Toca

22 4 0
                                    

Lana acordou em uma sala.

Esta tinha um formato octogonal e era grande, luxuosa. Tinha o piso em bronze e as paredes douradas - enfeitadas com cortinas belíssimas.

No centro, encontrava-se quatro sofás bem dispostos. Ghunter, Giullian e Luce estavam desacordados em cada um.

A Lagarta olhou para baixo. Aquele não era só um sofá qualquer. Era o seu sofá. O que se parecia com um cogumelo, que ficava em sua antiga biblioteca.

As engrenagens foram se encaixando um pouco. 'Parlamento... Quer dizer que, depois que nós fomos embora, os revolucionários fundaram um Parlamento... E eles nos localizaram... E se conseguiram esse sofá...' Seus olhos se arregalaram. 'Conseguiram achar a minha biblioteca. E as Flores do meu povoado.'

Se pôs de pé, em alerta. Haviam conseguido tirar o feitiço de proteção que havia posto em sua vila, antes de toda aquela história estranha começar.

Arrepiou-se de medo. O quê teriam feito com as Flores? Teriam sido consideradas conspiradoras, traidoras, cúmplices da Lagarta?

"Não. Não!" Lana tentou abrir a janela. Inútil.

Tacou todos os tipos de feitiço que conhecia para sair dali. As paredes estavam cercadas com um contra-feitiço.

O desespero a dominou. Tarde demais. Seu julgamento chegara. Conseguira fugir por tempo mais que o suficiente.

Olhou para Ghunter, Giulliane e Luce, lacrimejando. Era o fim.

Ghunter se inquietou um pouco com todo o barulho que Lana fizera. Acordou aos poucos, também tentando entender onde estava e o que estava acontecendo.

Lana esperou a linha de raciocínio de Ghunter se completar, sentada no chão.

"Não vamos conseguir sair daqui, não é?" Sussurrou o Gato. Lana negou com a cabeça.

"Desculpe." Sussurrou Lana, cabisbaixa. Não se preocupou em domar suas lágrimas desta vez. "Desculpe."

Ghunter foi até ela, ajoelhando-se em sua frente. "Ninguém está te culpando, Lana. Você fez tudo o que pôde e um pouco mais."

Lana soltou um suspiro exasperado e o abraçou. "Eu peço desculpas a você."

"Você não tem que se desculpar."

"Tenho sim." Teimou a moça. "Todo esse tempo, vim me dedicando de corpo e alma àqueles que amo. Mas por algum motivo mesquinho, sempre faço questão de te desprezar, de te diminuir, te deixar de lado."

Ghunter ouviu a tudo silencioso.

"Mas só faço isso porquê você me afeta, Ghunter. Você me faz sentir insegura, exposta, fraca. Acho que de todos aqui... Você é o único que conhece minha fratura exposta. Que me conhece atrás de toda a idealização da Lagarta. Da amiga que vai solucionar os problemas de todos, a imbatível e invencível."

Lana tentou domar seu soluços ao máximo, sem sucesso. Falava isso apertando-o cada vez mais forte.

"E por isso... Eu te odiei. Por muito tempo, Ghunter. Você derruba as minhas barreiras, e eu odeio isso."

Ela se afastou para olhar em seu olhos. O rapaz parecia abatido.

"Mas você é importante pra mim. Muito importante. Eu gosto muito de você. Você é a minha família." Lana enxugou o rosto. "Desculpe por só ser capaz de admitir isto agora."

Para sua surpresa, Ghunter deixou escapar um sorriso trêmulo.

Em seu diálogo, os feiticeiros não haviam notado o despertar de seus outros dois amigos. Giullian e Luce se entreolharam, receosos.

A LagartaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora