Corpo

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Suiko se retirou da mesa antes dos outros e deu uma desculpa qualquer para ir para o quarto mais cedo. Ela se esforçava para disfarçar a preocupação nos olhos. Andou lentamente para o quarto enquanto pensava no que deveria fazer. Entrou no quarto, fechou a porta e parou. "Já que me perguntou será o primeiro a saber, irmãozinho". Ela deu uma olhada no próprio quarto enquanto bolava um plano, "Eu sei que ele vai meditar antes de dormir, quando todos estiverem em seus quartos eu vou até lá". Ela andou de um lado para o outro no quarto por alguns minutos antes de sentar na cama e acariciar os cabelos numa tentativa de organizar os pensamentos. Suiko então se deixou cair na cama e esperou as horas passarem, sabia ser paciente quando precisava, mas fechou os olhos e adormeceu sem querer.

Algum tempo depois ela acordou sobressaltada e pulou da cama.

– Pelos deuses! Quanto tempo se passou? – perguntou ela, a si mesma. Olhou para a janela e viu que estava bem escuro lá fora – talvez ainda dê tempo...?

Ela abriu a porta do quarto cautelosamente e verificou que não tinha ninguém por ali. Andou pelo corredor que levava ao quarto do irmão e antes de entrar espiou o relógio antigo de parede, ao ver que era madrugada a moça hesitou em prosseguir, "talvez não seja boa ideia incomoda-lo enquanto dorme" pensou ela, "Não! Eu já estou aqui e não posso desperdiçar nem um dia sequer!" Então girou a maçaneta vagarosamente até que estivesse completamente destravada, segurou-a naquela posição e empurrou a porta. Ao entrar surpreendeu-se com o irmão que ainda estava acordado, porém meditando. "Ele não percebeu a minha chegada?" Pensou ela, então se colocou por completo para dentro do quarto e fechou a porta. Depois de admirar um pouco a flor-de-lótus que o irmão fazia para meditar, sentou-se ao seu lado e chamou com a voz calma:

– Lurien.

O rapaz reconheceu a voz e abriu os olhos.

– Vai me contar o que houve? – disse ele, sem cerimônia.

– Você se acha muito espertinho, mas me ouça: tenho maus pressentimentos em relação a essa viagem.

– Como assim? – perguntou Lurien, desfazendo a pose de meditação.

– Não sei como posso explicar isso. – Suiko se acomodou de joelhos no chão em frente ao irmão – Nunca aconteceu antes, a viagem não estraga nenhum de meus planos e eu até gosto de ir à Capital, mas por alguma razão senti um tremendo mal-estar quando Lia falou que iríamos para lá durante o festival.

Lurien limitou-se a assentir. Suiko continuou falando.

– Acho que pode estar relacionado a algo que li uma vez, uma coisa que Rafael falou quando ainda dava aulas de controle de Energia no Castelo. Depois de descobrir sobre o Projeto Veiuri ele disse que os descendentes dos Veiuri teriam as habilidades mais aterradoras da história da Ilha de Prata. E tive esse sonho com ele que...

– Espera um minuto. – interrompeu Lurien – Ele realmente usou a palavra 'aterradora'?

– Suponho que sim. Não me interrompa para fazer perguntas bestas, Lurien!

– Desculpe, pode continuar.

– Eu também desconfio que a reunião envolvendo nossos pais hoje teve como tema o desenvolvimento das suas habilidades. – então ela percebeu que Lurien parecia não estar prestando atenção – Lurien! Você está me ouvindo?

O rapaz inclinou um pouco a cabeça para ver o que estava atrás da sua irmã.

– Suiko, não olhe agora, mas... – Suiko olhou imediatamente para trás e pulou de susto.

– Amabel!? Como você entrou aqui garota?

– Não é a Amabel. – disse Lurien, se levantando também – é só uma alma dela.

RecomeçoWhere stories live. Discover now