Capítulo 24: Perigoso é a gente se aprisionar

276 27 7
                                    

"Perigoso é a gente se
Aprisionar no que nos
Ensinaram como certo
E nunca mais se libertar,
Correndo o risco de não
Saber mais viver sem um
Manual de instruções."

Martha Madeiros


Sem pensar duas vezes estávamos na carruagem da Srta. Jones em direção à cidade, ela havia pedido para que o cocheiro fosse o mais rápido possível. Então ali estávamos nós, chacoalhando pela estrada de terra, com o coração batendo mais forte do que nunca.

Durante o caminho, Srta. Amélia acabou me contando um pouco sofre a influência que sua família possuía em Dover. De acordo com ela, como eram donos de muitas terras na região, os guardas poderiam ser mais tolerantes conosco. — Bem, ao menos é o que espero — concluiu, assim que chegamos à porta do posto de polícia.

Desci da carruagem ainda tensa, minhas mãos se encontravam geladas e, eu possuía plena certeza que Srta. Jones estava tão nervosa quanto eu. Infelizmente o tempo estava contra nós, nem sequer conseguimos bolar um plano, entramos no posto somente com a nossa coragem e esperança. Salvaríamos Isabelle a qualquer custo.

O lugar se encontrava em uma esquina próximo à rua principal, alguns homens da guarda estavam do lado de fora conversando animados, porém, assim que subimos o primeiro degrau, todos se calaram. Aparentemente era um absurdo duas moças estarem ali, mas isso não nos abateu.

Logo que passamos pela porta senti meu estômago embrulhar, um cheiro forte de suor e mofo estava por toda a parte. As paredes possuíam um painel de madeira gasta, e o piso já havia visto dias melhores, de fato não era um ambiente convidativo. Tudo o que havia no cômodo eram algumas cadeiras e uma mesa antiga, onde um jovem arrumava alguns papéis distraído.

— Com licença, — Srta. Jones disse com uma voz inocente, acenando com suas mãos delicadas cobertas pela luva de renda — gostaríamos de uma informação.

— Pois não? — O rapaz respondeu entediado, porém, assim que notou que se tratava de duas mulheres, logo arregalou os olhos. — O que posso fazer pelas Senhoritas?

— Creio que precisarei tratar o assunto com algum superior, sem sombra de dúvidas ocorreu um terrível engano esta manhã. Gostaria de resolver antes da hora do chá, sim? — Amélia abriu um sorriso meigo, e eu notei sua estratégia. Os homens costumavam pensar que nós mulheres não passávamos de um objeto frágil e fútil. Então, qual seria o problema de usar esta crença absurda para obter alguma vantagem?

— Ora Senhoritas, não creio que importunar meus superiores com assuntos supérfluos seja necessário, — O jovem riu, voltando a prestar atenção em seus papéis — proteger o país ocupa muito do nosso tempo. Qual seria o engano cometido?

Srta. Amélia, já a beira de um colapso nervoso, apontou o dedo bem diante do rosto do rapaz, esquecendo completamente os bons modos que nos eram impostos. — Escute bem, vocês bárbaros invadiram uma propriedade, levaram minha amiga a força. Eu exijo que a soltem imediatamente!

— Desculpe Senhorita, não tenho permissão para tal coisa. — O rapaz se ajeitou, continuando a arrumar os papéis soltos sobre a mesa. — Sou apenas um ajudante, porém, não acho que o comandante irá atender ao seu pedido de qualquer modo.

— Veremos. — Amélia segurou firme seu vestido, e virou de forma brusca, ignorando qualquer regra a ser seguida por ali. Tudo o que pude fazer foi segui-la, afinal, eu queria salvar Isabelle tanto quanto ela.

Entramos em uma espécie de corredor mal iluminado, demos a volta até encontrar uma porta com os escritos "General Graham" pintado sobre a madeira antiga. Srta. Jones abriu a porta sem um pingo de vergonha, assustando o homem velho por trás de uma escrivaninha. — Que absurdo é esse? A Senhorita não aprendeu a ter modos?

Amor e Outras GuerrasWhere stories live. Discover now