Capítulo 3

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O apartamento de Ethan não poderia ser mais... Ethan. É bonito e espaçoso, com uma bela janela na sala iluminando todo o ambiente. Mas, sóbrio, frio e monótono. O sofá preto de couro e a mesinha de vidro na sala são caros e sofisticados. Tudo ali é minimalista, como se nada fosse bom o suficiente para habitar o mesmo espaço que Ethan Lloroy. Eve se senta despreocupadamente no grande sofá, enquanto o filho se dirige para outro cômodo, talvez a cozinha ou uma sala de jantar. Apesar de curiosa, prefiro ficar de pé na porta, segurando o Sr. Pepper. Vai que encosto em alguma coisa e quebro sem querer, o fofo do Ethan me mandaria a conta do conserto pelo correio.
- Venha, Elisa, sente-se aqui. - Eve me chama, ligando a bela TV colocada acima da lareira a gás. - E pode soltar o Srs Pepper, juro, ele não vai quebrar se pisar no chão.
Sorrio ao perceber que segurava o animalzinho com mais força que o necessário. Permito que ele pule do meu colo para se perder pela casa, talvez tenha ido até sua caminha de mil dólares em algum cômodo mais caro ainda da casa. Desconfortável, me acomodo na ponta mais distante do sofá, no mesmo instante em que Ethan reaparece segurando um kit de primeiros socorros. Nossos olhos se encontram, mas eu desvio rapidamente fingindo interesse no programa da TV.
A reprise de algum antigo episódio de Cake Boss não prende minha atenção. Na verdade, todo meu corpo implora para que eu observe Ethan e eu cedo, porque se tem algo que anda me faltando é força de vontade para resistir a qualquer coisa. Ele está de joelhos, com um algodão na mão. De frente para mãe, limpa com cuidado os ferimentos causados pelo tombo e com uma voz calma e baixa, conversa com ela. Olhando assim, ele parece muito diferente do playboy do saguão. É cuidadoso e preocupado, suas feições até relaxam quando ela faz alguma piada e ele fica muito, muito bonito quando sorri.
Tem algo de diferente em Ethan. É como se ele tivesse coberto todo o corpo com cimento e deixado o ser humano que é guardado dentro de si, revelando-se apenas nos pequenos detalhes, como agora, enquanto cuida da mãe. Seus olhos azuis estão concentrados, suas mãos são ágeis e ele sabe muito bem o que faz, como se tivesse feito isso muitas vezes antes. O sorriso de Eve é tão intenso que me faz querer sorrir para ela. Acho que ser cuidada pelo seu menino é o maior presente que ela poderia receber neste Natal.
Ethan termina o curativo com um beijo na testa da mãe e um meio sorriso que derreteria qualquer coração. Menos o meu. Talvez só um pouquinho. Antes que ele possa se levantar, a senhora lhe segura o braço, trazendo-o mais para perto para lhe sussurrar ao pé do ouvido. Ethan primeiro levanta as sobrancelhas e fecha a cara. Eles se encaram por um minuto, sem dizer nada.
Olhos azuis contra olhos azuis, travando uma batalha que nenhum dos dois deseja perder. Por fim, Ethan suspira, ganhando um sorriso da mãe. Seja qual for a guerra, Eve ganhou de lavada.
O homem se levanta, arrumando o suéter. Seus olhos procuram os meus e eu aceito o contato. Parecem mais brandos, mas não muito mais felizes. Ele limpa a garganta e balança o corpo duas vezes antes de falar.
- Eu gostaria de me desculpar pela indelicadeza de mais cedo, Elisa. - Eu apenas o encaro. Ele realmente está falando sério? - Eu estava nervoso e acabei sendo rude. Então, para me desculpar e te agradecer gostaria de te convidar para almoçarmos, bem, tipo, agora.
Qual é a pegadinha? Porque, sinceramente, ele só pode estar brincando. Olho para Eve que sorri tanto que falta dar pulinhos e bater palmas. Volto meu olhar perplexo para Ethan que espera com as mãos no bolso. Ele está envergonhado? Ou apenas infeliz por ter que acatar uma ordem da mãe?
- Olha, se você tiver que fazer outras coisas, tudo bem...
Eu realmente não sei como responder. Seria legal almoçar com ele? Sim, talvez. Principalmente porque não faço uma boa refeição há tempos. Viver sozinha da nisso, ou você come comida congelada ou você gasta uma fortuna no mercado comprando coisas que você nem sabe como cozinhar.
- Você tem o dia livre, né? Então eu pensei, não sei...
Eu queria dizer que ele não havia pensado em nada, que na verdade foi um pedido de Eve, feito aos sussurros, mas ele está ali tão bonitinho todo desconcertado, que não tenho coragem. Pelo menos Ethan está tentando, né? Poderia nem ter escutado a mãe e me enxotado dali.
Resolvo dar uma chance pro cara.
- Tudo bem.
-Tudo bem? - Ele me olha verdadeiramente surpreso e eu confirmo com a cabeça. Ele dá um meio sorriso e se vira. - Eu só preciso legar um casaco...
Ele sai apressado da sala, meio desajeitado, me fazendo achar graça do seu nervosismo.
Eve estende a mão e a seguro. Ela é ainda mais bonita sem todo aquele sangue no rosto.
-Ele é um bom menino, eu juro. - Eu concordo mesmo que ainda duvide um pouco.
Ethan reaparece vestindo um sobretudo preto e segurando um celular. Beija o topo da cabeça da mãe e murmura um "Até logo", me guiando até a porta. De lá, lanço um adeus com a mão para Eve e saio do apartamento.
No elevador não trocamos uma palavra. Ele tem a mania esquisita de ficar balançando o corpo sutilmente para frente e para trás, como se estivesse extremamente nervoso. Eu me limito a olhar para as pontas gastas da minha bota.
Estamos quase chegando ao primeiro andar, quando falamos juntos.
-Para onde...
- O que você acha de irmos...
Nos dois rimos, sem graça. Ethan coça a nuca com a mão, e o gesto me parece muito fofo. Onde estava este Ethan quando nos encontramos no saguão?
-Então, Lisa, o que acha de irmos até o Asíate? É relativamente perto daqui e servem uma comida ótima.
Eu nunca vem ouvi falar no tal restaurante, mas levando em conta que ele mora em Manhattan, deve ser um dos mais caros de Nova York. Eu sorrio e concordo com a cabeça, rezando para que ele se ofereça para pagar a conta toda e não seja um daqueles caras moderninhos que preferem dividir com a companheira.
O elevador para e as portas se abrem. Nós dois nos apressamos para sair, nos esbarrando de leve; mais algumas risadas sem graça e olhares de "Pelo amor de deus, por que eu aceitei vir?", até que ele coloca a mão nas minhas costas, me deixando sair primeiro.
Suspiro.
Estou a caminho do que será o almoço mais constrangedor do século.

Little Christmas TreeTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang