22 - Partida

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22 dias. Esse foi o tempo programado para que Otávio partisse para o Uruguai, para lá permanecer por 11 meses. Porém, tudo aconteceu em 17 dias, devido ao adiantamento de detalhes que pareciam ser demorados, e que acabaram sendo resolvidos com muita praticidade, sendo esse adiantamento visto como positivo e negativo ao mesmo tempo. Otávio foi ajudado financeiramente por sua família do coração, que estava se sentindo extremamente orgulhosa e animada por ele.

E esses 17 dias foram bem aproveitados por Otávio e Luccino, que se viram praticamente todos os dias, e marcavam de fazer algo junto, ou até se fosse para fazer nada, o importante era estar junto.

Otávio acompanhou Luccino em algumas de suas caminhadas matinais; não que fosse costume de Otávio fazer exercícios, mas a paisagem e a companhia eram deveras agradável. Luccino também se aventurou em três aulas de dança - foi o máximo que Otávio conseguiu frequentar.

É claro que 17 dias juntos era pouco perto de 11 meses distantes. É claro que muitas incertezas se passavam na mente dos dois, mas o combinado era pensar na vida mais pelos olhos de Luccino, aproveitando mais o momento e deixando os sofrimentos por antecedência de lado o máximo que fosse possível.

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- Otávio, fique tranquilo, já está tudo pronto. Você já arrumou e conferiu as malas várias vezes. Está tudo bem, calma! - Dizia Luccino, enquanto Otávio andava de um lado para o outro em seu quarto, temendo que algo fosse esquecido.

- Mas nada pode ficar para trás, senão serão 11 meses sem. - Disse Otávio, conferindo uma das malas. - Onde está meu passaporte? Meu Deus, eu não sei onde coloquei!

- Está aqui, comigo. Você deixou comigo, para não perder em meio à bagunça. Lembra?

- Ah, sim, claro. 

- Conferindo tudo mais uma vez, Otávio? Já não conferimos ontem à noite? - Disse Mariana, entrando no quarto, acompanhada de suas irmãs, e aproximou- se Otávio para fazer massagem em seus ombros.

- Está bem, eu vou respirar fundo, e parar de conferir. Se eu esquecer de algo, vocês me mandam pelo correio.

O grupo foi para a sala, onde se juntou com Felisberto e Ofélia, e lá ficaram conversando até se aproximar a hora de ir para o aeroporto. E quando a hora chegou, todos foram ajudar a carregar as malas até o carro. A única coisa que Otávio não guardara na mala era uma almofada que ganhou de presente de Mariana, fotografia, que havia sido um presente de Luccino, além de uma carta, já que Luccino era extremamente sentimental e escrevera lá tudo o que sentia. "Você pode achar a carta grande, mas é que fiz para você poder terminar de ler daqui 11 meses", brincou Luccino. 

Todos seguiram para o aeroporto, Otávio foi no banco de trás, sentado no meio, acompanhado de Luccino e Mariana ao seu lado. Otávio já tinha seus olhos marejados, enquanto Mariana e Luccino faziam piadas sem noção - que era bem típico de ambos - e que fazia Otávio rir, de tão ruim que eram.

Já no aeroporto, até Nico apareceu lá, com Ernesto, Fani e Camilo, além de Emma, o que fez o coração de Otávio encher-se de amor. Ele abraçou e agradeceu a todos que ali estavam, e fez um registro em foto de todos juntos, para matar a saudade.

 E a despedida entre Luccino e Otávio não foi como as esperadas em filmes de romance, ou em livros super idealizadores. O tempo foi mais curto que o esperado, então eles só conseguiram se abraçar, dar um beijo e dizer algumas poucas palavras, e logo Otávio seguiu para o avião. 

Todos que foram se despedir seguiram para suas casas, disfarçando as expressões de quem já sentia saudade. Luccino foi com sua família para sua casa, e já pensava quais filmes iria assistir para passar a noite, em que provavelmente não conseguiria pregar o olho.

Assim que chegou em casa e entrou em seu quarto, Luccino deparou-se com uma caixa em sua cama. Imediatamente, abriu a caixa, e lá dentro estava uma camiseta básica branca de Otávio, com seu cheiro, é claro - seria a mesma daquele dia, ou uma das várias outras que ele possuía?

Além da camiseta, havia um bilhete, com a frase "Meu amor, eu juro ser teu e de mais ninguém."

Nada seria mais a cara de Otávio do que algo tão profundo e sucinto, e Luccino ficou sorrindo apenas segurando seu presente, deixando os filmes para outra hora.

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Já no avião, Otávio não conseguia pegar no sono, então decidiu ler a carta de Luccino, mesmo este pedindo para que lesse já no Uruguai.

Carta de Luccino:

"Querido Otávio,

Eu não sabia como começar essa carta, não por não saber o que dizer, mas eu não sei começar cartas muito bem nem em italiano. Aliás, se eu pudesse escrever tudo em italiano seria bem mais fácil para mim, mas não quero te obrigar a procurar tudo em dicionário. O presente é para você, então é você que tem que entender, e eu que me vire com dicionários. 

Acredito que você vai entender tudo bem, pois eu já escrevo bem... aprendi com um ótimo professor, sabia?

Eu queria te dizer ainda que a gente se conheça há alguns meses, e algumas pessoas achem isso pouco, eu posso afirmar que eu nunca tive uma certeza tão grande na vida desde que vi você a primeira vez, lá na sala da casa dos Benedito. Eu não sei se você percebeu que eu ficava te encarando, mas também acho difícil que você não tenha percebido. 

Eu não sou bom com palavras, eu sou bem melhor demonstrando, mas você é bom com palavras então eu tenho que tentar estar à altura pelo menos um pouquinho. 

Quando eu disse sobre a minha grande certeza quando te vi, eu quero dizer também que essa certeza cresceu também para o que eu sou. Sabe, não foi só me aproximar de você, eu me aproximei de mim mesmo. Eu comecei a entender melhor quem eu sou, e o que eu sinto, e me permiti viver e sentir como nunca havia feito. Eu achava que a vida era melhor quando a gente não pula de cabeça em algo; a zona de conforto é tão boa quando a gente está sozinho, né? Principalmente para mim, que sou medroso.

Mas aí, quando a gente está acompanhado, a gente cria mais coragem. E eu criei coragem, não apenas porque eu tinha uma companhia, mas porque eu tinha você como companhia. Aí eu me joguei sem medo nenhum das consequências. Sabe aqueles lugares bons, que não oferecem nenhum tipo de perigo, apenas conforto e bem estar? É disso que eu estou falando, é isso que estar ao seu lado me faz sentir. 

Eu desejo que você seja muito forte, e que aproveite ao máximo a sua experiência aí, que vai ser muito boa. Você tem muito para aprender e compartilhar, tudo isso para te fazer evoluir do jeitinho que você tanto sonha.

Desejo que você faça amizades legais aí, que tenha boas pessoas para te ajudarem, e que tenha uma boa internet para a gente conversar também, vamos ser sinceros.

Vai ser difícil para mim, e para você, e para Mariana, e para todos que te amam. Mas é uma fase, e fases passam, e quando a gente se der conta, vai estar se vendo de novo, e se abraçando de novo, aí tudo vai ter valido a pena. É tipo como falam, que a gente precisa dar passos para trás para pegar impulso e saltar alto.

Eu sinceramente espero que você me veja como um ponto de apoio, e que nunca duvide do que eu sinto por você, muito menos que duvide que eu vou te esperar. Eu fiz até um calendário, para ir fazendo um X em cada dia que se passar, para eu sempre pensar não no tanto de tempo que ainda falta, mas no tempo que já está se passando, deixando tudo mais próximo. Pense assim também :)

Ainda bem que a gente se ama tão grande que faz um alcançar o outro nessa distância toda. Dava até para ser maior a distância que ainda ia alcançar, viu?

Me desculpe se eu sou brega, como vocês falam, mas é que se eu não escrevesse exatamente do jeito que eu sou, que é como você está acostumado, essa carta nem ia parecer minha. 

Te adoro em tudo. 

Com amor, 

Luccino Pricelli.


Um Amor Puro (Lutávio)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora