Tapete Vermelho

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De dentro da carruagem escarlate que partia apressada, Lana assistiu a paisagem de destruição.

Claro que a guarda vermelha não havia sido burra o suficiente para incendiar nenhum bosque. Tal ato seria o mesmo de cometer suicídio.

O País das Maravilhas era um universo mágico. E a esmagadora maioria não só da população, como dos seres mágicos, vive na Floresta. Se alguma coisa ruim acontecesse com seu lar, até mesmo com uma única árvore, a destruição da revanche seria inimaginável.

Seres mágicos tendem a ser muito excêntricos.

Por isso, a Rainha e seu exército atacam, ameaçam e aterrorizam exclusivamente camponeses - ou seja, as flores.

As flores eram, de longe, os que mais sofriam com seu reinado. Não é a toa que Lana fazia questão de contratar tantas.

Da estrada, conseguia ver guardas invadindo casas e jogando flores na rua. Truculentos - como sempre - tentavam impor sua superioridade.

Como se isso já não fosse jogado na cara de todos, todos os dias.

Um dos guardas estava dentro da cabine, junto de Lana. Mas a início ela não deu muita atenção e também não estava interessada em puxar assunto.

Esboçou um sorriso ao afastar seu olhar do caos de sua janela. Lewis chamava os guardas de Cartas.

Concordava com a metáfora do escritor, é claro. Só não sabia que um jogo poderia ser tão perigoso.

Abaixando a cortina, refletiu sobre o motivo de Victoria querer vê-la. Já era familiarizada com sua forma de convocar alguém ao Palácio - no mínimo 5 flores dos arredores saíam sem suas cabeças - por isso não havia se assustado tanto ao receber Marta esfaqueada em seu braços.

E já conhecia Victoria pessoalmente, de outros momentos. Teve essa infelicidade.

Lana era uma das melhores feiticeiras da Floresta. Por isso Victoria gostava de vender a propaganda de que tinha a Lagarta sobre controle.

Mas é claro que só sua Corte acreditava nessa versão. Afinal, se fosse mesmo verdade, Alice jamais teria conseguido sair do País das Maravilhas.

O guarda sentado ao seu lado também abaixou a cortina, como se não aprovasse a cena também. Tal ato pegou a Lagarta de surpresa.

Resolveu olhar o carta mais atentamente, intrigada. Só então reparou que não era um dos dois guardas de copas que a havia escoltado.

Era um guarda de paus. Sua armadura era negra, como seus cabelos. Tinha olhos verdes intensos, que contrastavam de sua imagem sombria.

"Não. Eu também não gosto disso." Disse ele, ao reparar o olhar da Lagarta em sua direção.

Não sabia com o que ficava mais abismada: por ver um soldado sensibilizado ou por estar sendo conduzida por um guarda de paus.

Os guardas de paus normalmente trabalhavam em missões especiais. Como eram mais numerosos e de menos valia, sempre eram mandados nas batalhas mais perigosas. Os que sobrevivessem para contar história ganhariam um assento na Corte.

Por isso nunca vira nenhum. Vivo, pelo menos.

Lana gargalhou, ao perceber o que estava acontecendo. "Vir me buscar é uma missão de alto risco?"

O carta tentou conter o sorriso. "Bem... Se a Rainha julgou necessário..."

A Lagarta suspirou, revirando os olhos.

"Por mais que, se você realmente estivesse interessada em fugir, não sei se eu teria algo ao meu alcance que te impediria."

"Você tem a minha misericórdia pela sua cabeça." Retruca a Lagarta. O carta assentiu.

"Chega de pessoas morrendo por mim." Concluiu a moça.

O carta a analisou, enigmático. "Sei que Lagarta é apenas seu apelido. Ou, bem, assim espero." Disse, rindo. "Qual o seu nome?"

"Sei que Carta é apenas seu apelido. Ou, bem, assim espero" Repetiu. "Qual o seu nome?"

O carta cruzou os braços. "Ah, sim. País dos Espelhos. Quase esqueci." Passando a mão no cabelo, respondeu:

"Pan. Meu nome é Pan."

Ela sorriu. "Nome interessantíssimo. Me chamo Lana. Adoraria saber o porquê de ter ganhado esse nome!"

Pan inclinou a cabeça. "A sua animação me assusta. Está indo ver a Rainha! Por quê está feliz?"

Lana reparou que ele desviou do assunto, mas fingiu não notar. Inclinou sua cabeça para o outro lado. "Ora... Como Lewis afirma: sou louca!"

Pan a encarou com pena. 'Antes fosse,' pensava o rapaz. 'antes fosse.'

Claro que Lana não acreditava nisso também. Porém, perto da Rainha, sempre é mais proveitoso fingir ser maluco.

Aprendera isso com um grande amigo seu.

A LagartaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora