Capítulo 8

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-Você disse que queria comprar uma árvore?
Estamos do lado de fora do restaurante, andando pelas ruas movimentadas devido à iminência do natal. Ethan havia passado o braço pelos meus ombros minutos antes e eu apreciei esse contato. Este era aquele tipo de momento, bem depois que algo incrível acontece, que você não sabe muito bem o que fazer, então apenas segue em frente. E estávamos seguindo, caminhando bem juntinhos pelas ruas de Manhattan.
Eu concordo com a cabeça
-Esse era meu plano quando sai de casa. - Nós desviamos de uma mulher com um carrinho de bebe, cheia de sacolas. Sua cara não é nada amigável. - Só resolvi parar um pouquinho no Central Park para tomar coragem e, bem, o resto você sabe.
Ele me encara de soslaio.
- E por que você precisava ser corajosa para comprar uma árvore de natal?
Ouvindo Ethan falar parece realmente algo muito tolo. Poxa, é só uma árvore de natal, não deveria causar tanto tormento. Mas a verdade é que tudo é muito maior que isso.
Suspiro, entrelaçando nossas mãos.
- É complicado...  - Seus olhos azuis me indagam e eu sei que não vou conseguir fugir da resposta - É que... É o meu primeiro natal sem eles, Ethan, e me parece muito errado celebrar qualquer coisa. Enfeitar a casa e colocar aquelas musicas natalinas bregas para tocar era algo que fazíamos juntos. - Sua mão segura mais forte a minha e seu braço me puxa mais para perto de seu corpo. Está tão quentinho aqui que até esqueço o quanto Nova York anda gelada  e do tanto que eu mesma pareço uma pedrinha de gelo. - Quando vi que todo o mundo já estava enfeitando suas casas... – Continuo. - ... eu juro que também tentei. Mas faltava algo, faltavam eles. A grande verdade é que eu não tenho motivos para celebrar.
-Então, por que a árvore? - Seu tom é mais curioso do que acusatório, o que me deixa mais relaxada para contar.
- Porque meu apartamento me pareceu mais vazio que de costume. - Eu rio, percebendo o quão contraditória pareço. Paro um momento para recobrar o fôlego. Ethan me encara e sei que esta esperando que eu diga a verdade, não essas mentiras que eu inventei para mim mesma. - E talvez porque bem lá no fundo, eu queira reviver o momento em que eu e minha família parávamos tudo para deixar nossa casa quase igual o próprio chalé do Papai Noel, mesmo que, dessa vez, fosse apenas eu, num apartamento solitário, enfeitando uma pequena árvore de natal enquanto todas as memórias retomam vida.
Ethan para, o que me obriga a fazer o mesmo. Eu o encaro, tentando entender o que aconteceu. Será que o peso do meu passado e as dores que ainda carrego são pesadas demais para alguém como ele?
Estamos um de frente para o outro, de mãos dadas, quando Ethan fala.
- Eu sei que você viveu momentos difíceis, Lisa, e entendi o quanto essa época do ano representava para você e sua família, mas, de verdade, não acho que não existam motivos para celebrar.
Franzo o testa, tentando acompanhar o pensamento dele.
-Coisas terríveis aconteceram, é verdade. Mas você ainda está aqui, Lisa, está lutando, dia a dia, para superar esse ano de merda. Você tem um trabalho e uma casa. Você ajuda senhorinhas no Central Park e fazem os filhos delas perceberam o quão babaca eles são. - Ele me da um sorrisinho que faz minhas pernas tremerem. - Existem muitos motivos para celebrar e eu tenho certeza que seus pais se sentem orgulhosos da mulher corajosa, forte e determinada que você é.
Eu tenho vontade de chorar, por isso Ethan me abraça forte. Em meu ouvido, sussurra.
- Eu tive uma ideia.
Eu o afasto, segurando seus ombros e o olhando curiosa.
- Eu vou te ajudar a achar a árvore perfeita. Vamos entrar em cada loja de Nova York até encontra a melhor árvore, a mais bonita. E quem sabe também não podemos comprar uns enfeites para a sala, talvez para cozinha, até uma guirlanda para a porta. - Quero protestar, mas o que ele diz em seguida acaba com qualquer argumento meu. - Sua família ficaria feliz se você ao menos tentasse.
Eu não preciso dizer que não apenas tentei, eu adorei cada minuto de nossas compras loucas. No começo, eu senti que ia me partir ao meio, mas com Ethan segurando minha mão tudo foi parecendo mais fácil. Depois da terceira loja, eu já estava usando o gorro de Papai Noel que ele havia comprado para nós dois e desejava Feliz Natal para qualquer um que encontrasse nas ruas. Entramos e saímos de diversas lojas, Ethan nunca deixava que saíssemos delas sem pelo menos um item. No fim, já tínhamos uma coleção considerável de Papais Noéis, elfos, guirlandas, renas e pisca-pisca que faria inveja a qualquer um.
Em uma das lojas, uma das atendentes obrigou Ethan a experimentar todo tipo de suéter brega natalino porque, segundo ela, ele tinha o corpo ideal para vestir essa peça de roupa. Os suéteres esquisitos combinados com a cara de desespero de Ethan, me fizeram perder o ar de tanto gargalhar. No fim, o fiz ficar com um azul de mangas vermelhas e pompons verdes na parte da frente, com uma rena tricotada a mão na parte de costas; disse que era meu presente de natal, portanto impossível de ser recusado. Ethan por pouco não me matou.
Porém, foi difícil encontrar a árvore perfeita. Todas pareciam grandes demais ou esquisitas demais para ser a escolhida. O dia já estava virando noite quando nos deparamos com uma pequena lojinha situada entre dois grandes centros comercias. Sua vitrine exibia um trenzinho onde se lia "Expresso Polar". De mãos dadas, entramos. Tudo ali gritava "amamos natal", desde os soldadinhos de chumbo feitos a mão até o Papai Noel tocando sax no canto. E foi ali, entre tantos enfeites perfeitos, que encontrei a minha pequena árvore de natal, escondida entre um presente bem embrulhado e um par de esquis, como se estivesse esperando por mim.
A noite já tomava conta da cidade, quando finalmente terminamos as compras. Nossos rostos estavam corados e exibiam sorrisos tão intensos que eu tive medo de travar a mandíbula. Porém, toda a felicidade do dia já estava se esvaindo, afinal, não há mais nada que nos mantem ali, juntos. Já almoçamos, conversamos e até encontramos minha arvore de natal perfeita.
Ethan segura a porta do táxi, enquanto eu ajeito as sacolas no banco de trás. Ele me olha e mexe no gorro de Papai Noel que agora esconde seus cabelos.
- Então, é isso. - Seu sorriso é triste.
- É, eu acho que sim. - Digo, sentando no banco.
- Eu gostaria...
- O que você...
Falamos ao mesmo tempo, o que nos faz rir.
- As damas primeiro. - Ethan, sempre tão educado.
Suspiro antes de dizer:
- Eu só queria agradecer por hoje. Foi um dia especial, muito, especial. Na verdade, foi, para mim, o melhor dia do ano. Obrigada por isso, Ethan.
Ele está sorrindo mais ainda, se é possível. Quero guardar cada sorriso dele dentro da minha mente, para nunca mais esquecer. Quero me recordar dele assim, segurando a porta do táxi, com seu sobretudo aberto, seu gorro de Papai Noel torto e as luzes de Manhattan iluminando seu contorno.
E sorrindo.
Porque Ethan é ainda mais bonito sorrindo.
- Para mim também foi um dia especial, Lisa. - Sua voz me trás de volta do devaneio. - Muito especial.
- Era isso que você queria dizer?
- Não. - Ele se apressa para me responder - Na verdade não. O que eu queria dizer é que... - Ele coça o pescoço, parecendo um adolescente convidando sua paixonite escolar para o baile de formatura. - Sabe, são muito enfeites, né? E se você não for joga-los fora...
-Eu não vou. - Não depois de hoje.
-Bom, então, eu gostaria de saber se você não quer ajuda, sabe? Eu sou muito bom nessas coisas de pregos e martelo...
Eu não consigo deixar de sorrir e com um empurrão, abro espaço para que ele entre no táxi comigo.

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