vim, por tudo que passei e pelo pouco que pude ter na vida, nunca imaginei que chegaria a esse momento. Nunca pensei que seria digna de tamanha felicidade, de estar cercada de pessoas que me querem tão bem e que transformam meu mundo pra melhor, a cada dia. Nunca pensei que me sentiria tão realizada, tão completa, tão satisfeita e tão...

Em casa.

Eles são minha família agora.

A verdadeira.

A que Deus escolheu a dedo pra mim.

Bom...

Muito obrigada.

Diante de todas as minhas preces, eu não poderia ter sequer imaginado pedir benção maior que essa.

Meu Caos Nos Seus Olhos - Livro DoisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora