an old poet

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"O vento te trouxe do mesmo modo que trás uma semente,
agora temos um problema.
Aonde você vai florecer?"

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AN OLD POET

— Querida você poderia escrever para mim? — Perguntou um senhor a garota que se encontrava atrás do balcão. — Desculpe é que estou sem os óculos, na minha idade a visão não é magnífica quanto a dos jovens. Rosé prontamente aceitou e com a caneta em mãos pediu para que o senhor começasse a falar o que gostaria que ela escrevesse.

— Você adora flores,
e eu seus olhos bicolores.
Eu sempre te presenteio com rosas-vermelhas,
e dessa vez vai ser o mesmo junto ao seu velho par de meias.
Meu amor por você não acabou,
a morte não nos separou,
do céu sei que me observa,
sei que reza por mim e trilha meu caminho com pétalas,
faz o máximo para retirar os espinhos
que me impedem de chegar ao meu destino.
Nunca se esqueça, da frase escrita naquele tronco de madeira,
“que nosso amor prevaleça” — ao terminar de escrever com a sua caligrafia impecável a qual a garota sempre se orgulhou, levantou o olhar para o senhor e sorrindo sussurrou:

— Perfeito — o idoso ao seu lado começou a rir diante da menina.

— Todo ano levo flores ao caixão dela, esse ano eu estava empacotando umas coisas e achei um par de meias, eu havia dado a ela em um dia frio, sou poeta, quero dizer, já fui. Ela sempre foi minha inspiração como pode ver — disse com um timbre de voz emocionado. — Ela foi o meu grande amor — então gargalhou provavelmente de algo que havia se lembrado. — Querida se você um dia encontrar alguém que você ame diga a ele ou ela, faça o possível e o impossível para que o amor de vocês dure, cuide do seu amor, o ame — e respirando fundo, completou:

— O amor é lindo. Preciso ir, é uma longa caminhada daqui a o cemitério, tenha um bom dia, senhorita e obrigado.

Rosé observou o senhor caminhar até a porta com o buquê em uma de suas mãos e a bengala em outra. Agora sozinha ali começou a pensar nas palavras do idoso, um amor, se perguntava se um dia encontraria isso, se um dia sentiria o frio na barriga apenas em olhar para a pessoa e então poder usar a famosa expressão “borboletas na barriga” que as pessoas, tanto falavam e descreviam como uma das melhores sensações da vida. Queria poder olhar para alguém e sorrir involuntariamente sem se dar conta de estar cometendo aquele ato. Seus olhos brilharem apenas por olhar a pessoa amada. A garota que sempre foi uma sonhadora aventureira, daquelas que sonham em viajar pelo mundo, ser astronauta ou ficar presa em um supermercado e que em nenhuma circunstância antes daquele momento havia se imaginado encontrando um amor, agora estava com essa vontade de ter alguém para amar. Apesar de objetivos aventureiros sempre apreciou o gênero romance, já perderá a conta de quantos livros havia lido e filmes assistidos. E o galã fica com a mocinha, tão clichê e encantador.

Quando o sino dos ventos soou, se deu conta que havia caído de cabeça em seus pensamentos, sem perceber que o tempo continuava passando. A sua avó ia em sua direção com um lindo sorriso e logo atrás uma garota asiática que trajava um vestido lilás até os joelhos, rodado, de mangas compridas, nos pés uma sapatilha branca. O conjunto de peças a dava um ar de criança, o que Rosé descreveria como cativante.

— Querida, contratei uma pessoa para te ajudar na semana dos corações — falou dando um sorriso animado, enquanto dava pequenos pulinhos. Andou um pouco para trás deixando a asiática em sua frente e assim que colocou uma de suas mãos no ombro da jovem, completou:

— Essa é Lisa, sua nova colega de trabalho — quando seu nome foi citado, a garota abriu um sorriso simpático para a que se encontrava atrás do balcão.

— É um prazer conhece-la — falou sem tirar o sorriso do rosto, esticando uma de suas mãos para que a outra pudesse apertar em um gesto de comprimento. — Sua vó me falou muito bem de você, Rosé — sua voz era aveludada, tão majestosa.

— O prazer é meu, Lisa — disse dando um sorriso forçado até demais. Não era acostumada a ser simpática, graças ao seu anti-socialismo preferia não se misturar, o que às vezes a fazia perder o jeito do entrosamento, fazendo a se parecer com uma pessoa antipática.

— Bom, garotas, agora que já estão devidamente apresentadas, irei mostrar a Lisa como as coisas funcionam por aqui — disse já fazendo um sinal para que a garota a seguisse até os fundos.

[…]

Após apresentar a loja inteira, Saori se despediu tomando rumo ao aeroporto. Tinha noção de que estava atrasada, mas não podia deixar sua neta administrando sozinha a sua preciosa floricultura, que tinha o nome como Hanami. Sempre apreciou as flores desde quando ainda morava no Japão, seu país de nascença, nunca se imaginou dona de algo como aquilo e quando seu falecido marido chegou em sua casa a dando as assinaturas do lote se subestimou imensamente, mas com a ajuda dele conseguiu e por 27 anos deu certo, agora, 2 anos depois de sua morte, decidiu se aposentar e voltar ao seu país natal. A sua maior herança devia ser administrada com maestria, tinha um enorme valor tanto comercial como sentimental, e depois de cálculos minimamente calculados, decidiu que sua neta seria a pessoa que a comandaria, o certo seria sua filha, mas a idosa sábia que ela não saberia como cuidar, para uma grande empresária de sucesso uma floricultura séria o menor de seus problemas, já sua neta que ainda não achou um rumo e sempre seguiu os concelhos de sua avó, seria fácil influenciar, plantar uma sementinha em sua cabeça para que seu amor por flores floresça e a vontade que será causada pelo seu amor e ganância a dê o comprometimento necessário para poder ter aqueles bens em mãos.

[…]

Rosé encarava a tela de seu notebook enquanto Lisa a encarava, a garota se sentia desconfortável, queria sair correndo para um lugar que a visão da de vestido não pudesse chegar, o olhar era prepotente e avaliatório, mas, ao mesmo tempo amistoso e compreensivo, queria fugir e para conseguir isso pediu para que a outra menina podasse as pequenas flores que não aguentaram e morreram. Assim que a outra pegou a tesoura de jardinagem, ela se apressou em levantar com o objetivo de ir até à copa o lugar mais longe que poderia ir ao limite do estabelecimento, seus planos falharam quando o ambiente fora preenchido pelo doce som da voz de Lisa.

— Semana dos corações? — Perguntou com um tom de riso. Rosé, sem ver outra opção, se encaminhou para o lado da outra e com um pequeno suspiro explicou:

— Semana dos namorados, a semana favorita de minha vó, os corações é porque segundo ela amor floresce e as raízes do sentimento se infiltram mais em nossos corações.

— Um pensamento bonito, mas, não seria Dia dos Namorados? — Perguntou um tanto confusa.

— Aqui é uma cidade pequena, qualquer coisinha vira uma coisa grande, os meus avós a muitos anos decidiram que esse feriado devia ser mais bem apreciado, e com a ajuda dos moradores criaram a semana dos namorados — fechou os olhos com força e mordeu o lábio, só em pensar no tanto de trabalho que teria na semana mais movimentada do ano um cansaço se alastrava de seu corpo. — Se prepare para uma semana bastante agitada.

A outra que mantinha seus olhos nas plantas, balançou a cabeça em concordância e logo retornou a perguntar:

— Foi uma boa iniciativa, admito — virou seu rosto e dirigiu seu olhar para a que estava em seu lado. — Uma semana agitada merece noites de descanso, conhece algum bom ‘pub’ por aqui?

A pergunta fez com que a menina se espantasse um pouco, ela bebia, pelo menos era o que parecia, uma pergunta surgirá em sua mente quantos anos ela tinha? Sua aparência jovial não a deixava aparentar mais que 16 anos, quando ela entrou na floricultura havia pensado que sua vó estava ajudando uma adolescente a guardar dinheiro para sair com os amigos, o que era bem comum por ali, agora não tinha mais tanta certeza. Por mais que a curiosidade fosse grande Rosé deu espaço para outros pensamentos, havia gostado da primeiro frase, pois, mostrava que ela estava prestando atenção e não só fingindo como a maioria das pessoas.

— Tem um, a duas quadras daqui, fui apenas uma vez e gostei bastante, se chama Midnight — disse já pegando uma tesoura para podar as plantas, havia se dado conta que a conversa não acabaria e gostou disso. — Há mais dois só não posso falar que são bons, já que nunca fui.

— Você poderia me levar hoje para conhecer o Midnight — Disse dando um sorriso que Rosé não soube identificar o que expressava. — É sexta, eu não conheço quase ninguém, por favor?

Girlboss - chaelisaWhere stories live. Discover now