14.0 Sara

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— Vai ter uma feira de música no MetLife hoje, podíamos chamar o Frank pra ir.

Declan comenta enquanto penteia os fios do meu cabelo com os dedos no carinho mais gostoso que eu já senti na vida. Ok, não foram muitos (na verdade os únicos outros foram do Dylan e do Frank) mas esse puto do Declan quando quer ser carinhoso, faz o serviço direitinho.

— Ele saiu avisando que só voltaria a noite, então provavelmente não o veremos hoje. - Dylan resmunga, ainda meio dormitando do outro sofá da sala.

Estamos jogados nos sofás desde que acabamos o almoço, assistindo a continuação do filme pornô que Declan estava vendo quando acordei, alguma coisa sobre Vampiras Lésbicas...

Estou deitada no seu colo quase dormindo outra vez enquanto vejo uma das personagens do filme descobrir que ficou menstruada. Ótimo, já sei o que provavelmente vai acontecer com essa mulher, levando em conta o nome do filme, nojento...

Escuto um ronco suave e vejo Dylan esparramado no outro sofá, deixando-se sucumbir ao sono outra vez. Isso é bem a nossa cara, quando conseguimos um tão esperado dia de folga, o que a gente faz? Fica em casa vegetando e torcendo pra não criar raízes no chão. Fazemos planos e mais planos, mas acaba com todo mundo amontoado na sala, comendo e dormindo nas mesmas proporções.

Eu penso sobre a ideia do Declan. O estádio MetLife fica em Nova Jersey, conseguimos chegar lá de ônibus, nem fica tão longe, e os shows de bandas autônomas que costumam acontecer nesses eventos são realmente bons. Mas eu estou com uma sensação estranha, um frio no pé da barriga que me faz pensar duas vezes antes de querer sair de casa.

Como se lesse meus pensamentos, Declan tira sua atenção da TV e olha pra mim enquanto coloca uma mecha de cabelo pra trás de uma das minha orelhas:

— Tem alguma coisa te preocupando.

Eu suspiro.

— Sim... - me acomodo melhor no seu colo e olho pra ele. - Eu não sei o que é, só não estou me sentindo bem.

— Você está sempre com alguma coisa nessa cabecinha, não é? - ele cutuca minha têmpora. - Tem que relaxar, Sara. Tem que aproveitar a vida, curtir os momentos...

Eu já sei disso tudo, estou cansada de saber, então apenas afirmo com a cabeça e me ergo sentada. Declan olha animado pra mim.

— Vamos fazer o seguinte: a gente sai hoje, vai nesse evento, aproveita pra caralho e então você me diz se ainda está se sentindo estranha. Pode ser?

Qualquer coisa é motivo de festa pro Declan e ele está me parecendo tão empolgado com esse evento que me faz sentir culpada por não estar tão afim de ir. Mas o que eu não faço por esse encosto...

— Ok, vou tomar um banho pra ver se desperto e me arrumo. Acorde o Dylan, ele vai também. - decreto enquanto crio forças e vou em direção ao meu quarto.

[...]

Chegamos no estádio quase quatro horas da tarde. O lugar já estava lotado. Apesar do frio e das esporádicas rajadas de vento cortantes, as pessoas se acomodavam em esteiras e cangas espalhadas pelo gramado, bebendo, tocando todo tipo de música e conversando alto acompanhado de muita risada.

Havia várias barracas de alimentos e jogos espalhadas pelos arredores, a mistura de notas sonoras diferentes e aromas de uma infinidade de especiarias deixava o ambiente com uma aparência exótica e integradora. O jogo de luzes que vinha dos imensos refletores orbitando o campo deixava todo mundo ali com uma euforia gostosa devido a dança das cores incandescentes.

Tudo era programado pra te colocar em outra dimensão, induzindo uma confusão de sentidos e sensações que te deixam à flor da pele. A música, a culinária, as várias culturas diferentes interagindo entre si e todo o estímulo sensorial envolvido... É por essas e outras que Declan é meu irmão, não existe pessoa no mundo que me conheça mais que ele e devo agradecê-lo por me convencer a vir.

Meu Caos Nos Seus Olhos - Livro DoisOnde as histórias ganham vida. Descobre agora