Ponto de Inflexão

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Lurien apenas concordou silenciosamente. Lá no fundo ele sabia que a irmã estava certa sobre aquilo tudo. Então os dois passaram alguns preciosos minutos apenas deitados, sem dizer uma palavra. A curiosidade do menino sobre as habilidades da irmã só aumentou, e já que Suiko parecia inflexível sobre falar a respeito disso ele começou a ponderar as possibilidades de descobrir sem envolve-la. Lucius e Michel eram suas primeiras possibilidades, apesar de que Lucius poderia estar impossibilitado por algum tipo de contrato de confidencialidade de tutoria, ele não poderia deixar de tentar. Já Michel era mais uma questão de planejamento, era imprescindível encontra-lo num momento em que Suiko não estivesse por perto, e que de preferência não estivesse para chegar, já que a conversa poderia se estender.

– Você estava lendo os livros de Amabel quando eu cheguei? – indagou ele de repente.

– E-eu... – Suiko se engasgou nas palavras com a surpresa – Sim, estava. São os livros que falam de Rafael.

– Entendi, sabe, eu até estive pensando sobre ele hoje...

– Pensando o que?

– Nada específico. É que, até onde eu sei ele teve uma vida bem difícil... E se saiu tão bem.

– Ainda essa história de ser especial?

– Não! É, mais ou menos... Bom, eu percebi que você estava um tanto nervosa em relação a ele desde que soube da viagem. – Suiko aquiesceu – Desculpa colocar assim, só me pareceu que você estava tratando-o como se fosse um vilão. Eu entendo que existem maus olhares pelo papel que ele desempenhou na nossa última guerra, mas nós dois sabemos o que realmente aconteceu...

Suiko inspirou pesadamente, demonstrou estar pensando bem no que diria a seguir. Com certeza alguma coisa em sua cabeça a estava preocupando e angustiando, mas parecia que Lurien não saberia tão cedo do que se tratava.

– Ei! – disse ela, depois de algum tempo de silêncio – Eu sei aonde isso vai dar. Rafael foi um Amaturi e tanto, teve muito poder e influência na Capital durante a guerra e nós tivemos muita sorte de ter Raziel no nosso lado na época. Sem ele a guerra teria acabado muito mal para a gente, e é justamente nisso que estive baseando meu receio; Rafael não era um vilão, mas ele via todo o Refúgio como o vilão, e por isso estava disposto a acabar com a gente.

– Independente disso tudo – Lurien resolveu interromper – ele é uma estátua agora. Não pode nos fazer nada. E estamos em paz com a Capital.

"Aliás" pensou ele "todos que queriam o fim do Refúgio foram estrategicamente tirados do poder na Capital".

– Será mesmo? – indagou Suiko, por um instante Lurien achou que ela estava questionando o que ele tinha acabado de pensar.

– O que quer dizer? – a esse ponto os dois já estavam sentados no tapete.

– Lurien, eu estou inclinada a acreditar que Rafael não é apenas uma estátua...

– Como assim? – Lurien estava genuinamente surpreso.

– Será que Amabel estaria tão animada com essa visita à Capital, para ver a estátua de Rafael se ele fosse apenas uma estátua?

– Talvez... – A ênfase que Suiko deu à palavra 'apenas' fez Lurien sentir um arrepio.

– Eu não consigo não pensar que não exista uma forma de trazer Rafael de volta. E pior, que Amabel sabe algo sobre isso.

– Suiko, de onde você está tirando essas coisas...

– Eu tive esse sonho. Eu ia te contar antes, mas acabei me deixando passar.

– Que sonho? Me conte agora.

RecomeçoWhere stories live. Discover now